segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A História do Mundo em Seis Copos



Ganhei de presente de uma amiga (obrigado, Carol!) o ótimo “Uma História do Mundo em Seis Copos”. Escrito pelo jornalista Tom Standage, editor de negócios da Economist, é uma mistura esperta de gastronomia, economia e política. Standage associa cada tipo de bebida a uma sociedade e/ou época: cerveja (Mesopotâmia), vinho (Grécia e Roma Antigas), destilados (colônias européias na América do Norte e Caribe), café (Iluminismo europeu), chá (expansão do império britânico no século XIX) e coca-cola (EUA no século XX). Ele argumenta que, para além de suprirem necessidades físicas, essas bebidas atendem a outras demandas: sociabilidade, estímulos, sinais de sofisticação e riqueza e até proteções à saúde pública.

Afinal, lembra Standage, durante boa parte da história foi difícil manter a água limpa e isenta de contaminação – e, na realidade, o problema ainda é sério, persiste em muitos países em desenvolvimento. Nessas circunstâncias, bebidas fermentadas ou destiladas ajudavam a combater doenças, por agir contra os germes na água.

A humanidade aprendeu a fabricar bebidas alcoólicas muito cedo, ainda na pré-história. Segundo Standage, a prática começou quase junto ao cultivo de cereais, com a cerveja feita a partir do trigo, nas planícies da Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates.



O vinho também teve início na Antiguidade, mas a princípio era um tanto caro, reservado para as elites por conta do preço. Na Grécia, a bebida se tornou o centro de um ritual festivo, o simpósio, no qual amigos se reuniam para beber e debater temas filosóficos. O mais famoso, claro, é aquele retratado no “Banquete”, de Platão, em que Sócrates discute o amor. Cultivar vinhas era símbolo de prestígio e uma maneira importante de mensurar a riqueza. O status social elevado associado ao vinho permanece até hoje, com um verniz de sofisticação que falta, digamos, à cerveja.

Os destilados surgiram no Renascimento, por conta dos avanços na química – ainda que misturados ao misticismo da alquimia e à busca de uma “água da vida” de propriedades mágicas e curativas. Tiveram papel de destaque na colonização das Américas, sobretudo o rum, feito a partir do melaço da cana-de-açúcar. Era um item importante no comércio exterior colonial, e fundamental para manter as pessoas aquecidas nos invernos do Norte. Standage menciona apenas o universo anglo-saxão, mas a cachaça teve uma importância semelhante no Brasil, durante o mesmo período, em especial como moeda de troca no tráfico de escravos com a África.

Se o rum traz a marca da associação com a escravidão, o café é o símbolo da liberdade intelectual do Iluminismo e da Era das Revoluções. Bebida estimulante que não provoca a intoxicação, ideal para alimentar trocas de idéias e discussões políticas – e os cafés de Londres e Paris foram centros desse tipo de atividade. Como lembra Standage, a queda da Bastilha nasceu de um comício num desses estabelecimentos.

O chá tem uma história igualmente vinculada a acontecimentos políticos. Nos séculos XVIII e XIX era o principal produto que o Ocidente importava da China. Com o tempo os britânicos descobriram que o ópio era uma boa maneira de pagar pela mercadoria, mas como o governo chinês não gostou da idéia de comprar grandes quantidades de drogas pesadas, teve que ser forçado a fazê-lo, por meio de guerras. Mas logos os britânicos aprenderam a cultivar o chá na Índia, que haviam recém-incorporado a seu império. E, naturalmente, os impostos sobre o chá foram importantes para deflagrar a Revolução Americana. Bebida complicada.



Por fim, Standage analisa a Coca Cola como símbolo do “Século Americano”, e da difusão do American Way of Life pelo mundo, no rastro dos soldados que lutaram as guerras da nova superpotência, e impulsionada pelas modernas técnicas de publicidade e comercialização.

5 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
O mate, va ser algum dia fonte de revolucoes? He, he!
Abracos

Patricio Iglesias

Maurício Santoro disse...

Ha ha ha... Quem sabe... Mas bem pode ser um elemento de integração para os povos da bacia do Prata.

Abraço

Anônimo disse...

Salve Maurício,

um adendo à portuguesa para o chá inglês. Não é muito conhecido, mas foi D. Catarina de Bragança, filha de D. João IV, ao se casar com futuro rei da Inglaterra, Carlos II, que introduz o célebre hábito do chá na nobreza inglesa. O chá já era de certa forma consumido, mas é ela quem cria a “instituição” do chá na nobreza inglesa. Além disso, de quebra, a Inglaterra ainda leva Bombaim e arredores como dote da digníssima princesa ao se casar com Carlos II. Resumindo, dois pilares ingleses, o chá e seu domínio na Índia, vêm da terrinha… Bom pelo menos foi assim que me venderam o peixe, que por sinal deve vir importado da Noruega, mas isso já é outro "causo" da diplomacia portuguesa...

Grande abraço,
Ramon

Maurício Santoro disse...

Salve, Ramon.

A história é pouco conhecida, mas está contada no livro. Inclusive, a aliança com os Bragança é que abriu as portas da Índia aos britânicos. O resto foi o império.

Abraços

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