segunda-feira, 31 de maio de 2010

A Crise na Coréia do Norte



Em março a Coréia do Norte afundou uma corveta da Coréia do Sul e matou 46 marinheiros. O episódio rende um dos piores confrontos entre os dois Estados no qual a península foi dividida em 1945. Embora o risco de guerra seja pequeno, o aumento das tensões na região têm impacto bastante negativo para a economia global, num momento em que não faltam turbulências por conta da crise européia e dos conflitos com o Irã.

O regime político norte-coreano é provavelmente o mais fechado do mundo e há diversas teorias que tentam explicar a decisão de afundar o navio de guerra da Coréia do Sul. A maioria dos analistas acredita que o ataque foi motivado por conflitos internos no governo comunista, sobretudo a necessidade do presidente Kim Jong-Il se afirmar como apóstolo do nacionalismo diante de sua linha dura, preparar o terreno para ser sucedido por seu filho, Kim Jong-eun e oferecer uma crise internacional para desviar a atenção dos problemas econômicos do país.

A economia norte-coreana entrou em colapso na década de 1990, com o fim dos subsídios soviéticos. A falência da agricultura local resultou em fome em massa que só encontra comparações nos piores momentos dos regimes de Mao e Stálin. A estimativa é que talvez um milhão de pessoas tenham morrido. Para sobreviver, a população recorre aos mercados informais, inclusive muito contrabando.

A situação vinha preocupando o governo, que implementou há alguns meses uma reforma monetária que forçou as pessoas a abandonarem o dinheiro antigo e substituírem por uma nova moeda. Contudo, a quantia autorizada a ser trocada era pequena, um modo de as autoridades tentarem controlar o mercado informal. O resultado foi uma onda de descontentamento e protestos de rua – raríssimos no país.

A Coréia do Norte desenvolveu uma curiosa política externa, que basicamente consiste em levar as ameaças até próximo do ponto de ruptura, e depois recuar em troca de concessões econômicas do Ocidente. Até agora, tem funcionado.

No dia 15 de junho, Brasil e Coréia de Norte se enfrentam na Copa do Mundo. Pyongyang não perde por esperar: além da disputa no futebol, terá que enfrentar os missionários evangélicos brasileiros, que elegeram os comunistas como alvo preferencial de sua pregação religiosa.

10 comentários:

João Paulo Rodrigues disse...

Oi Santoro,

Não sei se já disse isso aqui, mas ótimo blog.

Você não acha que uma possível justificativa seria a janela de abertura da crise do Irã, num contexto de escalada no Afeganistão e dificuldades com Israel? Ou seja, aproveitar que os EUA pouco poderão fazer para extrair deles mais concessões?
Um abraço.

brunomlopes disse...

Um achado essa matéria dos evangélicos brasileiros que sonham em converter os norte-coreanos! Mas ali está escrito que, devido às restrições de locomoção no país, pouquíssimos norte-coreanso vão à Copa, e por isso o governo pensa em contratar uns mil chineses para compor uma torcida. Vai ser engraçado o encontro dos missionários (que vão ensaiar um discurso em coreano) com os norte-coreanos!

Maurício Santoro disse...

Salve, João.

É bastante provável. Desde o início das guerras no Afeganistão e no Iraque, a Coréia do Norte ficou mais agressiva nas lides com o Ocidente.

Ainda assim, os EUA mantém normalmente em torno de 40 mil soldados na Coréia do Sul (são cerca de 180 mil entre Afeganistão e Iraque) e há mais tropas a caminho por conta do acirramento da crise.

Grande Bruno,

a reportagem do Guardian é deliciosa. Só Deus sabe como os missionários brasileiros querem abordar os coreanos (ou chineses de aluguel). Tomara que a imprensa brasileira cubra a história.

Abraços

Flavio Faria disse...

Coréia do Norte. Um feudo nuclear. O senhor feudal agora está preocupado em manter sua dinastia levando seu filho ao poder, enquanto milhares de camponeses morrem de fome. Não seria estranho se isso não ocorresse em pleno século XXI.

Flavio Faria disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Maurício Santoro disse...

Um senhor feudal, mas com armas que matariam de inveja qualquer barão medieval...

abraços

carlos disse...

caro santoro,

o que acho estranho, nesse incidente naval entre as coréias, é a certeza da mídia brasileira em afirmar que o navio foi a pique devido ao disparo de um torpedo de uma belonave da coréia do norte.

ao contrário, jornais da inglaterra, frança, espanha e alemanha, dentre outros, se referem ao suposto disparo, contextualizando que, na ocasião, haveria um exercício naval conjunto dos esteites e da coréia do sul na região.
adiantam, ainda, que talvez tenha sido fogo amigo.

como a coréia do norte faz parte do eixo do mal, conforme o departamento de estadoda da madame clinton, esses acontecimentos me deixam um tanto cabreiro.

abçs

Maurício Santoro disse...

Carlos,

Houve uma investigação internacional sobre o afundamento da corveta da Coréia do Sul, com a participação de técnicos de vários países, e a análise concluiu pela culpa da Coréia da Norte.

O tipo de torpedo utilizado é fabricado somente por esse país.

Abraços

carlos disse...

salve, santoro, de novo,

continuo achando esquisito o incidente, uma vez que a instancia formal para investigá-lo seria no "grupo das seis partes"- coréias do sul e do norte, usa, japão, rússia e china, criado para mediar as relações entre as duas coréias.

no entanto, a coréia do sul convocou especialistas dos esteites, austrália e suécia para investigar as causas do afundamento do corveta...descartando o grupo. porque, hein?

abçs

Maurício Santoro disse...

Porque as autoridades sul-coreanas acreditaram que especialistas de países não envolvidos diretamente com o conflito na península teriam maior credibilidade para avaliar um caso polêmico como o do ataque à sua corveta.

Abraços