sábado, 26 de maio de 2007

A Nova Onda do Movimento Estudantil


No início do ano, o governador de São Paulo, José Serra, baixou cinco decretos reorganizando o sistema de ensino superior do estado, de longe o melhor do país. As medidas foram acusadas de ferir a autonomia universitária na gestão financeira, garantida pela Constituição, repassando o controle de recursos no governo estadual. Conclusão do jornalista Paulo Henrique Amorim: “a reforma para centralizar nas mãos do presidente eleito José Serra toda verba disponível e dirigi-la a obras que tornem inevitável a posse (já prevista) de Serra na Presidência da República, em 2010. “

Teoria conspiratória? Vamos à notícia publicada na Folha de São Paulo (25/05/2007: “O governo José Serra (PSDB) pretende, a partir de 2008, deixar de publicar no "Diário Oficial" do Estado, a cada trimestre, o valor dos repasses mensais previstos e efetuados para as universidades estaduais. Com isso, caso o texto enviado por Serra não seja modificado pelos deputados, fica comprometido o acompanhamento do repasse e de eventuais contigenciamentos (bloqueios) de verbas para as instituições no próximo ano.”

Ou seja, concentra verbas e esconde sua distribuição. Com certeza, tudo será para o bem do Brasil.

As atitudes de Serra detonaram uma onda de mobilização nos estudantes da Universidade de São Paulo. A reitora se recusou a recebê-los e no início de maio os alunos reagiram ocupando a reitoria. Professores e funcionários da USP entraram em greve, o mesmo ocorreu também na Unicamp. O impasse continua desde então: a justiça deu ordem para desocupar o prédio, mas como a Polícia Militar só bate em pobre, e não nos filhos diletos (ainda que rebeldes) da classe média e da elite paulistana, está todo mundo negociando.

A ação dos estudantes rompe com padrões antigos do movimento estudantil e tem desorientado parte da imprensa. Os alunos que ocuparam a reitoria não agem em nome de partidos políticos ou da UNE, fazem rodízio entre suas posições de liderança, adotam autogestão do espaço, estão perfeitamente entrosados com as novas tecnologias (chequem o blog da Ocupação) e questões como a preservação do jardim parecem ter tanta importância quanto a agenda de oposição aos decretos de Serra.

O que acontece em São Paulo reflete mudanças que tenho observado no movimento estudantil em outras partes, em particular na Europa, no México e no Uruguai. Estamos diante de novas formas de ação política, que passam pela recusa a estruturas hierárquicas e estabelecem uma relação mais forte com o local, com o território, além do aproveitamento inteligente das tecnologias de comunicação.

As dificuldades também me parecem as mesmas, a maior é estabelecer um diálogo com a população. Isso é especialmente complicado no Brasil. Com menos de 10% dos jovens na universidade, aqueles que lá estão são vistos pela opinião pública como privilegiados. Como romper esse isolamento e convencer as pessoas de que a mobilização dos estudantes também diz respeito a elas?

9 comentários:

Alessandro Ferreira disse...

Caro amigo,

PH Amorim como fonte é dureza, hein? O cara é conhecida correia de transmissão do PT. E tornou-se conhecido por sua valentia - hahahah - em malhar a Globo sempre que pode, ao mesmo tempo em que escreve biografia autorizada do atual patrão, o probo Edir Macedo. Nada mais a acrescentar sobre o sujeito.

O que espanta nesse bolo doido que se formou em SP é que até agora ninguém mostrou onde estão as tais agressões à autonomia universitária. O cerne dos famigerados decretos é a obrigatoriedade de que as universidades passem a lançar seus gastos no Siafem diariamente, como qualquer outro órgão público, e não mais mensalmente. Os magníficos são contra a medida. Por quê? Ninguém sabe. Qual o problema de prestar contas à população - que, afinal, é quem mantém a USP e todas as universidades públicas? De onde veio aquilo que a Folha publicou é mistério... o Siafem é meio muito melhor que o DO para acompanhar dinheiro dos estados e municípios (assim como o é o Siafi, na esfera federal) e pode ser fuçado livremente. Não existe isso de concentrar verba, porque o repasse é automático: as estaduais paulistas dividem 9,57% do ICMS recolhido no estado - em 2007, mais de R$ 4 bi previstos, metade (ou quase) pra USP. É bom saber onde vai essa grana, não? Mas a politicagem do tal Sintusp - braço da CUT e, por extensão, do PT - continua a pregação pela "preservação da universidade pública" e outras balelas que ouço desde 1996, quando entrei pra Uerj (é a mesma cantilena, só muda o lugar), usando os filhinhos-de-papai criados a danoninho como massa de manobra. O movimento é político, amigo, nada tem que ver com autonomia ou repasse de verba para as universidades. Aécio já é quase Lula Futebol Clube, então eles têm que esmagar o que resta de ameaça a seu projeto 'democrático', que calha de ser o sujeito eleito pra governar o estado mais importante de Pindorama - do PSDB, que absurdo!, e competente, que heresia!
A PM não entrou na reitoria - atitude que seria mais do que normal, já que há ordem judicial ordenando a desocupação do prédio - porque o próprio Serra vem impedindo, não por que a polícia só bate em pobre, mas porque é isso que os corajosos (hehehe) do Sintusp querem. Se a PM entrar, eles saem gritando "Fogo! Fogo na floresta!" e acusando violação da autonomia.
De resto, amigo, na internet há pencas de relatos de alunos contrários a essa palhaçada de ocupação da reitoria e putos por estarem sendo tolhidos em seu direito de estudar em paz. Fora as agressões dos invasores, esses democratas, a estudantes, professores e funcionários que se recusam a compactuar de seus métodos autoritários. Você deve se lembrar de como a coisa funciona para o tal movimento estudantil: companheiros, vamos votar. Quem está com a gente, está. Quem não está... Como assim, não está? Seu neoliberal! Tem que entrar na porrada... E por aí vai.

abs.

Anônimo disse...

Lembrei muito aos militantes da FUBA (Federación Universitaria de BsAs), que sempre fazem tomas da reitoria ou coisas assim. Também há uma forte polarizaçäo, como a que fala Alessandro, entre os favoráveis e os que clamam por estudiar em paz. Mas neste caso há uma vinculaçäo a partidos de esquerda muito pequenos (a maioria näo tem representaçäo parlamentária) e na UBA é algo
crónico.
Por qué você näo comparou à FUBA com os estudantes de SP? Quais outras diferéncias acha?
Um abraço

Anônimo disse...

O primeiro comentário tucano-olavete a gente nunca esquece.

Geraldo Zahran disse...

O amigo Alessandro está desinformado. O repasse as instituições estaduais era automático até Serra começar a contigenciar verbas no começo do ano.

De resto, tem muito mais teoria da conspiração no seu comentário do que no texto original.

Maurício Santoro disse...

Salve, Alessandro.

Noventa por cento dos jornalistas e acadêmicos neste país ou são PT ou são PSDB. Não penso que é pecado ter opinião e aproveito as análises tanto de tucanos quanto de petistas.

Ao contrário do que você diz, muita gente apontou os pontos controversos quanto à autonomia. Cheque os textos no blog que indiquei, há vários catedráticos de Direito da USP questionando a Constitucionalidade dos decretos de Serra.

Publicizar informação pública é exigência constitucional, e o diário oficial é o mecanismo principal para isso. Ao contrário do que você afirma, o SIAFI e o SIAFEM não são de livre acesso, embora haja pressão da sociedade civil para que isso aconteça, os governos federal e estadual se negam a partir de argumentos técnicos.

Aliás, repare que a Folha de S. Paulo não é propriamente um bastião da opinião anti-tucana, para dizer o mínimo...
Dom Patricio,

embora eu tenha pensado no caso da UBA, que acompanhei quando morava em Buenos Aires, me parece que a diferença principal na Argentina é que os partidos têm muito mais influência na mobilização, o que não surpreende dada a história do seu país de partidos bem mais fortes do que a média latino-americana.

Aliás, nosso parceiro argentino na pesquisa será a Fundación SES. Estamos trabalhando com uma equipe muito boa por lá.

Abraços

Alessandro Ferreira disse...

Grande Maurício,

Tudo isso, é? Se 90% dos jornalistas são petistas ou tucanos, digalá: qual a proporção de uns e de outros? Aliás, aponte-me um tucano que você tenha conhecido em suas passagens pela imprensa. Vou me abster de citar os petistas. Nem precisa, né? E é claro que não é pecado ter opinião. Já vendê-la, alugá-la ou trocá-la por migalhas... Bem, adiante.
Compañero, se os 'democratas-invasores' têm algo a contestar sobre os tais decretos - eu DUVIDO disso, desafio qualquer um deles a mostrar que sabem do que estão falando. Se eu pedir a um catedrático de qualquer coisa pra me apoiar, eu passo a ter razão automaticamente? - que vá à Justiça. Invadir prédio público, depredar patrimônio (mesmo que cuidem do jardim, hahaha) e constranger/agredir/ameaçar quem discorda de seus métodos é coisa de quem quer impor seu 'modelo' na porrada - ou seja, fascista. No mais, há outra penca de juristas afirmando que não há nada de inconstitucional nos tais decretos. O Siafi e o Siafem não são abertos ao povão e eu sei bem disso - quando falei em fuçar, você sabe do que eu falava. Além do mais, não é difícil o cidadão procurar um deputado e solicitar que este lhe mostre as contas. O jornalismo faz isso direto.
Quanto à opinião da Folha: honestamente, não dou a mínima, mas a cobertura que o jornal vem fazendo da invasão é francamente favorável aos invasores. Assim como bancos de praças de SP viraram bancos "antimendigo" só porque não é possível se deitar neles. Enfim...

Caro Geraldo,

Até onde sei, o repasse segue sendo automático - o que, diga-se, representa um dos pilares da autonomia universitária. Não fosse assim, bastava um professor xingar o governador e este cortava a grana até que o 'atrevido' fosse expurgado da instituição. Este ano, a USP deve receber (a câmbio de hoje) mais de US$ 1 bi em 2007. Bela grana, não? Melhor ainda se pudermos saber onde vai essa dinheirama toda. No mais, fica a pergunta: por que raios qualquer observação acerca dos métodos da esquerda é vista sempre como teoria da conspiração? Ah, sei, ser de esquerda é ser intrinsecamente bom e justo e honesto, pô. Certo? O camarada Stalin concordaria. Ou como já me disse um amigo, anos antes de Lula chegar ao Planalto: "O PT tem um projeto para o Brasil. O Brasil é que não está pronto para o projeto do PT". Deixem estar, até 2010 vai estar prontinho, os petistas estão se esmerando pra isso.

Marcus,

Sabe argumentar? Pelo visto não, aí vem com essas provocações infantis pra ver se inicia um bate-teclas - se eu morder a isca, vou ser insultado de todas as maneiras imagináveis, pra no final o cara sair dizendo que não vai mais discutir. Tua fralda deve estar cheia, hora de trocar. Vê se me erra, babacão.

Anônimo disse...

Meus caros:
Por qué os militantes do PSDB säo chamados "tucanos"? Qué säo os "olavetes"?
Alessandro, você me faz lembrar muito a argentinos com exatamente o mesmo discurso que você, mas com mais problemas para se queixar: aparte de universitários con métodos cuestionáveis que até näo deixam elegir ao reitor há piqueteros (os que curtam as rúas), manifestaçöes no centro de Bs.As. a cada rato, etc. Também muitos deles criticam o atual revisionismo dos '70 e dizem "os militares foram malos, mas a guerrilha também assassinou a muitos". Se visita meu pais va considerar ao Brasil como um paraíso!! ;)
Abraços dum argentino que näo save quase nada da política brasileira, mas gostaria conhecer um pouco mais :)

Maurício Santoro disse...

Alessandro, meu caro.

A proporção de tucanos e petistas nas redações é algo que não sei precisar, inclusive porque muitos dos meus amigos que votavam no PT agora são eleitores do PSDB.

Mas por favor, não me venha com essa de que não há tucanos na imprensa brasileira, eu mesmo conheço vários. Não se trata de algo clandestino, eles mesmo me dizem. E estão em todo seu direito, ora bolas, desde quando é crime ter opinião?

Acompanho a ocupação dos estudantes em detalhes, por causa da pesquisa sobre juventude e estou em contato freqüente com os especialistas na área. Há entre os estudantes uma repúdia muito forte aos decretos do Serra. Se eles são tudo isso, é outra história, mas os jovens estão bastante motivados para a ocupação.

Patrício, o tucano é o símbolo do Partido da Social-Democracia Brasileira, que apesar do nome tem uma orientação mais liberal. Ele foi formado na década de 1980 e tem entre seus líderes vários intelectuais importantes (como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) que foram oposição à ditadura.

"Olavetes" é uma brincadeira para designar pessoas que seguem um escritor da extrema-direita chamado Olavo de Carvalho, que virou uma figura folclórica no Brasil por causa do anti-comunismo - ele jura que o Governo Lula faz parte de uma conspiração internacional para implementar um Estado leninista neste país.

Abraços

Alexandre Sousa disse...

turquia tem que percorrer um longo caminho para se tornar europeia. Tem caso de terrorismo realizado por cidadães comuns. Um taxista matar uma mulher por falar armenio, mataram um padre por causa de sua religião e dois cristãos foram mortos por cinco muçulmanos e o procurador se recusa a considera isso terrorismo. Se a abrir as portas da Europa á Turquia, é esse tipo de gente que terá acesso á Europa. Se acham que tem atentado agora, esperem quando os turcos fizerem parte da União Europeia. No meio desses 80 milhões de habitantes existem dezenas de milhões de radicais, e é só olhar a pesquisa dos paises muçulmanos quanto aos radicalismo. talvez o numero de radicais seja considerado baixo na turquia, mesmo assim pode ser calculado em dezenas de milhões.