sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
A Crise, o Brasil e a América Latina
Uma das coisas boas de estar no Ministério do Planejamento é ter acesso aos especialistas estrangeiros que executam trabalhos para o governo brasileiro. Há algumas semanas assisti a uma palestra no curso de formação de gestores do economista alemão Marko Jagger, que nos falou sobre a situaçaõ do Brasil em meio à crise mundial. Ele destacou a comparação dos indicadores brasileiros com os dos demais latino-americanos e ficou patente como o país está numa condição priviliegiada com relação ao resto da região.
No entanto, eu com minha cabeça continental, comecei a pensar nos problemas que isso traz. O mais evidente deles é o desequilibrio no comércio exterior. Crises internacionais sempre estimulam a adoção de medidas protecionistas, ainda mais quando um dos parceiros é menos atingido do que os outros. Esse tem sido um padrão no comportamento da Argentina com o Brasil desde as dificuldades do fim da década de 1990, e a questão retornou com força à agenda regional devido ao impacto da crise no país platino, agravado por problemas do governo de Cristina Fernández de Kirchner e por uma gravíssima seca que tem devastado os pampas (foto de abertura do post) e tem prejudicado as exportações agrícolas. A comparação com o Uruguai é significativa, como mostra o gráfico abaixo. Tabaré Vázquez tem lidado melhor com as atuais turbulências econômicas.
Nos últimos dias diversos ministros e autoridades argentinas visitaram o Brasil, em negociações para tentar chegar a acordos que impeçam uma onda de disputas comerciais no Mercosul. Além de evitar barreiras ao comércio, há esforços para conceder créditos as empresas que compram e vendem na região, de modo a compensar as quedas nas transações. Mestre Sergio Leo tratou do tema em sua coluna de segunda. Eis um trecho:
O Brasil busca mecanismos para facilitar não só o crédito aos compradores de mercadorias brasileiras, mas também o financiamento aos exportadores dos países do continente em negócios com importadores brasileiros. A delicada situação financeira e as turbulências políticas na vizinhança dificultam a criação desses mecanismos. Mas, na avaliação do governo brasileiro, respostas a esse problema são fundamentais para garantir a expansão das empresas brasileiras além das fronteiras e evitar um progressivo mal-estar capaz de fomentar pressões protecionistas lá fora e dentro do país.
A América Latina responde por algo em torno de 20% a 25% das exportações brasileiras, com parceiros comerciais de grande porte como Argentina, México, Venezuela e Chile, e relações importantes e delicadas – sobretudo nas importações de energia – da Bolívia e do Paraguai. Não é tarefa fácil equilibrar tantas demandas e necessidades, mas o governo brasileiro tem boas ferramentas nas mãos e uma relativa tranquilidade financeira para negociar. E, claro, a extraordinária popularidade do presidente Lula, um bônus fabuloso que na região só é comparável ao do mandatário colombiano, Alvaro Uribe. Oxalá isso permita acordos e arranjos para resolver ao menos parte dos problemas trazidos pela crise.
O blog dá uma pausa enquanto o blogueiro segue para o carnaval do Rio de Janeiro. Volto na quarta-feira de cinzas, provavelmente com um comentário sobre o novo filme a respeito do Che Guevara, que espero ver na cidade.
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2 comentários:
Caro Maurício:
Argentina näo só sufriu da seca. Também tivo granizo, na Mendoza, o qual arruinou totalmente a cosecha de uma regiäo da província.
Pra mim é uma vergonha total ver que no estrangeiro também se fala de números oficiáis e extraoficiáis da inflaçäo. A intervençäo do INDEC (Instituto Nacional de Estadísticas y Censos), feita pelo governo pra consiguer números mais "lindos" ante as eleiçöes de 2007, só indisponhe ao oficialismo ante a opinäo pública. Näo compreendem!
Fique tranquilo. O Brasil sempre va fazer melhores negócios que nós! Com o sem estabilidade política, Argentina tem uma trajetória diplomática ruim qüanto a negociaçöes de territórios ou intercambios comerciáis.
Disfrute do Carnaval!
Saludos!
Olá, meu caro.
Não sabia do granizo em Mendoza, mas ontem vi na TV as notícias sobre a renovação do conflito entre o governo e o agronegócio. É muito ruim ver as dificuldades do seu país, e torço para que a Argentina consiga superá-las.
Abraços
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