quarta-feira, 15 de abril de 2009
Afeganistão: procurando a saída
Um dos principais objetivos do tour diplomático de Obama, há alguns dias, foi angariar apoio dos aliados dos EUA na OTAN para aumentar as tropas no Afeganistão e não digo ganhar a guerra, que já se arrasta há quase sete anos, mas simplesmente chegar a uma paz aceitável com os Talibãs. Nada indica que mesmo essa meta limitada será alcançada e o cenário está começando a aparentar uma retirada iminente.
Os britânicos, não exatamente amadores em guerras coloniais, invadiram o Afeganistão três vezes e nunca conseguiram subjugar o país. Melhor fez o mais famoso veterano daqueles conflitos, o doutor Watson, que se mudou para Baker Street e de vez em quando sacava seu velho revólver de serviço para ajudar Sherlock Holmes. Cem anos depois, a catástrofe soviética no Afeganistão é bem conhecida e dispensa comentários.
A invasão do país em 2001 pela OTAN, repete muitos dos padrões anteriores. Os aliados ocuparam as principais cidades, com o centro da sua estrutura em Cabul. Conseguiram construir uma coalizão de apoio relativamente ampla e encontraram um líder razoavelmente capaz. Mas essas bases promissoras não foram suficientes para prender os líderes dos Talibãs e da Al-Qaeda, que desapareceram nas regiões montanhesas do país ou na terra de ninguém controlada pelas tribos pashtun entre o Afeganistão e o Paquistão. A pouca disposição em investir em infraestrutura e desenvolvimento significou pouco mais que esforços cosméticos para reformar escolas e postos de saúde.
O governo americano resolveu aplicar no Afeganistão uma estratégia semelhante à do “surto”, que havia sido bem-sucedida no Iraque. Basicamente, trata-se de aumento de tropas conjugado com trabalho político mais eficiente junto à população, como a formação e treinamento de milícias de segurança locais. Seu principal arquiteto foi o general David Petraeus, talvez o mais brilhante oficial da ativa no Exército americano, e atual comandante regional para a Ásia Central. O problema é sua atuação na guerra iraquiana foi facilitada pelo chamado despertar sunita, a revolta desse grupo contra a presença da Al-Qaeda no país. Nada disso existe no Afeganistão.
Além disso, no Iraque os EUA conduziam as operações com uma coalizão largamente simbólica, mas no Afeganistão há problemas efetivos em negociar com a aliança ocidental, a OTAN, cujos membros têm mostrado antipatia crescente pela permanência na guerra, que se tornou impopular entre o eleitorado. Também há o cenário regional na Ásia Central, com a desintegração do Paquistão (que na prática está cedendo controle do território para os Talibãs) e a influência cada vez do maior do Irã, que já começa a ser cortejado até pela diplomacia americana como possível mediador do conflito.
Com o Iraque e o Afeganistão destruídos, o Paquistão em profunda crise política e Israel cada vez mais dividido em suas contradições internas, o Irã nuclearizado pode muito bem emergir como o grande vencedor geopolítico no Oriente Médio da política externa americana do pós-11 de setembro.
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2 comentários:
caro santoro,
depois de ler vários artigos do correspondente de guerra robert fisk do britânico the independent, e de ter lido, recentemente, o portentoso "a grande guerra pela civilização-a conquista do oriente médio", publicado pela planeta,nada mais falso do que a guerra contra o terror está dando certo no iraque ou que poderá ter êxito no afeganistão.
e mais. a estratégia de israel e seu poderoso lobby nos esteites está fadada a uma tragédia que aumenta no dia a dia, tanto nos teritórios palestinos ocupados como também nos assentamentos judeus e no restante do país.
a solução política nos referidos países, creio que não será resolvida pela demonstração bélica do novo poderio colonial do mundo, isto é, os estados unidos da américa.
abçs
Salve, Carlos.
Quero muito ler o livro do Fisk sobre o Líbano e sem dúvida ele é uma grandes vozes sobre o Oriente Médio, com a importância extra de ser uma opinião contra a corrente, o que sempre é saudável.
Abraços
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