sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A Hora Azul


“Um conto de fadas ao contrário”, assim o escritor peruano Alonso Cueto descreveu seu romance “A Hora Azul”, uma das melhores abordagens do tema da memória histórica a surgir na América do Sul contemporânea. No caso, o acerto de contas de certa elite do Peru com a guerra suja contra o Sendero Luminoso, entre 1980-1992.

O livro é narrado por Adrián, um próspero advogado que vive uma rotina pacata em Lima, com um casamento estável e duas filhas adoráveis. Sua própria história é um tanto mais confusa: os pais se divorciaram quando eram pequenos e ele foi basicamente criado pela mãe, teve pouco contato com o pai, um oficial da Marinha. Também não vê muito o irmão, que mora nos Estados Unidos.

O que detona a trama é a morte da mãe. Num conversa com o irmão, vêm à tona incômodos segredos familiares, relativos às atrocidades que o pai cometeu quando serviu na província de Ayacucho, o epicentro da guerra contra o Sendero. Nos papéis maternos, Adrián encontra pistas que podem levá-lo a uma mulher que fora torturada pelo pai. Ele se torna obcecado pela história da moça, e viaja até os Andes, e às profundezas da história recente do Peru, para achá-la. O resultado é um intenso envolvimento emocional que o fará questionar os silêncios e os pressupostos de sua vida na gaiola de ouro da elite de Lima. E mudar – ainda que de forma bastante limitada – seu comportamento.



O Sendero tem sido abordado também por outros autores peruanos de primeira linha, como Mario Vargas Llosa e Santiago Roncagliolo. Não é difícil traçar paralelos com a ditadura militar brasileira. Trocando Lima por São Paulo ou Rio de Janeiro, e Ayacucho pelo Araguaia, a trama do romance seria facilmente adaptável à realidade do país. Aliás, a revista Carta Capital usou trechos do livro numa excelente reportagem sobre os processos contra o coronel Carlos Ulstra, acusado de ter cometido algumas das piores torturas cometidas durante o regime autoritário.

A Hora Azul do título é o momento que precede o amanhecer, e que tem significado particular num episódio decisivo na trama. Mas também é uma metáfora para a tomada de consciência, aquele período em que a mente se ilumina e surge uma nova concepção da realidade.

3 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Caro Maurício:
Esperemos que chegue uma hora azul em meio da presente crise, encontrando na integraçäo e os direitos humanos a luz que guie um novo caminho.
Saludos!

Maurício Santoro disse...

Ojala, mi caro amigo.

La necesitamos todos.

Abrazos

Patricio Iglesias disse...

E outra hora azul no tennis. Agora estou vendo a Davis... estamos ao límite da hora negra! RS RS RS
Abraços