quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Terrorismo à Americana



O atentado contra a deputada americana Gabrielle Giffords (foto) é uma demonstração assustadora do nível de polarização política no país. No entanto, é difícil acreditar que o ataque tenha impacto significativo na des-radicalização dos debates. As causas são muito profundas e dizem respeito ao acirramento das desiguldades sociais e da erosão da classe média dos EUA ao longo dos últimos 30 anos.

Giffords era um alvo improvável para um atentado. A parlamentar pertence a ala mais conservadora do Partido Democrata e havia discordado do governo Obama em temas importantes como controle de armas e orçamento. O que a tornou vítima do ataque foi, provavelmente, sua posição contrária à polêmica lei de imigração do Arizona. Embora a deputada defenda medidas mais rigorosas, não endossou a legislação aprovada pelo estado.

O perfil do atirador se parece com o de tantos jovens violentos, descontrolados e mentalmente perturbados que cometem esse tipo de massacre. Há muitas semelhanças entre Jared Loughner e os pistoleiros dos atentados em escolas e universidades, como Columbine no Colorado. O que espantou em Loughner foi sua eficiência como assassino: matou seis pessoas (incluindo uma menina de 9 anos) e feriu 14. Giffords foi ferida na cabeça e sua recuperação é incerta.

Segundo os relatos de parentes e amigos, Loughner não era muito interessado em política. Podemos especular sobre o que o levou a cometer um atentado contra um comício onde o alvo principal era uma deputada. Ataques desse tipo são raros nos EUA, os últimos ocorreram no século XIX, nos anos de extrema tensão que antecederam a guerra civil, e no período posterior a ela, quando parlamentares negros foram agredidos.

É preciso um quadro de enorme polarização para transformar um solitário arredio como Loughner num terrorista político que tem como vítima uma democrata conservadora, muito longe do perfil de uma extremista de esquerda. Não é algo que venha do Tea Party, ou da reação de movimentos populistas a Obama. Nos anos 90, vale lembrar, houve atos semelhantes, como a explosão do prédio federal em Oklahoma.

Penso que não há uma ligação precisa do tipo causa-e-efeito - a lei de imigração do Arizona talvez seja o estopim mais próximo. Trata-se antes de um reflexo violento do clima de ansiedade, medo e desencanto que tomou conta dos Estados Unidos. Efeitos agravados pela persistência da crise econômica e com as reações assustadas dos segmentos mais conservadores ao declínio dos EUA e às mudanças na política, como a ascensão de Obama.

Diante desse quadro, não espanta que os progressistas nos Estados Unidos sonhem com um país melhor e outro modelo de nação.... como o Brasil.

4 comentários:

Anônimo disse...

O artigo da Arianna é além do ridículo. Ela veio para o Brasil, jantou com o Armínio Fraga, com a herdeira do Itaú e com autoridades do governo e voltou para a casa cantando as glórias brasileiras.

Apenas mostrou o quão out of touch são os ‘progressistas’ americanos. Somente um nefelibata para imaginar que um americano médio consideraria a qualidade de vida de um brasileiro médio aceitável (não estou falando nem invejável).

São muito raros os executivos americanos que cobram um prêmio menor que 50% de seus salários em Cleveland, Ohio para viver no melhor bairro de São Paulo ou Rio de Janeiro.

Maurício Santoro disse...

Anônimo,

Arianna não comparou a renda per capita ou os indicadores sociais do Brasil e dos EUA, apenas chamou a atenção para a diferença das expectativas e atitudes dos respectivos povos com relação às suas possibilidades para o futuro.

O centro do texto dela é que a esperança de que os filhos tenham um melhor padrão de vida do que os pais está muito forte no Brasil, mas em crise nos EUA, onde as pessoas têm medo do declínio no padrão de vida.

abraços

Mário Machado disse...

Dr.

Eu achei francamente vergonhoso que se tenha transformado a indignação natural com um ato vil em uma operação de caça a Palin.

Mas, políticos são como tubarões se pararem afogam...

Abs,

Maurício Santoro disse...

Salve, Mário.

Não vejo que isso tenha acontecido. O discurso de Obama sobre o atentado foi bastante moderado, evitando explicitamente culpar o clima de polarização política e pedindo reconciliação ao país.

O Tea Party tem sido muito eficiente em mobilizar a base do partido Republicano, mas continuo cético com relação ao movimento conquistar o eleitor centrista, em particular nesse clima de violência política nos EUA.

Abraços