sexta-feira, 4 de julho de 2008

A Nova Defesa da França



Há poucas semanas a França publicou seu Livro Branco sobre Defesa e Segurança Nacional, estabelecendo novas diretrizes para esse setor. Sarkozy tornou o combate ao terrorismo a prioridade das ações militares francesas, anunciou a redução do tamanho das Forças Armadas em 25% e ressaltou que a Ásia (Afeganistão, Irã, Oceano Índico) adquire importância estratégica crescente para seu país, em adição às zonas tradicionais na Europa e África.

Quando as transformações estiverem implementadas, o Exército francês terá 225 mil homens e será formado só por voluntários. Ruptura com relação à tropa de 500 mil homens, muitos recrutados pelo serviço obrigatório, que existia em 1989, ao fim da Guerra Fria. O argumento central do Livro Branco é que para combater o terrorismo é necessário adaptar as Forças Armadas às novas ameaças, tornando-as mais versáteis, móveis, melhor treinadas e mais sofisticadas do ponto de vista tecnológico. São mudanças análogas àquelas executadas pelos EUA e pelo Reino Unido ao longo da década de 1990.

O cerne do novo Exército francês serão 30 mil soldados capazes de atuar como Força Expedicionária em algum conflito internacional no chamado “Arco de Crise”, que vai do Mediterrâneo ao Índico. Dez mil tropas estarão sempre de prontidão na própria França, para auxiliar o governo em caso de calamidade pública, como atentados terroristas ou desastres ambientais.

Embora o Livro Branco não mais considere a invasão por outro Estado como a principal ameaça à segurança francesa, o documento elenca diversas maneiras pelas quais isso poderia voltar a ocorrer, sobretudo pela cyber-guerra e por ataques de mísseis balísticos – neste ponto, chama a atenção a ênfase dada ao desenvolvimento das capacidades tecnológicas das potências emergentes. O arsenal nuclear da França continua a ser o elemento mais importante da estratégia para dissuadir a agressão por parte de outro país.

A segurança nacional francesa se insere num campo mais amplo de acordos internacionais, em particular na União Européia e na OTAN. No âmbito regional, a meta é fortalecer a capacidade da Europa intervir no exterior, com o estabelecimento de uma força de reação rápida de 60 mil soldados, e a habilidade para conduzir pelo menos duas grandes operações de “imposição da paz” ao mesmo tempo. Há debates interessantes sobre como formular política industrial de defesa na UE, com a delimitação do que a França deve fazer sozinha e do que ela pode desenvolver em parcerias.

As decisões sobre a OTAN são confusas, apontam para maior integração da estrutura de comando militar francesa na organização, mas não fica claro o grau em que isso irá ocorrer, porque essa decisão é anunciada vagamente, ao mesmo tempo em que se elogia a decisão do general De Gaulle de se retirar do comando unificado da organização, em meio a seus desentendimentos com os Estados Unidos na década de 1960.

Outro ponto destacado em vários trechos do Livro Branco é a necessidade de fortalecer os serviços de inteligência, inclusive com a criação de um Conselho Nacional de Inteligência, semelhante àquele formado nos Estados Unidos após o 11 de setembro. A justificativa dos franceses é que no mundo atual não há mais uma fronteira rígida entre segurança internacional e doméstica, sendo necessária maior articulação das Forças Armadas com a polícia e as autoridades civis, para lidar com ameaças como terrorismo e crime organizado.

3 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Caro Maurício:
Interessante artigo. Näo savia sobre o tema. Imagino que a França está mais interessada na integraçäo da UE, bloco no qual é líder com a Alemanha, do que na OTAN, mais vinculada aos EUA, e por isso o elógio a De Gaulle, o "antinorteamericanista moderado" por exelência.
Saludos!

Maurício Santoro disse...

Pois é, Patricio, mas o documento é confuso nesse aspecto, afirmando que OTAN e UE devem se complementar, e não competir uma com a outra. Como fazer isso, é outra história...

Abraços

Patricio Iglesias disse...

Correcçäo política? Diplomácia?Discursos conciliadores? Quando você näo quer falar sob o tema ou näo tem em claro qué dizer o melhor é cheiar páginas com palavras como "complementaçäo", "integraçäo", "unidade", "democratizaçäo", etc. JEJEJE (sou argentino, sou ácido).
Obrigado pela resposta
Saludos!