quarta-feira, 8 de abril de 2009

Admirável Mundo Novo


“Esse é o cara – o político mais popular do planeta!”
Barack Obama, sobre Lula

“Obama é o primeiro presidente americano com cara de gente.”
Lula, retribuindo a gentileza


A cúpula do G-20 terminou melhor do que o esperado e foi saudada pelos mercados financeiros com alta nas bolsas de valores do mundo todo. Embora tenha sido considerada uma boa estreia diplomática para Obama, os resultados acordados refletem a vitória da agenda da União Européia: regulação mais intensa para setores-chave (paraísos fiscais, fundos hedge, agências de classificação de risco) e rejeição de pacotes de ajuda que signfiquem grandes déficits públicos. Pesou a posição firme da Alemanha, sempre receosa de qualquer risco de inflação, devido a seu passado trágico nesse aspecto.

O FMI, como instituição, também saiu fortalecido, com a injeção de recursos. Os países emergentes foram valorizados, mas seus ganhos foram mais simbólicos – presença de destaque na cúpula – do que práticos em relação a aumentar o poder de decisão nas organizações econômicas internacionais.

Vamos à blogosfera brasileira. Na Prática a Teoria é Outra se pergunta onde estava a esquerda alter-mundialista e que tipo de críticas e sugestões poderiam ter feito ao G-20. Um testemunho em primeira mão vem do Rafael Galvão, um dos melhores blogueiros brasileiros, que estava justamente em Londres durante a cúpula.



Nos sites estrangeiros, há boas análises sobre as promessas e impasses do encontro feitos pelo economista de Harvard Dani Rodrik e por um dos dirigentes da Oxfam, importante ONG britânica. Eles destacam dúvidas com relação à capacidade do G-20 combater o protecionismo comercial e reclamam da ausência da África do grande tabuleiro mundial.

Outro questionamento relevante feito pelo Na Prática é em que medida as brincadeiras de Obama com Lula não poderiam representar apenas uma tentativa de cooptação ao Brasil. A pergunta é boa. É fácil o deslumbramento diante da pompa e circunstância de uma cúpula como a do G-20, em especial quando fazemos o contraste entre a situação atual e as circunstâncias dramáticas do país em anos recentes – simbolizadas pela possibilidade de que o Brasil faça empréstimos ao FMI, enquanto o México implora por um bilionário pacote de ajuda.

A crise está acelerando, mais do que provocando, uma série de transformações na economia global e uma delas é a consolidação de posições de influência para os grandes países emergentes. Está claro que o Brasil não tem o mesmo fôlego da China e da Índia, mas também tem cartas relevantes a colocar na mesa. Para que a oportunidade se transforme em ganhos concretos, o país precisa definir com clareza o que espera do G-20 e como essas mudanças podem auxiliar em seus objetivos de desenvolvimento.

6 comentários:

Patrick disse...

Os alter-mundialistas estavam como sempre, apanhando. Quem sabe um dia alguém se dignifica a ouvi-los.

Maurício Santoro disse...

Caro Patrick,

Como diria mestre Ibsen, nunca vista suas melhores calças quando for lutar pela liberdade.

Abraços

Hugo Albuquerque disse...

Obama tem interesse claro em cooptar o Brasil e não está errado. Vivemos numa época onde a soma dos PIB's dos BRIC's já é maior que o PIB americano em valores reais, portanto, trazer para perto uma grande nação ocidental que bem ou mal nutre certas semelhanças consigo é fundamental.

Há um mundo multilateral se formando com a queda da importância da economia americana em relação a economia mundial. Ao mesmo tempo em que isso acontece, há tensões horríveis na área da ex-URSS, o aumento de poder da China ainda tem consequências misteriosas, a Índia tem problemas internos e ao mesmo tempo com boa parte de seus vizinhos, a Europa vive uma situação perigosa, portanto é uma estratégia elementar uma aproximação com o Brasil nesse momento.

Maurício Santoro disse...

Sem dúvida, Hugo. Tem havido certo debate na política externa americana pela aproximação com grandes democracias emergentes, em particular Índia e Brasil, que têm sido vistas como parceiras internacionais mais confiáveis do que a China.

Abraços

Hugo Albuquerque disse...

Aliás, Mauricio, a Índia, apesar de todos os seus problemas internos e sua tensão com o Paquistão, é um país central nisso tudo: Ela mantém uma curiosa política de aliança com russos e americanos e é vista como um dos elementos principais na contenção da China - ainda que eu desconfie que os chineses não estejam dispostos a arcar com o ônus de uma política imperialista.

abraços

Maurício Santoro disse...

Hugo,

o relacionamento entre China e Índia é bastante conturbado, com uma série de disputas territoriais e contendas por influência na Ásia Central, que vêm desde a década de 1940. O Tibete é o ponto central do problema.

Contudo, os dois países têm uma relação econômica muito intensa, com um enorme comércio bilateral.

Abraços