sexta-feira, 24 de junho de 2011
Dudamel, El Sistema e uma Noite Mágica
Há trinta anos um grupo de músicos liderado pelo maestro e empresário José António Abreu fundou na Venezuela o Sistema de Orquestras Juvenis, um projeto social e musical que atendeu a cerca de um milhão de pessoas em três décadas. O jovem regente Gustavo Dudamel tem a mesma idade dessa iniciativa, nela cresceu e já é um dos maestros mais famosos e admirados do mundo, pela força e energia inovadora que coloca em seus espetáculos. Ontem assisti no Theatro Municipal do Rio de Janeiro à sua apresentação à frente da Orquestra Sinfônica Simón Bolívar. Foi uma noite mágica.
El Sistema, como é conhecido o projeto, nasceu como uma organização não-governamental, ms foi rapidamente assumido pelo Estado venezuelano, como Fundação. Tornou-se raro exemplo de política pública estável e bem-sucedida em meio ao vendaval político do país nos últimos 20 anos. El Sistema é especial não apenas pela abragência e duração de seu atendimento social – 90% dos jovens que participam do projeto são de famílias pobres – mas pelo altíssimo nível técnico e artístico das orquestras, em particular a Simón Bolívar e a Teresa Carreño.
Dudamel literalmente cresceu no projeto, filho de músicos que o integraram. Com apenas 30 anos, ele já tem destacada carreira internacional, tendo regido orquestras na Suécia (Sinfônica de Gotemburgo) e Estados Unidos (Filarmônica de Los Angeles). Ele permanece na Simón Bolívar como diretor musical e é reconhecido por seu estilo impetuoso, que lembra o de um astro de rock, e por suas práticas inovadoras como fazer os músicos dançarem e bailarem com seus instrumentos. Sua performance eletrizante com o “Mambo” de “West Side Story” virou marca registrada (ver vídeo abaixo).
A apresentação a que assisti é parte de uma turnê sul-americana da Simón Bolívar, que também inclui São Paulo, Cidade do México e Buenos Aires. O espetáculo foi sensacional, marcado pela grande simpatia e calor humano dos músicos venezuelanos, que acenaram com bandeiras do Brasil e vestiram os casacos atirados ao paloco por uma orquestra juvenil brasileira, criada em moldes parecidos com os de El Sistema.
O carisma de Dudamel é evidente, desde o momento em que pisa o palco sob gritos entusiasmados da platéia. Ouvimos excelente programa, com Ravel, Stravinski e dois compositores latino-americanos, o venezuelano Evencio Castellano (Santa Cruz de Pacairigua) e o mexicano Carlos Chávez (a belíssima Sinfonia India).
O “Mambo” foi pedido no bis, aos berros, e foi extraordinário. É fascinante ver a música erudita ser reinventada e revigorada por um profissional tão jovem e tão talentoso, e tanto melhor saber que esse deleite artístico é fruto de um ótimo projeto social.
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6 comentários:
http://pqpbach.opensadorselvagem.org/ludwig-van-beethoven-1770-1827-sinfonia-no-5-em-do-menor-op-67-e-sinfonia-no-7-em-la-maior-op-92/
Obrigado, Milton. Na quarta o Dudamel apresentou a sinfonia n. 7 de Mahler e parece que foi ótimo.
abraços
Tinha visto no Youtube a performance de Mambo e fiquei arrependidíssima por não ter ido... É contagiante. Impressiona a consistência - e sucesso - do projeto venezuelano, por todo o contexto conturbado do país, e, inevitavelmente, eu me pergunto as razões pelas quais o Brasil não leva profundamente a sério ações como essa (nas artes e no esporte)... Não espera-se que sejamos um exemplo no continente?
Oi, Carol.
Pois é, e foi tão boa no Municipal quanto a que está no vídeo. Realmente de arrepiar.
O modelo do projeto me pareceu bastante simples de ser reproduzido, e há pessoas sugerindo iniciativas semelhantes inclusive nos EUA.
abraços
Oi,Maurício!
Que linda a apresentação! Deve ter sido uma noite fascinante mesmo!
Abraços.
Salve, Karin.
Foi inesquecível!
beijo
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