As FARCs usam fartamente o sequestro. Às vezes, por razões puramente econômicas, para extorquir dinheiro de suas vítimas. Outras vezes, por motivos políticos, prendendo deputados, policiais, militares, a ex-candidata à presidência Ingrid Betancourt. Em fevereiro, a guerrilha prometeu não mais sequestrar para cobrar resgates, e pouco depois libertou 10 prisioneiros, inclusive com mediação brasileira. Mas as FARCs mantiveram o silêncio com respeito aos sequestros políticos.
O governo colombiano estima que a guerrilha ainda tenha cerca de 100 prisioneiros, organizações da sociedade civil acreditam que o número possa ser bem maior, 450-600. As FARCs sequestraram jornalistas colombianos em algumas ocasiões, mas esta é a primeira vez que capturam um repórter estrangeiro. Rómeo Langlois é um correspondente veterano que está na Colômbia há mais de uma década e trabalha para empresas de prestígio como Le Figaro e France 24.
Langlois acompanhava o Exército colombiano numa incursão para combater o tráfico de drogas, quando a unidade em que estava foi atacada pelas FARCs, e ele foi ferido com um tiro no braço. Fez o procedimento padrão para jornalistas nesses casos: tirou capacete e colete para ser confundido com combatentes. Aparentemente, ele se entregou à gueriilha com medo de ser morto. Porta-vozes das FARCs confirmaram que estão com o jornalista, que classificaram como “prisioneiro de guerra”.
A guerrilha tem baixa credibilidade na Colômbia por uma longa história de promessas não-cumpridas e atitudes dúbias, de engajamentos em negociações ao mesmo tempo em que persistem em ataques e atentados. Sucessivas manifestações e protestos da população têm pressionado as FARCs a libertarem seus prisioneiros. Um jornalista que foi sequestrado pela guerrilha criou uma ONG, Voces del Secuestro, que organizou um mutirão de rádio – o único meio de comunicação acessível aos reféns na selva – com mensagems e palavras de apoio das famílias e amigos.
Há um alto custo político das FARCs em manter em seu poder Langlois, sobretudo por ele ser um jornalista francês, país que teve papel importante nas pressões para a libertação de Ingrid Betancourt. Difícil acreditar que possam aguentar serem colocadas na berlinda por muito tempo, em especial diante do enfraquecimento de seu poder militar.
8 comentários:
Maurício,
Poderíamos fazer uma comparação das FARC com guerrilha do Araguaia, destacando suas as principais diferenças?
Abc
Nixon
Caro Nixon,
A semelhança é que ambas foram organizadas por partidos comunistas. As diferenças são imensas.
As FARCs foram criadas e expandidas num país democrático, enquanto o PC do B montou a guerrilha numa ditadura.
As FARCs mobilizaram dezenas de milhares de pessoas no seu auge, se envolveram com o crime organizado e cometeram inúmeras atrocidades contra a população civil.
No Araguaia, a escala da operação do PC do B foi muito menor, algumas dezenas de pessoas, a guerrilha teve poucos recursos e as violações de direitos humanos contra a população local foram cometidas sobretudo pelo Estado.
Abraços
Obrigado e até mais tarde na Rodada Latino-Americana.
Tão democrática é a Colômbia que quando boa parte das FARC abandonou a luta armada nos anos 80 para fundar o partido UP milhares de seus membros foram assassinados. Seu texto também omite o papel dos grupos paramilitares naquele país, o que é inaceitável para um cientista político de seu calibre.
Caro Luis,
Clique no marcador "Colômbia" neste blog e você lerá páginas e páginas do que escrevi a respeito das atrocidades cometidas pelos paramilitares e do extermínio da UP. Mas repare que muitos outros grupos guerrilheiros colombianos - M-19, EPL, Quintin Lame - negociaram a paz e o 1o inclusive virou um partido político importante.
Isso não torna as FARCs menos assassinas, cometendo uma série de crimes sem perdão contra a população colombiana. É lamentável que muitos setores da esquerda brasileira continuem apoiando esse grupo nefasto em vez de ajudar as forças democráticas na Colômbia.
Penso que isso diz mais sobre o autoritarismo latente de muitos grupos de nossa esquerda, tanto quanto sobre sua falta de compreensão da realidade colombiana.
Obrigado por me chamar de idiota e de autoritário nas entrelinhas, mas cliquei no marcador "Colômbia" e adivinhe só: FARC, FARC, FARC, FARC, paramilitares, FARC, FARC e mais FARC.
Ao típico esquerdista brasileiro, pouco importa que a FARC seqüestre crianças para estuprar ou usar na guerra ou como escravos sexuais. Pode até ser que o típico esquerdista brasileiro se oponha a estas atividades. Mas o que importa mesmo é que a FARC gostaria de massacrar direitos individuais, expropriar a propriedade privada e estabelecer um regime totalitário. E disso o esquerdista brasileiro gosta, gosta tanto que isso lhe permite relevar o tráfico de drogas, o trabalho forçado, os seqüestros...
Irineu,
Tanto você quanto o Maurício utilizaram ua falácia do espantalho para atacar meus argumentos - eu jamais disse que apoio as FARC, quiçá os sequestros.
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