sexta-feira, 10 de junho de 2011

O Porta-Aviões da China



Nesta semana o governo da China confirmou que constrói seu primeiro porta-aviões e que ainda este ano ele fará seus testes iniciais de navegação. Não era exatamente um segredo – o navio está à vista da população na cidade de Dalian – mas o anúncio confirma a mudança na estratégia naval chinesa. Pela primeira vez em 150 anos, o país investe numa Marinha de Guerra com capacidade de projetar poder em águas internacionais, longe de sua costa.

O império chinês era baseado em exércitos terrestres e deu pouca atenção à expansão naval, mas no século XV teve uma marinha impressionante, que operava no Pacífico e no Índico e chegou até à África Oriental, antes dos portugueses. Contudo, as turbulências internas do império levaram ao abandono do projeto. No século XIX, os novos navios europeus a vapor e com couraças de metal destruíram as frágeis embarcações chinesas nas guerras do Ópio e abriram o caminho para as concessões estrangeiras que perduraram até a revolução comunista de 1949.

Por 40 anos desde então, as tarefas da marinha comunista estavam concentradas na defesa da costa e nas patrulhas do estreito de Taiwan, bem como dar apoio a uma eventual retomada da ilha pelo governo em Pequim. Isso mudou com o fantástico ritmo de crescimento econômico a partir das reformas de Deng Xiaoping. O afluxo de recursos financeiros ao Estado permitiu a modernização das Forças Armadas – que aprenderam com o colapso da URSS e os sucessos militares dos EUA na Guerra do Golfo a importância de concentrarem-se no desenvolvimento tecnológico.

O cerne da nova marinha são os submarinos nucleares – clássica arma de dissuação, voltada para conter o poder dos EUA na região. Mas os novos interesses chineses também estão presentes em outros mares, nos recursos naturais oriundos da África e do Oriente Médio, nas rotas de navegação que atravessam o Chifre africano e o estreito de Málaca. Por exemplo, os chineses têm participado das patrulhas internacionais contra os piratas da Somália.



A construção do porta-aviões reforça essa tendência e o principal teatro das operações chinesas será o Mar do Sul da China (acima), com frequência chamado de “Mediterrâneo Asiático”. Pela região passa cerca de um terço do comércio global, há reservas de petróleo e gás que ainda estão sendo mapeadas (as expectativas é que sejam muito grandes) e persistem disputas de limites marítimos e contenciosos quanto à soberania de várias ilhas. Ou seja, a área tem tudo para vivenciar a eclosão de conflitos militares.

5 comentários:

Marcelo L. disse...

Prezado Mauricio,

Acho que não é surpresa para ninguém, afinal a China já tinha até assinado um acordo com Brasil para treinamento de tripulações na operação de navios-aeródromo.

Mas, mesmo construindo não é tão simples, mesmo com possíveis intercâmbios, os americanos são os únicos que tem tecnologia de catapulta e aviões de treinamento para elas, será que eles irão ajudar?

Maurício Santoro disse...

Salve, Marcelo.

Não sei se EUA e China tem acordos de cooperação militar num nível tão delicado. O porta-aviões chinês está sendo construído a partir de um navio soviético, que não chegou a ficar pronto, e imagino que tenham soluções tecnológicas próprias para a decolagem dos aviões.

abraços

Marcio Azevedo disse...

Prezado Mauricio,
Somente uma pequena retificação. Por distração você pôs 1959 como o ano da Revolução. Foi 1949. No mais o artigo está ótimo.
Abraços,

Maurício Santoro disse...

Salve, professor.

Obrigado, foi distração. Vou corrigir a data da revolução.

abraços

Anônimo disse...

Na verdade sobre este 1º porta-aviões, os próprios chineses admitem que é mais para pegar experiência no manejo de nacios deste tipo.

Mas já há rumores de que a China já estaria planejando 3 ou 4 porta-aviões para até 2020.