sexta-feira, 21 de maio de 2010
Sanções contra o Irã
Nesta semana fui entrevistado para o programa “Sem Fronteiras” da Globonews, que foi exibido ontem à noite. Conversei com o jornalista Tonico Ferreira sobre a situação no Oriente Médio. Meu amigo e chefe Matias Spektor participou de Washington, onde está como pesquisador no Council on Foreign Relations, falando a Jorge Pontual sobre o impacto do tema para as relações entre Brasil e Estados Unidos. Reproduzo neste post alguns dos pontos da entrevista e ascrescento comentários.
Os Estados Unidos reagiram ao acordo com o Irã orquestrado por Brasil e Turquia com a proposta de nova rodada de sanções da ONU contra o país. O projeto conta com o apoio dos outros membros permanentes do Conselho de Segurança e da Alemanha. Os seis países consideraram o entendimento com Teerã como manobra do regime iraniano para ganhar tempo e prosseguir com o programa nuclear. O acordo tem muitas falhas, mas poderia ser usado como primeiro passo para estabelecer confiança e clima favorável às negociações. Ao optar pela intransigência, o Grupo dos 6 fechou importantes possibilidades de diálogo com os países emergentes e criou uma situação de radicalismo que cada vez mais se parece com a controvérsia que precedeu a invasão do Iraque.
A proposta da nova rodada de sanções é a quarta apresentada na ONU. Ela se concentra na Guarda Revolucionária, a unidade militar de elite do Irã, que também possui muitas empresas e investimentos na economia. É o principal braço armado do regime, mas teve a lealdade de vários de seus comandantes questionada pelos recentes protestos pró-democracia.
As sanções são, em realidade, bastante moderadas e tímidas. Não tocam, por exemplo, na indústria do petróleo, o esteio da economia iraniana. A razão é simples: China e União Européia estão entre os principais parceiros comerciais do país.
As sanções têm como objetivo impor mais pressão sobre Teerã, para forçar as autoridades a negociar um acordo que seja mais abrangente do que aquele mediado por Brasil e Turquia. É duvidoso que funcione, como mostra a história em outros casos: Coréia do Norte, o Iraque de Saddam Hussein e o próprio Irã desde a Revolução Islâmica de 1979.
Os Estados Unidos pressionam por sanções mais duras e a resposta rápida do presidente Barack Obama foi muito influenciada pelos problemas do Partido Democrata, às voltas com eleições legislativas e precisando aparecer para a opinião pública como rigoroso em temas de segurança nacional. Por isso a secretária de Estado, Hilary Clinton, fez o anúncio da nova proposta em audiência no Senado.
Apesar do futuro incerto do acordo mediado por Brasil e Turquia, ele foi um ganho diplomático importante para ambos os países. Mostraram iniciativa, capacidade de articular coalizões, disposição para o diálogo. Qualidades fundamentais para evitar o agravamento de tensões no Oriente Médio.
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5 comentários:
ótima entrevista, maurício! parabéns! tb achei a matéria como um todo bem feita. agora fico pensando cá com meus botões: oq seria necessário para q os eua abandonassem sua posição intransigente e abrissem mão da demanda inegociável do fim do programa nuclear iraniano? alguma ideia?
Salve, Gusmão.
Obrigado, que bom que você gostou. EUA e Irã estão há 30 anos em conflito e não me parece que estejam nem próximo de sair do beco.
Para os EUA, a única solução aceitável seria a abertura do Irã às inspeções.
Para o Irã, seria a retirada do Exército americano do Iraque e do Afeganistão e o desarmamento de Israel.
Ou seja, nada disso vai acontecer... Acho que teremos crises, muito mais crises, pela frente.
abraços
Grande Dr. Mauricio,
Gostei da entrevista, muito boa desenvoltura. É estranho ouvir e ver a quem se lê.
Tenho algumas discordâncias e concordâncias, mas isso é perfeitamente normal.
Salve, Mário.
Acredite, é mais estranho ver a mim mesmo na TV. Quase como uma experiência de sair do próprio corpo!
Abraços
Olá Maurício
certamente esse post responde a pergunta que fiz no anterior sobre o Acordo em Teerã. Att.
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