quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A Agenda Internacional da Defesa



Há duas semanas recebi convite de uma revista chilena para escrever um artigo sobre a agenda internacional da política de Defesa do Brasil. Preparei um texto analisando as principais iniciativas ao longo do governo Lula e apontando para a importância crescente do tema – afinal, no Chile e na Colômbia políticos chegaram à presidência em função de seu desempenho como ministros da Defesa.

Naturalmente, o quadro brasileiro é outro. O país não tem 60 anos de conflito armado, como os colombianos, e as feridas da ditadura militar não tem a abrangência daquelas dos chilenos. A própria dimensão econômica e territorial do Brasil e as ambições de sua política externa, dão à Defesa outras características. Destaquei dois pontos: a importância das políticas de compras governamentais na indústria bélica e as ações de segurança internacional na América do Sul.

O orçamento da Defesa cresceu muito sob Lula, embora em grande medida o aumento seja na verdade para remediar o sucateamento dos equipamentos militares e melhorar (ainda não de maneira satisfatória) a remuneração dos oficiais. As decisões mais expressivas foram o programa de compras de US$22, 5 bilhões em caças, submarinos e helicópteros, com a transferência de tecnologia para as Forças Armadas e para empresas privadas de fortes vínculos com o Estado, como a Embraer. A jóia da coroa é, claro, o projeto do submarino nuclear.

Abordei as polêmicas que envolvem a aliança com a França e ressaltei que o Brasil também desponta como fornecedor de tecnologia, via contratos de offset, para países vizinhos como Argentina e Colômbia, na sempre importante área da aviação militar.

A América do Sul é foco de diversas preocupações de segurança do país e frisei a agenda que se consolidou a partir da publicação da Estratégia Nacional de Defesa, envolvendo temas como a proteção de comunidades de brasileiros no exterior, a criação do Conselho de Defesa Sul-Americano, a mediação de crises na região, em particular nos Andes, os receios na Tríplice Fronteira, a integração sul-americana na missão da ONU no Haiti... Observei, no entanto, que há muitas discrepâncias entre a visão das Forças Armadas e as posições do Itamaraty e da Presidência da República. Como lidar com a Venezuela é um exemplo explosivo dessas disputas.

Abordei ainda a chamada “Amazônia Azul”, isto é, o Atlântico Sul, com os debates da Marinha acerca do pré-sal, da proteção à zona econômica exclusiva e os planos de criação de uma segunda esquadra, baseada no Norte e no Nordeste, com uma ampla base naval na foz do Amazonas.

Foi, enfim, uma bela encomenda dos amigos chilenos, que me fez pensar bastante a respeito da Defesa. Quero ler, pesquisar e escrever mais sobre ele em 2011.

7 comentários:

Anônimo disse...

Jogador, há fontes que a Marinha também se interessa na versão naval do Rafale. Sou um entusiasta do domínio de tecnologia para o submarino nuclear. Trata-se de um clube seletíssimo. (praticamente o mesmo grupo do P-5 do CS-ONU) e as vantagens tecnológicas são gigantescas.
À guisa de exemplo, os argentinos retiraram sua esquadra do mar em 1982 por conta do poder assimétrico representando pelos submarinos nucleares britânicos (somente 3!!!). Em termos estratégicos representou uma super-vantagem para a Royal Navy.

abração meu caro.
Saudades das nossas conversas!

Helvécio.

Maurício Santoro disse...

Salve, meu caro.

Eu também, acho que em termos de custo-benefício o submarino nuclear é uma arma excepcional.

Vamos ver como segue a novela da compra dos caças, com a decisão da presidente Dilma em suspender o processo.

Temos que arranjar um bom congresso para colocarmos o papo em dia.

Abraços

Mário Machado disse...

Dr,

Não sei se o submarino nuclear é a plataforma de armas mais eficiente para o Brasil.

Li numa revista portuguesa de relações internacionais (se eu achar o link posto aqui) que há por parte deles uma certa animosidade ao que eles vêem como "mare nostrum" brasileiro.

Ainda mais por que é sabido que Portugal tem empurrado a agenda de um olhar mais atlântico para a OTAN... (eu sei que é uma aliança do Atlântico norte, mas creio que deu pra entender o que quis dizer).

Posso dizer que desdobramentos interessantes nos aguardam.

Abs,

Maurício Santoro disse...

Salve, Mário.

O submarino nuclear é uma arma defensiva excelente e não vejo o que os portugueses tenham a dizer com relação à política de Defesa do Brasil. Com a atual crise econômica lusitana, a capacidade de projeção de poder deles ficou ainda mais reduzida, a prioridade é fechar o orçamento.

abraços

Anônimo disse...

quem é Portugal?

Se existisse algum desconforto seria por parte dos argentinos.

De qualquer modo, é o melhor vetor de projeção de poder para o país no curto prazo. Além de gerar um domínio de tecnologia surpreendente.

abs,

Helvécio.

Maurício Santoro disse...

:=)

athalyba disse...

Gde Maurício !

No tópico: nada a falar da Unasul e da inserção brasileira nesse organismo ?

Fora do tópico: com a subida para o telhado do Rafale, como ficaria a TdT do SubNuc ??? Será que os azuis ficariam chateados e dificultariam a TdT por causa da não escolha do seu caça, caso isso ocorra ???

Em tempo:
a) SubNuc = (Pprojeção de poder + Domínio tecológico de altíssimo nível) x Capital político. Paga qqer conta.

b) Você podia linkar o artigo :-)

abcs