terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Foi Apenas um Sonho
Continuemos com os comentários sobre os filmes candidatos ao Oscar. Gostei de "Foi Apenas um Sonho", título com o qual os sempre criativos tradutores pátrios resolveram batizar "Revolutionary Road", dirigido por Sam Mendes e estrelado por Leonardo Di Caprio e Kate Winslet. Os dois atores repetem a parceria de Titanic, mas graças ao bom Deus num contexto bastante diferente. A única coisa que naufraga no filme é o casamento dos protagonistas.
Os astros interpretam Frank e April Wheeler, um casal de boêmios e aspirantes a artistas que acabaram tendo filhos antes do que planejavam e ficaram presos na próspera vida suburbana dos Estados Unidos da década de 1950. Frank tem um emprego tedioso, mas bem remunerado, no setor de publicidade de uma empresa de máquinas industriais. April vive a frustração de não ter se tornado uma atriz e se sente infeliz na rotina de dona de casa. Ambos têm casos extraconjugais, mais para matar o tédio do que por desejo.
Os dois se acham mais inteligentes e sofisticados do que os vizinhos algo tacanhos de sua bela casa (bem, isso foi muito antes do estouro da bolha imobiliária...) na Revolutionary Road. Mas para a vizinhança, os Wheelers são ídolos, o modelo do sucesso e das realizações. É especialmente forte a relação com a vizinha interpretada por Kathy Bates, cuja personagem os idolatra ao ponto de apostar que a convivência com os dois poderá curar o filho que sofreu um colapso nervoso e passou algum tempo num hospício. Os comentários mordazes e duros do rapaz funcionam como uma espécie de consciência dos protagonistas, em particular de Frank.
À beira do desespero com a vida do subúrbio, April bola um plano mirabolante de ir viver em Paris e tenta convencer Frank de que poderá sustentá-lo enquanto ele se dedica a... Bem, a questão é que nenhum dos dois sabe muito bem que tipo de talento estaria supostamente desperdiçando.
"Foi Apenas um Sonho" é um bom filme, sustentado sobretudo pelo roteiro e pela excelente atuação de Kate Winslet. Uma sequencia, em especial, me impressionou: aquela em que April serve o café da manhã ao marido, num estado de absoluto desespero diante da vida. Mas isso não está no texto, nem nas atitudes da personagem, e apenas nos gestos, tons de voz e expressões faciais. É preciso ser uma excelente atriz para segurar um rojão assim.
O problema é a impressão de que já o vimos anteriormente. Lembra muito "Beleza Americana", do mesmo diretor, embora não tenha o humor e o lirismo daquela produção. E em outros aspectos se parece bastante com "Pecados Íntimos" (Little Children), também estrelado por Winslet. A diferença principal é que se foco é na deterioração do casamento dos protagonistas - um rapaz e uma moça legal, que realmente se amavam, e se vêem numa situação grave de agressões mútuas e vazio existencial.
Às vezes tive a sensação de que a dificuldade do casal era o tempo. Se a história se passasse dez anos mais tarde, em plena eferverscência da década de 1960, talvez tivessem encontrado nos movimentos da época um eco às suas preocupações. Ou pelo menos, companhia para o infortúnio. Mas os outros dois filmes que mencionem se passam nos dias atuais, e nem por isso seus protagonistas conseguiram escapar do tédio suburbano. Não duvido que ele exista, mas nossa, que jardins bonitos essas pessoas têm!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Caríssimo, perdi seu e-mail. Me mande uma mensagem! sergioleo arroba hotmail.com
Postar um comentário