sábado, 14 de fevereiro de 2009

Anatomia da Barbárie Suíça



Embora a polícia suíça especule sobre a veracidade do ataque racista ocorrido nesta semana contra uma brasileira que vivia em Zurique, a ascensão da extrema-direita no país é concreta, em particular pela ação do Partido do Povo Suíço (SVP), sigla radical que é a maior daquela nação. Ironicamente, o país sediará em abril a Conferência de Revisão de Durban, o principal fórum da ONU de combate ao racismo. A posição suíça, como a dos demais países europeus, tem sido de obstruir e dificultar os mecanismos de implementação dos acordos concluídos em Durban.

A ascensão do SVP tem preocupado os analistas políticos europeus. No Brasil, acompanhamos com mais atenção as tensões raciais envolvendo a França, Espanha e Itália - natural, dada nossa afinidade cultural com os países latinos. Mas é nas nações germanófonas, sobretudo Suíça e Áustria, que a extrema-direita racista mais conquistou força eleitoral. No caso suíço, tornou-se notória propaganda do SVP, que chegou a apresentar um cartaz no qual um pacato rebanho expulsa para fora do cercado o que aparenta ser uma perigosa ovelha negra.

Em alemão, o nome completo do SVP inclui a expressão Volkspartei. Se o nome faz você pensar nos nazistas, espere até ver as propostas do partido. Uma delas é deportar do país toda a família de imigrantes menores de idade condenados por crimes na Suíça. Há uma semelhança mais do que casual com as leis de Sippenhaft em vigor na Alemanha de Hitler, e mesmo por lá essa legislação só foi introduzida após a tentativa de assassinato do chanceler do Reich, em 1944.

Outra medida sugerida pelo SVP é proibir a construção de minaretes nas mesquitas da Suíça - trata-se da torre de onde os fiéis são chamados para a oração, e que rendeu algumas das mais belas pérolas da arquitetura islâmica. O detalhe é que o país possui apenas três minaretes, número um tanto irrisório para provocar tamanha gritaria.

A Suíça é um emaranhado multicultural de cantões de língua alemã, francesa e italiana, entre milhares de imigrantes - clandestinos e legais - que trabalham nas muitas organizações internacionais sediadas no país. Lá estava a Liga das Nações, lá fica a OMC e o Conselho de Direitos Humanos da ONU, entre outras instituições diplomáticas dedicadas a essa utopia sempre urgente de diálogos entre povos e governos.

A ONU tem tido um papel importante nos esforços para combater o racismo, em particular após a aprovação da CERD, o mais destacado tratado internacional sobre o tema. Em 2001 ocorreu a Conferência de Durban, que tratou de racismo, intolerância e xenofobia, e foi bastante tumultuada. EUA e Israel se retiraram do encontro por conta de tensões sobre a questão palestina. Esperemos que na presidência de Obama, os Estados Unidos mudem para posições mais construtivas. A transformação é fundamental para influenciar a Europa para outros e melhores rumos.

9 comentários:

Hugo Albuquerque disse...

A xenofobia está mesmo dando medo na Europa. Na Rússia, por exemplo, há um crescimento brutal de grupos neonazistas e de ataques a imigrantes vindos das ex-RSS.

Na Alemanha, a violência contra os turcos está quase se tornando corriqueira.

Na França, temos o glorioso Le Pen.

No leste europeu sobram governos com tiques fascistas como na República Tcheca, por exemplo - isso sem falar no Báltico ou mesmo movimentos como o Jest nas Wielu na Ucrânia.

A Itália berlusconica dispensa comentários, onde uma pesada discriminação contra ciganos e muçulmanos se mescla com tensões racistas entre italianos - o velho norte x sul, hoje em dia materializado na figura da bisonha Lega Nord que figura na coalizão governista ou até mesmo pelo fato de cada vez mais jovens aprenderem a falar dialetos regionais e esnobarem sua 'italianidade'.

Portugal, por incrível que pareça, é um dos países que mais tem demonstrado crescimento dessa extrema-direita - isso é curioso na medida em que portugueses são fortemente discriminados nos demais países europeus onde há colônias lusas.

Dia desses me surpreendi ao ver em um blog luso um comentarista local fazendo um contorcionismo lógico para provar que quanto mais imigrantes (ele usou o termo "pretos") um país tem, menos desenvolvido ele é - e tentou provar isso citando a grande quantidade de "pretos" que há nos Países Baixos, esquecendo-se do pequeno detalhe de que Portugal é consideravelmente mais atrasado do que lá. Outro português o retrucou dizendo que "na Europa, os pretos somos nós", o que causou um considerável confusão.

Isso tem uma conexão clara com a estagnação econômica do continente nos últimos anos e agora, com a crise mundial, pode ter desdobramentos perigosos. É bom manter o olho na região.

Anônimo disse...

Mesmo assim Maurício, a Suiça ainda é se eu não tiver errado um dos países com maior contingente de imigrantes (20% da população) e mesmo com o crescimento da extrema-direita parece que já começou o declínio do apoio.

A Suíça tem características únicas por existir cantões que falam Italiano, francês e alemão, por isso era se vc pegar a mesma estatística verá que lá o número era baixo em relação ao resto da Europa.

Claro que existe contra imigrantes ilegais até por que estes vivem nas áreas mais violentas mesmo para um país de criminalidade baixa, existe grupos marginalizados na sociedade suíça, para piorar uma piora econômica sempre leva a mais nacionais a morarem em locais mais baratos, o que aumenta o convívio entre as comunidades, sendo que a saída mais comum é sempre culpar o outro pela sua atual condição marginal.

Anônimo disse...

A xenofobia vai aumentar com a crise, até porque em casa que não tem pão, todo mundo grita e ninguém tem razão! Se os caras já estavam agindo com violência num cenário de crescimento e fartura, agora a coisa vai pegar!
De novo, o Brasil é modelo. Tirando a elite política arcaica, o povo brasileiro sabe conviver com todo mundo.

Maurício Santoro disse...

Olá, Hugo.

Exatamente, há xenofobias para todos os gostos na Europa. Quando estive em Portugal, conversei com parentes de amigos que vivem por lá e são militantes de um partido de extrema-direita. É realmente uma postura bastante hostil à imigração, seja de brasileiros, de africanos ou de europeus do leste -dos quais há um número bastante grande.

Olá, Marcelo.

Não tenho os dados do percentual de imigrantes para a Suíça, mas não acredito que ele seja tão alto quanto você diz, o normal para a Europa Ocidental é algo na faixa entre 5% e 10%.

Há muito exagero nas reações xenófobas, motivado pela imprensa sensacionalista e pelo medo puro e simples.

Oi, Aiaiai.

Infelizmente, concordo com você. Vai piorar.

Abraços

Anônimo disse...

Prezado Mauricio,

Se não estou enganado os números são do blog coisas da suiça, eles colocam a Suiça como um dos países europeus com maior número de estrangeiros.

Mas, li que pelo menos USD tem caído nas pesquisas de intenções de votos, o que já é um avanço.

Patricio Iglesias disse...

Caro Maurício:
Pensava que a imagem tinha sido feita por adversários do PSD para caricaturiza-lo. Ainda näo creio que tenham a inverecúndia de revelar seu racismo até isse ponto. É triste que um pais täo plural (com quatro línguas co-oficiáis: françês, alemäo, italiano e rético) tenha tantas pessoas que pensam assim. Por sorte na Argentina ninguém chegaria até isse ponto, aunque está a idéia em muitos de aplicar a "mäo dura" aos delinqüentes (os "negros", falando fora das cámaras) porque näo väo mudar. Näo compreendem que só com boas políticas sociáis de longo termo va melhorar a seguridade.
Plus de egalité pour plus de sécurité!

Maurício Santoro disse...

Oi, Patricio.

O caso está dando o que falar no Brasil e surgiram mais indícios de que a agressão foi forjada e que a moça sequer estava grávida. Os seres humanos somos animais estranhos e perigosos.

Abraços

Daniel J. M. Catino disse...

Embora é verdade que existe um crescimento de aquilo -sempre tem grupos e minorias até com partidos em todos os países europeus, mas já está quase confirmada a auto-mutilação e a ausência de gravidez. A mulher é doida mesmo e é uma oportunidade para repensar o que é que vai ser denunciado, a má fé de uma pessoa que se aproveita de momentos tensos com imigrantes em todo um continente, ou a má fé de uma esperta que agora declara estar com "lupus"...

Daniel J. M. Catino disse...

Acho que deveríamos trocar o Titulo do Post Geral por "A Barbárie da Auto-mutilação por Dinheiro querendo driblar Autoridades Suiças de investigação"...

Acho estranho que uma advogada tenha sido tão ingenua ao ponto de tentar enganar a perícia policial europeia e apelar a opinião pública desse modo tão displicente.