Está em curso no Paraguai um golpe de Estado travestido de processo de impeachment. A oposição contra o presidente Fernando Lugo usa seu controle do Congresso para tentar apoderar-se do cargo e estar no poder para manejar as eleições de 2013. O pretexto utilizado são conflitos agrários nos quais o mandatário não teve responsabilidade direta. Falei ontem à Globo News a respeito do tema, este texto aprofunda minha entrevista.
O Paraguai ainda é um país de forte caráter rural, que na última década teve significativa expansão do agronegócio, sobretudo soja e algodão. Empresas brasileiras estão muito presentes nesse setor. O processo aprofundou a concentração de terras, que tem piorado desde as manipulações da longa ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989), que distribuiu propriedades para seus aliados. Muitos pequenos camponeses perderam seus sítios e fazendas e engrossaram as fileiras de um ativo movimento de sem-terras, uma das bases de apoio a Lugo.
O presidente tem falado em reforma agrária, mas não tem feito movimentos significativos para implementá-la, às voltas com um Congresso dominado pelos conservadores e com as pressões brasileiras para proteger os interesses do agronegócio. Na semana passada, houve um conflito entre polícia e sem-terras numa fazenda pertencente a um ex-senador do Partido Colorado - grupo que governou o país por 70 anos, até a vitória do atual mandatário. Morreram 18 pessoas, de ambos os lados, e caíram o Ministro do Interior e o chefe de polícia. É esse massacre de Curuguaty que a oposição cita como pretexto para o impeachment de Lugo.
O presidente foi eleito à frente de uma frágil e heterogênea coalizão de partidos e movimentos sociais. Seu principal aliado, o Partido Liberal, passou para a oposição, embora mantenha a vice-presidência. Se Lugo sofrer impeachment, a sigla se apossa da chefia do Estado. O presidente teve apenas um voto de apoio na Câmara dos Deputados e tudo indica que a situação no Senado será semelhante.
Lugo sofreu desgaste junto à sua base pelos escândalos sexuais de seu envolvimento amoroso com mulheres quando era padre e bispo. Enfrenta também um câncer, há dois anos. Ainda assim, os movimentos sociais paraguaios reagirarm prontamente à ameaça contra o presidente, já organizam protestos em frente ao Congresso e caravanas de camponeses rumam para a capital Assunção. É uma situação tensa que pode degenerar em conflito armado.
A Unasul enviou às pressas uma missão de alto-nível formada pelos ministros de Relações Exteriores do bloco, num esforço de mediar a crise. Em momento de impactos regionais da crise global e uma sucessão de conflitos na Argentina, Peru e Venezuela, ninguém precisa de mais instabilidade na América do Sul. A pressão internacional tem sido decisiva nas crises paraguaias e conseguiu impedir outra tentativa de golpe de Estado na década de 1990. É um bom sinal que as Forças Armadas estejam calmas e se atendo a seu papel constitucional.
7 comentários:
Impressionante como as elites latino-americanas não admitem um governo popular democraticamente eleito. Sempre com a eterna subserviência a Washington.
Nunca achei o tal de Lugo um presidente dos sonhos, mas ele está lá pela via legal. Que saia de lá pelas urnas e não pelas balas, como o Tio Sam gosta de punir os que não se dobram às suas corporações.
Anônimo,
Desta vez os Estados Unidos não tiveram envolvimento no golpe e, ao menos até o momento, têm apoiado a posição da Unasul de rechaçar a quebra da democracia.
abraços
Caro Amigo e Mestre Mauricio
Discordo de que o que estah acontecendo no Paraguay seja um golpe de estado.
A constituicao daquele pais estah sendo obedecida quanto ao processo de julgamento politico (impeachment) e o proprio Fernando Lugo declarou isso.
Cada pais tem particularidades em seus textos constitucionais e que tratam de modo diferente as medidas de impedimento de seus governantes.
O congresso pataguaio, vale lembrar, tambem foi eleito por meio do voto popular.
No Brasil tivemos um presidente da republica que tambem foi julgado com base na nossa constituicao e perdeu seu mandato sem que houvesse acusacao de golpe.
A meu ver, do mesmo modo que houve um e orme equivoco ao se classificar de golpe o que houve em Honduras, estah se repetindo o que ocorre no Paraguay.
Abracos, Mauricio
Goncalez
Caro Amigo e Mestre Mauricio
Discordo de que o que estah acontecendo no Paraguay seja um golpe de estado.
A constituicao daquele pais estah sendo obedecida quanto ao processo de julgamento politico (impeachment) e o proprio Fernando Lugo declarou isso.
Cada pais tem particularidades em seus textos constitucionais e que tratam de modo diferente as medidas de impedimento de seus governantes.
O congresso pataguaio, vale lembrar, tambem foi eleito por meio do voto popular.
No Brasil tivemos um presidente da republica que tambem foi julgado com base na nossa constituicao e perdeu seu mandato sem que houvesse acusacao de golpe.
A meu ver, do mesmo modo que houve um e orme equivoco ao se classificar de golpe o que houve em Honduras, estah se repetindo o que ocorre no Paraguay.
Abracos, Mauricio
Goncalez
Eis uma situação esquisita.
Claro que o impeachment tem jeito de tramoia política da oposição, mas chama a atenção não só o fato de Lugo ter aceito a decisão - mas também muitos de seus supostos aliados terem lhe puxado o tapete.
Segundo, a aproximação dos EUA com a Unasul ao não aprovar o impeachment. Não que os norte-americanos queiram sabotá-la, mas sempre imaginei que fossem contrários a uma entidade majoritariamente formada por populistas de esquerda.
Veremos o que acontece nos próximos meses - e não podemos descartar nada depois de ver Lula afagando Maluf em troca de migalhas de apoio...
Salve, Gonçalez.
O impeachment é um processo político, mas que respeita as características básicas de uma ação judicial, como o direito de defesa. Lugo teve apenas 2 horas para apresentar sua versão. Até os indicados ao paredão do Big Brother tem uma semana!
Se a oposição tivesse seguido as normas apropriadas e organizado um impeachment em, digamos, um mês, não teria havido rejeição internacional como ocorre agora. Mas eles temiam, acredito, que num intervalo de tempo mais longo o presidente pudesse mobilizar apoio popular em sua defesa.
Olá, Diogo.
Faltava apenas um ano para Lugo terminar o mandato, ele está doente, com câncer, e sem ânimo para travar uma batalha política pela presidência. Ou assim aparenta, ao menos.
Os Estados Unidos estão bastante prudentes, querem evitar o desgaste que tiveram em Honduras, e deixar a crise a cargo dos países da Unasul.
Abraços
Caro Mauricio
A forma sumaria com que se deu o processo, tambem ela, seguiu estritamente o rito constitucional paraguaio.
Gostemos ou nao, achemos estranho o fato ou nao, trata-se de respeitar a soberania daquele pais. O Brasil e nossa diplomacia, mais uma vez, estah indo alem de suas sandalias nessa questao.
As instituicoes continuam a funcionar normalmente no Paraguay. A Igreja catolica, o Poder Judiciario e as Forcas Armadas declararam que o processo foi legitimo. Nao ha carros blindados nem soldados nas ruas de nenhuma cidade do pais, fato que testifica o clima de tranquilidade em relacao ao povo paraguaio tambem respeitar a decisao do congresso (que eh, em suma, a expressao do proprio povo).
Fernando Lugo foi vitima da sua propria incompetencia e falta de habilidade politica em implementar seu plano de governo, por ter oferecido apoio informal aos grupos de bandoleiros disfarcados de sem-terra e outras acoes tipicas de varios outros governantes com vies populista-bolivariano.
O governo brasileiro deveria estar aliviado com o impeachment de Lugo, pois, quem sabe a partir de agora, nossos compatriotas "brasiguaios" venham a estar mais seguros contra a violencia dos sem-tera e do EPP.
Finalizando, se o Brasil nao aprova o regime constitucional paraguio, poderia mandar nossos iluminados congressistas para lah a fim de criarem "melhores leis" para o povo guarani.
Tenho certeza que muita gente por aqui nao iria reclamar...rs.
Abracao, Mauricio!
Goncalez
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