quarta-feira, 10 de novembro de 2010
Batalha Cambial em Seul
A cúpula do G-20 financeiro, que ocorre nesta semana em Seul, está marcada pela dificuldade de cooperação internacional, com semelhanças perturbadoras com os impasses políticos da década de 1930. O cerne do problema é a relutância dos principais motores econômicos mundiais – Estados Unidos e China – em ajustar suas taxas de câmbio de modo a valorizar suas moedas e tentar corrigir os graves desequilíbrios no comércio e no fluxo de capitais globais. A persistir essa situação, a tendência é o aumento do protecionismo.
O governo dos Estados Unidos anunciou há poucos dias um novo pacote de incentivo à economia, cujo elemento central é o estímulo ao crédito, por meio da redução de taxas de juros e outros instrumentos. A orientação do banco central americano repete o risco de uma nova bolha oriunda de muito dinheiro fácil circulando, a exemplo do que aconteceu com a crise das hipotecas. E é má notícia para as relações internacionais, porque pressiona o dólar para um valor ainda mais baixo e impulsiona capitais especulativos para os países emergentes, onde as taxas de juro são mais altas.
O Brasil é um caso típico. O afluxo de fluxos financeiros estrangeiros apreciou muito o real, dificultando bastante a competitividade dos exportadores (sobretudo na indústria) e a própria situação dos produtores locais, que precisam enfrentam rivais externos que se beneficiam do câmbio favorável, de menor carga tributária etc. A ação brasileira tem sido referencial para outros emergentes: medidas para diminuir a entrada dos capitais estrangeiros, como aumento do imposto sobre operações financeiras, críticas aos Estados Unidos e alerta para a necessidade iminente de controles de capitais.
A proposta apresentada pelos EUA dividiu o G-20. Basicamente, o governo americano quer que os países com os maiores desequilíbrios comerciais e financeiros assumam compromissos de mudar suas políticas. Pelos termos do rascunho, os critérios utilizados afetariam sobretudo a China (grande superavitária) e deixariam de fora a Alemanha, pelo truque de usar indicadores regionais da União Européia. Outros superavitários incluem exportadores de commodities, como Arábia Saudita e Rússia.
Dito de outra maneira, os Estados Unidos querem que os demais países façam sacrifícios, ao mesmo tempo em que seguem com políticas domésticas que prejudicam as nações emergentes. Daí a crítica de seus principais parceiros e o provável impasse em Seul.
O acontecimento mais surpreendente da semana foi a declaração clamando pelo retorno do padrão-ouro como modo de organizar o sistema monetário internacional, feita em artigo assinado pelo presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick. O ouro foi a âncora da estabilidade econômica global do século XIX, mas as experiências das guerras mundiais e da Depressão foram no sentido de que ele havia se tornado rígido demais para o mundo contemporâneo. O argumento de Zoellick é que ouro voltou a ser um referencial importante de solidez num mundo de intensas mudanças financeiras. Não me convenceu, mas estou curioso para acompanhar o debate.
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4 comentários:
Olá, Maurício. Você irá comentar alguma coisa sobre a "Reforma da ONU"? Este é um assunto que será comentado no G-20, não é?
Abs.
Salve, Karin.
Não, a reforma da ONU está fora do debate prático neste momento, embora tenha estado em voga há alguns anos.
Há no entanto uma discussão forte para a reforma das instituições de Bretton Woods, em especial do FMI, no sentido de aumentar a participação das nações em desenvolvimento.
Abraços
Olá, como posso entrar em contato com vc, por favor?
Salve, Dan.
Pelo email mauriciosantoro1978@gmail.com
Abraços
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