quarta-feira, 16 de março de 2011
Violência em Manama, Medo em Benghazi
Terremoto, tsunami e catástrofe nuclear no Japão deslocaram as crises árabes do centro do noticiário internacional, mas os acontecimentos seguem a grande velocidade. Os fatos mais importantes dos últimos dias foram a intervenção militar da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes no Bahrein (foto acima, monarquias sunitas ajudando seus aliados da família al-Khalifa a conter a revolta dos xiitas) e o avanço da contra-ofensiva de Kadafi no leste da Líbia, que chegou às portas da capital rebelde, Benghazi. A Liga Árabe abandonou o ditador e pediu ao Conselho de Segurança da ONU a decretação de zona de exclusão aérea, para ajudar a oposição - algo que pode ocorrer em breve, talvez nesta quarta.
O Bahrein é uma pequena ilha com cerca de 700 mil habitantes, mas sua importância política é grande: rico em petróleo, localizado estrategicamente no Golfo Pérsico, maior base naval dos Estados Unidos e uma bomba-relógio de violência sectária, com 70% da população formado por xiitas, discriminados pela aristocracia sunita e proibidos de assumir cargos importantes no Estado.
As conservadoras monarquias da região entendem a ameaça que uma rebelião que misture democracia e xiismo representa para seus regimes, por isso enviaram dois mil militares para auxiliar os Al-Khalifa a reprimir os revoltosos. O caso é particularmente grave para a Arábia Saudita, que tem expressiva minoria xiita nas províncias petrolíferas à beira do Golfo, e que enfrenta ela mesma protestos dos clérigos locais contra a dinastia Saud. Os Estados Unidos pressionam o rei do Bahrein para iniciar reformas políticas, até agora sem sucesso. Em reação à intervenção militar estrangeira, os manifestantes intensificaram suas ações, reprimidas com extrema violência pelo governo. Há chances de um banho de sangue na capital, Manama.
Kadafi continua sua contra-ofensiva no leste da Líbia, com mais vitórias militares. Está agora bastante próximo da capital rebelde em Benghazi. Os revoltosos pedem ajuda do Ocidente e a Liga Árabe faz o mesmo. Não é a primeira vez que a organização abandona um governante da região: isso aconteceu nas duas guerras dos EUA contra Saddam Hussein, quando a Liga autorizou a intervenção da Síria no Líbano (mascarada de operação multinacional pela presença minoritária de tropas de outros países) e até certo ponto pela missão da ONU no Sudão, que culmina atualmente com a secessão do sul do país.
A Liga suspendeu o governo Kadafi da organização, mas não reconheceu oficialmente os rebeldes como representantes do governo da Líbia. A situação do país continua instável, pendente do xadrez tribal que o ditador maneja com habilidade. Ele tem conseguido manter fora da rebelião a maior tribo nacional, os Warfala, que sozinhos são quase 20% dos líbios. O grupo tentou um golpe contra Kadafi em 1993 e foi duramente reprimido, seus líderes pensaram duas vezes antes de embarcar em outro ataque contra o regime autoritário.
Um cerco a Benghazi é iminente. Nas condições atuais, é improvável que os rebeldes consigam derrotar Kadafi sem ajuda estrangeira e a captura de Benghazi detonaria uma crise humanitária, com os opositores líbios fugindo do país para escapar da vingança do ditador.
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2 comentários:
Apesar deu achar que pouco adianta, foi aprovado o bloqueio aéreo (no-fly zone) à Líbia. 10 votos a favor e 5 abstenções (Brasil, Índia, Rússia, China, Alemanha).
A posição brasileira pelo silêncio não me surpreende, já a da Alemanha sim.
Agora é esperar para ver os estragos da vitória do Ggadafi.
Salve, Marcelo.
Pois é, vi as notícias agora há pouco na TV. Os BRICs votaram em conjunto e o Brasil manteve sua postura tradicional de evitar o apoio a intervenções militares.
A Alemanha tem tido posições muito cautelosas desde o início das revoltas árabes, em grande medida porque seu abastecimento de energia é mais ligado à Rússia do que ao Oriente Médio. E ao contrário da França e do Reino Unido, ela não tem um passado colonial na região.
Abraços
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