segunda-feira, 20 de junho de 2011
Regiões e Segurança Internacional
Meu amigo Helvécio de Jesus Júnior organizou a coletânea de artigos “Segurança Internacional: temas regionais contemporâneos”. Quatro autores, todos brasileiros, analisam crises ocorridas após a Guerra Fria na Ásia, África, América do Sul, Oriente Médio e a relação Estados Unidos-Rússia. Três dos participantes do livro são jovens acadêmicos na faixa dos 30 anos – o próprio Helvécio, Diego Santos Vieira de Jesus e Elói Martins Senhoras. O outro autor é o veterano jornalista Ricardo Bonalume Neto. A coletânea é um raro e bem-vindo exemplo de olhares nacionais sobre os principais acontecimentos da política global contemporânea.
O artigo de Helvécio aborda a Ásia como uma “região inacabada” no campo da segurança internacional, procurando compreender porque o continente não apresenta instituições sólidas nesse campo, ao contrário do que existe, por exemplo, na Europa. Para ele, há várias razões: a inexistência de uma potência hegemônica na Ásia, com rivalidades pendentes entre China, Japão, Índia, as Coréias; o passado mal resolvido das guerras locais, fronteiras ainda não definidas de todo e a estratégia dos Estados Unidos em lidar com os problemas regionais em caráter bilateral, sem criar organizações asiáticas de segurança, como na Europa. Helvécio examina as iniciativas recentes da Organização da Cooperação de Xangai e do Fórum Regional da ASEAN, mas chama a atenção para os conflitos entre China e Japão, afirmando que só será possível um nível elevado da integração na Ásia caso essas disputas sejam resolvidas.
Diego de Jesus contribui com dois artigos, um sobre EUA-Rússia e outro sobre o Oriente Médio. No primeiro, destaca a “nova relação estratégica” entre os dois antigos rivais da Guerra Fria, ressaltando as negociações para redução dos arsenais nucleares e as novas funções da OTAN. É uma agenda permeada por ambiguidades, escreve o autor, porque atravessa questões delicadas (como a aliança dos Estados Unidos com a União Européia) e o desejo russo de provar que ainda é uma grande potência. Ao tratar do Oriente Médio, faz o balanço das crises recentes entre árabes e isralenses, as guerras no Iraque e no Líbano e os impasses com o Irã, defendendo a busca de pontos de contato culturais como modo de destravar os obstáculos políticos.
Bonalume Neto examina a guerra do Congo como exemplo da africanização dos conflitos no continente, baseado em sua experiência como correspondente no país, no período em que a revolta liderada por Laurent Kabila e seus aliados em Ruanda levou à queda da ditadura de Mobutu Sese Seko, no poder havia mais de 30 anos. Mas o fim do regime autoritário não trouxe paz, o Congo virou palco de guerra que envolveu cerca de 20 grupos armados de nove países africanos, cada qual empenhado em pilhar o máximo possível dos recursos naturais congoleses.
Tive o prazer de participar de um debate com Elói Senhoras na Câmara de Vereadores de São Paulo, há alguns meses. Seu artigo fecha o livro examinando o complexo de segurança regional na América do Sul, que oscila entre a cooperação (sobretudo no “arco de estabilidade” do Cone Sul) e o conflito, marcado pelo ressurgimento de nacionalismos que por vezes dificultam a integração, e pela dificuldade de lidar com novas ameaças, como o crime organizado transnacional.
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2 comentários:
Obrigado pela resenha jogador. Espero ter congtribuido para minorar essa lacuna de estudos acadêmicos sobre segurança internacional. Mas é uma pena que a gente não tenha nenhum apoio na hora de publicar. Tem que sair tudo do bolso mesmo. Levei mais de um ano tentando e só esbarrei montanhas de burocracia.
abraço,
Helvécio.
De nada, meu caro. Espero que você escreva muitos outros, para eu ler e resenhar com gosto.
abraços
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