quarta-feira, 16 de maio de 2007

Hércules 56



Curioso como nas últimas semanas ando mergulhado em filmes e livros sobre a ditadura militar no Brasil. Não foi nada planejado, mas há uma bela oferta de atrações culturais ambientadas no período. A mais recente é o documentário “Hércules 56”, primeiro dirigido por Sílvio Darin, que aborda com inteligência e bom humor um dos atos de maior impacto da esquerda armada brasileira: o seqüestro do embaixador dos EUA, trocado pela libertação de 15 presos políticos.

Darin reconta essa história de uma dupla perspectiva: reunindo numa mesa redonda ex-militantes dos grupos que executaram a ação (MR8 e ALN) e entrevistando os presos libertados graças ao seqüestro. Do primeiro time, destaca-se o jornalista Franklin Martins, atual ministro da Comunicação Social, que dá um show de brilhantismo e lucidez. Na segunda equipe, o realce é do jornalista Flávio Tavares, que se revela um excepcional contador de histórias, capaz de recriar com maestria personagens e tensões daquela época.

Há muitas discordâncias políticas tanto entre os grupos que executaram o seqüestro quanto entre os presos libertados em troca do embaixador. Alguns acham que a luta armada se justificava em função das difíceis condições da ditadura, outros pensam que ela foi uma opção errada desde o início. Também divergem sobre a avaliação do seqüestro, muitos afirmam que ele teve efeito contraproducente, detonando uma onda de repressão de amplitude trágica, que culminou no assassinato de Marighella (episódio narrado em “Batismo de Sangue”).

O melhor é que “Hércules 56” une bom humor à discussão política, qualidade incomum nos filmes sobre a ditadura, que em geral são excessivamente sérios. O grupo que executou o seqüestro é particularmente divertido: o encontro de um bando de coroas grisalhos e meio gordinhos lembrando às gargalhadas das aventuras de juventude.

Memória e identidade caminham lado a lado, o que lembramos é um elemento fundamental daquilo que somos. “Hércules 56” é a melhor resposta às falsidades e deturpações de “O Que É Isso, Companheiro?”, versão do seqüestro narrada pela ótica de Fernando Gabeira – pena que ele não participe deste filme, seria interessante ver como corre o debate com seus ex-colegas.

5 comentários:

Anônimo disse...

Leio seu blog, tenho o meu. Gosto do que v. escreve, mas acho que tens uma impressao errada de algumas coisas. O QUE E ISSO COMPANHEIRO é sim um bom filme, mas cinema que é, nao pretende fazer papel de documentario. Nao precisa conatr a historia exatamente como ocorreu, ate por que a historia sempre chega a nos em versoes. Acho que o BB foi muito corajoso ao mostrar um oficial do Cenimar equilibrado e idealista, nao o torturador cliche que os outros filmes sobre o peiode adotaram. Houveram os Fleurys mas tambem houve gente que acreditava que estava salvando o pais ao combater aquelas iniciativas armadas, um tanto pueris.
Se a guerrilha aqui nao fosse sufocada, nao teria vencida, mas teria se tornado mais cruenta e burocratica , assim como a Argentina, e a reaçao, muitas vezes pior.

O mesmo povo que julga (e tem de julgar) os militares , la por 75, nao aguentava mais as bravatas de Roby Santucho nem a arnorogancia de Fiermenich e Cia, gente que no poder, teria morto umn umero igual ou maior de pessoas. Eu culpo principalmente Peron, que dividiu a Argentina,


HFF

HFF

Anônimo disse...

Desculpe, a primeira tentativa saiu com erros de digitaçao. Vamos la:

Leio seu blog, tenho o meu. Gosto do que v. escreve, mas acho que tens uma impressao errada de algumas coisas. O QUE E ISSO COMPANHEIRO é sim um bom filme, mas cinema que é, nao pretende fazer papel de documentario. Nao precisa conatr a historia exatamente como ocorreu, ate por que a historia sempre chega a nos em versôes, e a propria memoria é seletiva e auto indulgente.

Acho que o BB foi muito corajoso ao mostrar um oficial do Cenimar equilibrado e idealista, nâo o torturador cliche que os outros filmes sobre o periodo adotaram.

Houveram os Fleurys da vida (ou da morte) mas tambem houve gente que acreditava que estava salvando o pais ao combater aquelas iniciativas armadas, um tanto pueris.

Se a guerrilha aqui nao fosse sufocada, nao teria vencido, mas teria se tornado mais cruenta e burocratica , assim como a argentina, e a reaçao, como la, muitas vezes pior.

O mesmo povo que hoje julga (e tem mesmo de julgar) os militares , la por 75, nao aguentava mais as bravatas de Roby Santucho nem a arorogancia de Fiermenich e Cia, gente que no poder, teria morto um umero igual ou maior de pessoas, ate por que essa é a natureza dos processos revolucionario, onde , como no futebol, quem nao faz leva. Allende nao matou, nao fechou o congresso e se nao fosse deposto pelo bom Tata, teria sido pelo MIR, de su proprio sobrinho.

Na A, culpo principalmente Peron, que dividiu a o pais, como disse
o grande bandoleonista.

Maurício Santoro disse...

Oi, HFF.

Minha crítica a "O Que É Isso, Companheiro?" se dá sobretudo pela falsificação deliberada de personagens históricos, particularmente os personagens Toledo e Jonas, retratados respectivamente como um débil mental e um louco estalinista, quando na realidade eram pessoas bem mais matizadas do que isso.

Na época causou polêmica o torturador interpretado por Marco Rica, justamente por causas dos dilemas de consciência. Não gostei do personagem. A tortura é o ato mais brutal que um ser humano pode praticar contra outro e não há maneira de uma boa pessoa se envolver nessa atividade e não sair inteiramente destruída por ela.

O pai de uma amiga era tenente do Exército nos anos 60 e foi um dos piores torturadores do período, citado até em livro, denúncia pública etc. É um homem arrasado, que tenta (inutilmente) purgar seus fantasmas com litros e litros de uísque.

Não dá. Fez maldades demais para esta vida. Quem sabe na próxima.

Concordo com você que a guerrilha deveria ser combatida, tanto aqui quanto na Argentina. Os grupos da esquerda armada tinham um projeto político tão autoritário e violento quanto o dos militares.

Contudo, deveriam ser sido combatidos com investigação policial e trabalho de inteligência, não com choques elétricos, estupros, assassinatos e outras práticas nefastas do terrorismo de Estado.

Nesse ponto (como em tantos outros) os militares brasileiros estão muito atrasados com relação a seus colegas argentinos. O Exército brasileiro fala muito em se aproximar da sociedade civil, mas ao mesmo tempo se recusa a examinar seu papel criminoso durante a ditadura. È uma tremenda contradição, que nunca será superada até que os militares façam o mea culpa de seu terrorismo de Estado.

Abraços

Anônimo disse...

acho que v. venceu o debyte (nome alias do meu blog, se puder, visite.). A Italia foi dura com as Brigadas, mas nao se tem registros de barbaries e a Alemanha venceu a gand BM sem chamamr de volta a turma da SS. Alem do mais v. te,m razao, Joaquim Camra , assim como Marighela, nao era o paspalho que o filme mostra, e nao mercia ser tratado assim. Assim como Che Guevara nao era (somente ) um assasino frio como a Veja faz crer qundo critica, com razao o MR-8. ERnesto é tao precurssor de Abimael Guzman quanto do meu heroi uruguaio Sendic. Jesus deu em Francisco de Assis mas tambem deu em Torquemada.

Abcs
Helio

Maurício Santoro disse...

É curiosa a história das Brigadas na Itália. Uma amiga italiana pesquisava para uma tese comparando as violações dos direitos humanos aos brigadistas e aos presos políticos brasileiros na ilha Grande.

Quando perguntei a ela sobre como era o tratamento, ela me disse que os brigadistas eram submetidos a terríveis violações de seus direitos humanos, como... não poder tocar nos seus familiares nos dias de visita.

Bem, cada país com seu patamar de civilização...

Abraços