quarta-feira, 25 de agosto de 2010

John Adams



Um aluno me emprestou a minissérie “John Adams”, do canal HBO, uma excelente telebiografia de um dos pais fundadores dos Estados Unidos, que acompanha o período da Revolução Americana e dos primeiros e turbulentos anos de vida independente do país. Adams era um advogado de Boston que foi deputado no Congresso que decidiu pela separação das 13 colônias do Império Britânico, organizou o exército continental comandado por George Washington e serviu a jovem nação como diplomata na França, Holanda e Grã-Bretanha.

Adams é interpretado por Paul Giamatti, excelente ator que retrata o político como um homem atormentado por dúvidas e frustrações, mas capaz de grande perseverança. Fascinante ver as transformações e o amadurecimento do personagem, em especial quando ele é eleito presidente – o segundo, sucedendo Washington – e assume a responsabilidade em manter os EUA fora das guerras napoleônicas.

A série é muito bem-sucedida em mostrar os embates que dividiram os Estados Unidos em seus primeiros anos. Adams era membro dos federalistas, o grupo que defendia um governo central forte para consolidar a independência e fazer frente aos desafios internacionais. O mais destacado de seus integrantes foi o secretário do Tesouro, Alexander Hamilton, que preconizava a criação de um Banco Nacional, que fomentaria o desenvolvimento econômico por meio do lançamento de títulos da dívida pública. Hamilton também escreveu o famoso Relatório sobre as Manufaturas, argumentando pela proteção às indústrias nascentes dos EUA, e um dos autores dos Artigos Federalistas, um clássico da Ciência Política que foi publicado como artigos em jornais, em defesa da nova Constituição americana. Na série, Hamilton é mostrado de modo hostil, como um homem ambicioso e sedento de poder, um proto-ditador.



O contraponto aos federalistas eram os republicanos democráticos (sem relação com o partido atual, que só se formou bem mais tarde, na década de 1850), dos quais o principal expoente era Thomas Jefferson (foto acima, à esquerda, com Adams). Concentrados no sul, viam com desconfiança os planos federalistas, acreditando que expressavam os interesses econômicos do norte e que acabariam por suplantar os impulsos libertários da Revolução. Preferiam uma distribuição de poder que beneficiasse a autonomia dos estados.

A política externa também dividia as duas facções. Os federalistas eram pró-britânicos e afirmavam que os Estados Unidos deveriam deixar para trás a hostilidade à Grã-Bretanha e estabelecer boas relações comerciais e políticas com o império. Os republicanos eram simpáticos à França e apoiavam sua Revolução, que viam como a continuação da experiência americana. Jefferson, o autor da Declaração da Independência Americana, ajudou a Assembléia Nacional francesa a elaborar seu próprio documento-chave, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Numa das frases mais memoráveis da minissérie, ele brinda à Revolução. Adams provoca: “Americana ou Francesa?”. A resposta de Jefferson: “They are one and the same.”

Washington era simpático aos federalistas, mas atuava como mediador entre eles e os republicanos. Nos assuntos externos, seu famoso Discurso de Despedida da Presidência alertava os Estados Unidos para os riscos de alianças permanentes e aconselhava à nação ficar fora das guerras européias, como de fato ocorreu por mais de 100 anos, até o conflito mundial de 1914-1918. É uma bela peça retórica, que não aparece na minissérie, mas o debate sobre o tema está bastante presente em cena.

Há um tema curioso que também não foi mostrado na TV. A primeira onda de sentimento anti-imigração nos EUA ocorreu na década de 1790, e veio justamente do confronto entre os dois partidos. A maioria dos novos imigrantes era favorável ao programa republicano e os federalistas acreditavam que a melhor maneira de manter sua influência era reduzir esse fluxo migratório.

A minissérie tem algumas cenas nas quais os personagens principais condenam a escravidão, mas são momentos passageiros. Omissão curiosa, visto que os embates com respeito ao tema foram uma das principais causas da guerra civil que quase destruiu o país na década de 1860.

7 comentários:

Fernando Paiva disse...

Maurício, meu caro, estou sem seu email atual! Lancei um livro de contos e quero te mandar um exemplar. Ainda mora em Brasília? Se estiver no Rio, vamos marcar um chopp para botar o papo em dia!
Abs!
Fernando Paiva
(fpaiva@centroin.com.br)

Maurício Santoro disse...

Caro,

Que ótimo ter notícias suas! Voltei para o Rio há alguns meses, te passo um email para conversarmos e você me atualizar das suas obras reunidas.

Abraços

Mário Machado disse...

Como sempre resenhas primorosas...

Márcio Pimenta disse...

Maravilha de dica e de resenha Mauricio! Este assunto me interessa muito, encomendando os DVD´s agora mesmo.

Abraços!

Maurício Santoro disse...

Salve, Márcio.

Na torcida para que o DVD seja lançado no mercado brasileiro. Acho que a série já foi exibida na HBO daqui.

abraços

Anônimo disse...

Salve, Santoro, old Jedi Master.

A pergunta que não quer calar é: Já gravou "John Adams"? ;-)

Abração.

Gabriel Trigueiro

Maurício Santoro disse...

Meu caro,

Não gravei, mas a série está viva em meu coração :-)

Aliás, preciso descolar a 2a temporada de Mad Men!

Abraços