quarta-feira, 18 de abril de 2007

De Carona pela América do Sul


Ontem exibimos no Ibase "Caroneiros" e fizemos um debate com o diretor de fotografia desse simpático documentário. O filme segue uma idéia que parece saída dos sonhos de Jack Kerouac ou do Che Guevara: viajar pela América do Sul dando caronas e conversando com as pessoas comuns que passam pelo caminho. Das entrevistas/papos se faz um panorama do que anda pela cabeça da juventude sul-americana. Dois temas se destacam:

1- Conhecemos pouco sobre os demais países do continente. Sabemos mais a respeito do Império Romano do que de nossos vizinhos. A escola não cumpre esse papel e as pessoas que querem informações sobre a América do Sul precisam buscá-las por conta própria.

2- Existe uma identidade sul-americana que nos une? Ou nos vemos principalmente como brasileiros, argentinos, chilenos e sem muita disposição para sentir além das rivalidades nacionais?

A platéia era formada sobretudo por estudantes e no debate falei bastante sobre a experiência na Argentina, felicitando os produtores de "Caroneiros" pela maneira aberta e divertida pela qual colocaram em discussão os mesmos temas que vivenciei na universidade em Buenos Aires.

O diretor de fotografia do filme, Santiago, nos contou que a recepção dos caronas foi muito boa em todos os países, menos no Brasil. Aqui, o medo da violência afastou as pessoas do hábito de pegar carona, além de torná-las mais desconfiadas a estranhos.

Perguntei ao Santiago se ele havia sentido a presença forte de preconceitos e rivalidades nacionais e ele comentou que sim, em especial entre argentinos e chilenos. Também trocamos idéias sobre o anti-americanismo no continente, em particular na Patagônia - a belísisma região argentina, pouco povoada e rica em recursos naturais, onde várias empresas transnacionais, com se instalaram recentemente.

Boa parte da platéia eram alunos de geografia da UFRJ, levados pela professora. Conversamos após o filme sobre o ambiente acadêmico da Argentina, o qual não canso de elogiar. Compartilhamos o desejo de que as universidades brasileiras prestem mais atenção ao que as instituições hermanas pesquisam e discutem e fiquei de lhe passar material que recolhi em Buenos Aires.

Fazer a ponte entre Argentina e Brasil está sendo a parte mais gratificante da minha experiência de intercâmbio e acredito que minha tese vai contribuir com essa conversa.

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O Brasil não conhece a América do Sul, e sequer conhece o Brasil. Mas fica
a dica do "Vidas e Imagens", blog emocionante e sensível, sobre as pessoas comuns que fazem este país. Dica de Rafael Galvão.

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Disseram no debate que o motivo do ódio de Galvão Bueno à Argentina é que sua mulher teria fugido com um portenho. Bom demais para ser verdade. Alguém confirma a história?

3 comentários:

Anônimo disse...

Na Argentina temos un desconhecimento terrível do Brasil. É muito difícil que alguem conheça a cultura brasileira além do futebol, alguns escretores de moda, Xuxa e a archirepetida frase "o mais grande do mundo". Nas escolas apenas se ensina um pouco sobre a independéncia e rara vez sobre Vargas. Mas respeito a Hispanoamérica é muito mais fluida a relaçäo e é mais comum que a gente conheça a história, cultura, etc.
Abraços

Anônimo disse...

Não entendi essa do "bom demais pra ser verdade"..bom que a mulher do Galvão tenha fugido (com quem quer que seja) dele? Bom que tenha sido com um portenho (serão eles bons mesmo nisso?)ou bom que ele tenha se ferrado?
Ainda acho que nessa questão da gente não se sentir latino-americano nem hermanos dos nossos hermanos esteja o fato da diferença de idioma. Embora tenha que admitir que a gente não sabe nada da história de Portugal, a não ser aquela clássica dos livros -infelizmente- clássicos de história das nossas escolas...

Maurício Santoro disse...

Olá, Patricio.

Minha impressão foi que os argentinos conhecem o Brasil muito melhor do que os brasileiros conhecem a Argentina. Ainda que dentro de certas limitações. Como você mesmo disse, as informações sobre o Chile ou o Uruguai são bem mais presentes na sociedade argentina.

Oi, Maray.

Pois é, o fato de falarmos o mesmo idioma também não faz com que saibamos quase nada a respeito de Portugal, mesmo do tempo que éramos governados de Lisboa. Quantos brasileiros com formação universitária sabem o que fez o marquês de Pombal ou porque Portugal buscou a aliança inglesa para se defender da Espanha?

O "bom demais para ser verdade" se refere a delícia que seria se o anti-argentinismo do Galvão Bueno pudesse ser explicado por algo tão simples quanto uma dor de cotovelo. Infelizmente, acho que tem mais aí, a tal cultura do ódio que mencionei em ouro post.

Abraços