segunda-feira, 6 de junho de 2011
Desafios para Humala
Escrevo ainda sem ter a confirmação dos resultados das eleições presidenciais no Peru, mas as pesquisas de boca de urna indicam vitória de Ollanta Humala sobre Keiko Fujimori, por diferença de até cinco pontos, deste modo revertendo a tendência da última quinzena. Se este for mesmo o desfecho da disputa, Humala terá pela frente dois desafios significativos: o relacionamento com as grandes empresas e a necessidade de provar que sua adesão à democracia e aos direitos humanos é real.
No meio empresarial, há temor generalizado por Humala. O modelo econômico peruano das décadas de 1990-2000 foi baseado na concessão de garantias às empresas e aos investidores de que seus negócios não sofreriam intervenção do Estado nem seriam abalados pelas turbulências políticas. A Constituição de 1993 inciou esse processo, que foi completado pelo tratado de livre comércio com os Estados Unidos, que também alterou a legislação relativa a direitos de propriedade, em especial na região amazônica do Peru, onde se concentram as reservas de petróleo e gás. As tensões resultaram no recente conflito com os movimentos indígenas, com enfrentamentos bastante violentos. Nestas eleições, os criadores do modelo peruano fizeram o mea culpa e reconheceram que era necessária maior atenção aos temas sociais.
Afinal, a América Latina contemporânea é marcada pela ascensão de partidos e movimentos de esquerda que, em suas muitas correntes e matizes, advogam maior participação do Estado na economia e com frequência a nacionalização total ou parcial de recursos naturais, inclusive com a reversão das privatizações feitas no período liberal, como ocorreu na Bolívia, Venezuela e Argentina. Ou pelo menos com o aumento de impostos cobrados às empresas que trabalham com essas riquezas.
O modelo bolivariano é o de consolidar tais mudanças em novas constituições, que refletem estas novas perspectivas. A carta magna peruana, como citado acima, é fruto da ditadura Fujimori e de outro modelo econômico. Ela foi reformada em 2005, já na democracia, mas nacionalistas como Humala a consideram bastante aquém do que desejam. Grupos que pleiteiam maior descentralização e autonomia para regiões e municípios também querem transformações, temas explosivos porque envolvem a distribuição dos royalties do petróleo e da mineração pelo Estado unitário, e as relações com áreas indígenas.
Tarefa difícil para qualquer presidente, ainda mais para Humala, que precisa mostrar para a opinião pública de que rompeu com sua história de golpes militares e de que seu abandono do estilo de Hugo Chávez em troca da moderação de Lula é para valer, e não simplesmente retórica de campanha. Muitos de seus votos vieram dos anti-fujimoristas dispostos a lhe dar o benefício da dúvida diante da filha do ex-ditador, mesmo que isso significasse deixar de lado as acusações de violações de direitos humanos feitas contra o próprio Humala, nos tempos da guerra contra o Sendero Luminoso.
O governo brasileiro tem simpatia por Humala, mas as principais empresas do Brasil com negócios no Peru, como Petrobras e Vale, inclinaram-se por Keiko. É um quadro contraditório, mas o novo presidente peruano pode aproveitar a boa vontade de Brasília para fechar acordos que sirvam de referência para entendimentos semelhantes com firmas oriundas de Estados mais relutantes e cautelosos.
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3 comentários:
Além disso precisa manter o crescimento do Peru. (sim com trocadilho, esse país simpático me deixa com 8 anos de idade).
PS: vou republicar em meu site se quiser que eu retire é só falar.
Abs
Salve, Mário.
Outro dia conheci um brasileiro de sobrenome Pinto, que mora no Peru, de modo que os trocadilhos são inevitáveis... (Re)Publique à vontade, não há problema.
abraços
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