Nova York era um pequeno porto de 10 mil habitantes quando os Estados Unidos se tornaram independentes, e a cidade foi praticamente destruída na guerra de independência, com ocupação britânica e dois grandes incêndios. Mas rapidamente se recuperou, juntando suas vantagens naturais e o dinamismo empreendedor de seus comerciantes, que inventaram novas maneiras de vender seus produtos (como lançar seus navios ao mar de forma regular, com ou sem muitas mercadorias a bordo). Sediou o governo americano em seus primeiros anos, mas o impulso para o crescimento veio na década de 1820, com a construção de um canal ligando à cidade aos grandes lagos, e por tabela à próspera agricultura do Meio Oeste, então um dos celeiros do mundo.
A cidade multiplicou sua população e virou o local de algumas das favelas miseráveis para imigrantes, em particular na parte leste de Manhattan. Os ricos começaram a migrar para o norte, em especial ao redor do novo Central Park, e os avanços nas ferrovias (e posteriormente, o automóvel) permitiu que as pessoas passassem a morar bastante longe do seu local de trabalho. Nova York cresceu para além da ilha original, e no fim do século XIX incorporou municípios e vilarejos vizinhos, como o Brooklyn, interligando-os numa complexa rede de estradas, pontes e linhas de metrô. Novas tecnologias de construção permitiram o surgimento dos arranha-céus, que dominaram o horizonte da cidade e tornaram-se alguns de seus símbolos mais conhecidos.
A Nova York poderosa e orgulhosa mergulhou numa crise nas décadas de 1960 e 1970. As indústrias deixaram a cidade, a classe média fugiu para os subúrbios ou municípios vizinhos e a arrecadação de impostos caiu, ao mesmo tempo em que a prefeitura aumentava gastos, expandindo a rede de serviços públicos para tentar lidar com as tensões sociais que então explodiam pelos Estados Unidos. A cidade faliu e a degradação e violência de áreas como Times Square e Bronx viraram ícones da crise urbana americana.
Hoje sabemos que eram as dores do parto, da transição de uma economia industrial para a nova etapa de desenvolvimento baseada em serviços – financeiros, de tecnologia da informação, de design, consultorias etc. Nova York e outras cidades americanas, como Pittsburg, conseguiram resolvê-la bem. Algumas, como Detroit, até hoje não superaram a crise. Nem os ataques terroristas de 11 de setembro conseguiram alterar a guinada rumo à prosperidade. Nova York atrai pessoas de todo o planeta – quase metade dos habitantes é de fora! – e o ambiente cosmopolita, multicultural e dinâmico que eles dão à cidade não tem preço.
Contudo, há muitos problemas. A infraestrutura é deficiente e está defasada com relação às novas metrópoles do Oriente, como Cingapura e Dubai. A desigualdade é enorme, maior do que a do Brasil, e com frequência tem implicações étnicas e culturais. Manhattan é caríssima, uma espécie de playground para ricos e turistas, e muitos lamentam os efeitos negativos disso para a coesão dos bairros e das comunidades.
Ainda assim, Nova York tem lidado melhor do que os Estados Unidos como um todo com as ansiedades e tensões contemporâneas, como crise econômica, medo do terrorismo, e do declínio. A cidade tem uma capacidade enorme de se reinventar e de absorver os fluxos criativos dos seus muitos filhos adotivos.