sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
Bahrein: a revolta dos xiitas e a 5a Frota
É a primavera dos povos árabes e o Oriente Médio e o Norte da África passam pela mais impressionante onda de protestos de sua história: Argêlia, Líbia, Tunísia, Egito, Iêmen e agora Bahrein. Essa pequena ilha, com menos de um milhão de habitantes, tem duas características que lhe dão grande importância: é nação de maioria xiita e sede da V Frota da Marinha de Guerra dos Estados Unidos - a principal base naval americana no Golfo Pérsico.
A maioria dos muçulmanos é sunita, mas os xiitas são maioria no Irã, Iraque, Líbano, Bahrein, Azerbaijão e minoria significativa na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Síria, Paquistão e Afeganistão. O caso do Bahrein é uma combinação étnica explosiva: 70% da população é xiita, governados por uma monarquia sunita, centrada na família Al-Khalifa, que invadiu o país no século XVIII, vinda do Catar. O país tem sido palco de diversas revoltas que mesclam a agenda democrática com a questão religiosa, e isso tornou-se particularmente intenso após a Revolução Islâmica (xiita) no Irã, em 1979, pois os aiatolás tentaram depor o rei do Bahrein.
Na década de 2000, a dinastia Al-Khalifa tentou reformas. Foi criado um parlamento, com poucos poderes, para tentar aproximar o rei dos líderes religiosos e políticos mais importantes. Os cargos mais importantes do Estado seguem exclusivos da família real. As mudanças sociais foram mais impressionantes, com grande difusão da alfabetização, expansão da classe média e aumento da participação feminina na vida pública.
A repressão aos protestos no Bahrein tem sido particularmente selvagem, com execuções sumárias, tortura de manifestantes e um ataque feroz da polícia a uma procissão fúnebre que acompanhava um homem morto no início da revolta. É fácil compreender o medo dos Al-Khalifa: a rebelião não é somente uma ameaça ao regime autoritário, mas à própria monarquia. Além da repressão, o regime adotou medidas heterodoxas para tentar conter a insatisfação popular, como distribuir quase US$3 mil a cada cidadão. Não adiantou.
No Egito, Mubarak era um aliado importante para os EUA por garantir a posição moderada do país com relação a Israel, e conter os radicais islâmicos. No Bahrein, a localização estratégica da ilha a faz crucial como base naval no Golfo Pérsico. Além disso, os Estados Unidos têm péssimo histórico em lidar com os xiitas no mundo muçulmano, com longos confrontos contra os aiatolás no Irã e o Hezbolá no Líbano. Os ditadores sunitas, por contraste, tem sido muito mais dóceis, no Bahrein, Egito, Jordânia e Arábia Saudita.
Um Bahrein democrático sob controle xiita seria um incentivo perigoso para pessoas da mesma fé, seja em países onde são minorias oprimidas (Arábia Saudita), uma força política majoritária, e em ascensão (Líbano, Iraque) e um aliado sedutor onde estão firmemente instalados no controle do Estado (Irã). Seria mais um passo no que Vali Nasr chamou, num livro brilhante, de "renascimento xiita".
No Egito, o prestígio das Forças Armadas junto à população ofereceu uma ótima alternativa à crise política para os Estados Unidos. No Bahrein, essa possibilidade não existe, devido à vinculação dos militares com a família real sunita.
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2 comentários:
Olá, Mauricio.
Uma questão.
Agora que os conflitos estão fortes no Golfo Pérsico, será que haverá uma intervenção do Irã?
O Bahrein já foi uma província do Irã(Pérsia, ou seja, o único país xiita pode querer apoiar a maioria da população que também é xiita no Bahrein.
Abs
Salve, Israel.
Se o serviço de inteligência iraniano faz jus ao salário que recebe, deve estar acompanhando profundamente o que ocorre no Bahrein. Os aiatolás já tentaram depor o rei, logo após a Revolução Islâmica, e podem tentar fazer isso novamente.
abraços
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