sexta-feira, 1 de julho de 2011

O Câncer de Chávez



Pondo fim a quase um mês de boatos e especulações, o presidente da Venezuela anunciou que está com câncer. A doença foi diagnosticada quando Hugo Chávez foi operado de emergência em Cuba, após se sentir mal em uma viagem ao exterior. A doença coloca em dúvida a capacidade de Chávez em concorrer à reeleição em 2012 e abre dúvidas sobre o futuro político de seu movimento, extremamente centrado em sua liderança pessoal.

Pela Constituição da Venezuela, o presidente não pode se ausentar mais do 5 dias sem transferir o cargo provisoriamente. Chávez sempre evitou fazer isso, por medo de que se repetisse uma crise semelhante àquela do golpe de 2002. O presidente está há quase um mês hospitalizado em Cuba – aparentemente, não confia nos médicos venezuelanos – mas a Assembléia Legislativa o autorizou a governar de lá.

O diagnóstico foi marcado por segredo e Chávez não falava em público, ou sequer se comunicava via rádio ou Twitter há várias semanas. Ele apareceu bastante abatido e muito magro, quase tanto como da primeira vez em que irrompeu na cena política venezuelana, há 20 anos, como um jovem tenente-coronel que tentou tomar o poder num golpe militar.
A reação dos chavistas é a de que o presidente pode se curar da doença e disputar a eleição no próximo ano, a exemplo do que fez Dilma Rousseff no Brasil. A saúde da presidente brasileira ainda é objeto de dúvidas e rumores, e no entanto ela fez o anúncio de sua doença de forma bem mais confiante e aberta do que Chávez. Além de ter sido tratada em seu próprio país.

A oposição venezuelana, naturalmente, ressalta a falta de transparência de Chávez com relação à sua saúde e a situação anômala do presidente governar de Cuba, em vez de transferir o cargo ao vice. No ambiente de polarização extrema da Venezuela, dificilmente a doença de Chávez despertará simpatia e compaixão entre seus opositores ou na população em geral, como ocorreu na Argentina quando a morte de Néstor Kirchner beneficiou a presidente-viúva, Cristina.

A política venezuelana da década de 2000 se polarizou de tal modo que tudo gira em torno de Chávez, em facções pró e contra, mas há pouco debate real em termos de modelo econômico e político, e isso é cada vez mais importante no contexto da crise que afeta o país, com queda constante de lucros da estatal petrolífera PDVSA (e principal fonte de receitas do Estado) – 30% a menos desde 2008.

É improvável que Chávez aceite delegar poder a um número 2 e nomear um sucessor político, mesmo que sua doença se agrave ao longo dos próximos meses. A questão é saber se a oposição conseguirá superar sua fragmentação e montar uma coalizão com proposta alternativa para disputar as eleições presidenciais em 2012.

Ainda não há data definida para o retorno de Chávez à Venezuela, mas isso deve ocorrer no dia 5 de julho, quando acontecem as celebrações pelos 200 anos de independência do país.

2 comentários:

raphael disse...

Sinceramente não vejo a saúde da presidenta como sendo objeto de dúvidas e rumores,isso é mais intriga criada por uma das recentes edições da revista epoca do que qualquer outra coisa.Abraços

Maurício Santoro disse...

Raphael,

Entre os jornalistas políticos que cobrem a presidente, preocupações com relação à sua saúde já aconteciam durante a campanha eleitoral. Há muitos rumores que seu câncer não está totalmente curado. O mesmo me tem sido dito por amigos médicos.

abraços