Ontem passei a tarde na PUC, assistindo ao Seminário Internacional Juventude e Participação Cidadã. Foram apresentadas duas pesquisas no evento, abordando a situação dos jovens no Brasil, nos EUA e no México. Eu buscava informações e análises que me ajudem no meu projeto atual a respeito da juventude na América do Sul e constatei que as semelhanças com o que se passa em outras regiões é bastante grande.
Uma das consultoras do nosso projeto fala na juventude atual como a geração do medo. Da violência. Do desemprego. Da marginalidade econômica e social - porque a maior parte dos empregos disponíveis é muito mais instável do que aqueles que seus pais tiveram. Pensei na canção de Lenine:
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da
Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Claro que cada país tem suas particularidades. No México, há o canto de sereia da emigração para os Estados Unidos. Me pergunto se encontraremos desejos parecidos na Bolívia e no Uruguai, de onde muitos jovens saíram para tentar a sorte no exterior. Nos EUA, o que mais me chamou a atenção foi a política de recrutamento das Forças Armadas sobre os rapazes pobres. Uma professora da Universidade de Illinois nos contou que eles recebem cartas em inglês e espanhol oferecendo a carreira militar como válvula de escape para a pobreza e as escolas ruins.
As estatísticas mostram que os receios da juventude não são infundados, todos os problemas sociais atingem com mais força as pessoas nessa faixa etária. Um dos pesquisadores usou a expressão "anos de incerteza" para descrever esse momento, em que o rapaz ou moça ainda não tem um lugar definido na sociedade. O comentário que mais me impressionou veio de uma adolescente, moradora de uma favela do Rio de Janeiro, que afirmou se sentir privilegiada por ter participado da pesquisa, mas acima de tudo privilegiada por ter chegado aos 17 anos. Vários de seus vizinhos não
conseguiram.
Outros temas que apareceram várias vezes nos debates foram a baixa auto-estima e o sentimento de isolamento muitos presentes entre os jovens, sobretudo entre os mais pobres. Acredito que o primeiro ponto tem muito a ver com as imagens de juventude que são vendidas pela TV, pelos filmes e pela publicidade e que são um ideal inacessível para a maior parte das pessoas na América Latina. O segundo é mais complicado, envolve a precariedade das escolas,os problemas com os pais e até a dificuldade de ir e vir pela cidade. Um monte de coisas estão fora do lugar, para que esses jovens se sintam tão deslocados.
Minha vida profissional está sendo marcada por um contraste muito forte entre a realidade dramática que acompanho pelo projeto sobre juventude e as questões políticas, econômicas e diplomáticas da maior parte da minha atividade de pós-graduação, para não mencionar as excelentes oportunidades de trabalho na área. Por estes dias andei às voltas com o capítulo da tese que trata dos conflitos entre a Argentina e o Brasil no Mercosul. Tarifa externa comum para cá, desvalorização do real para lá. Foi a parte mais difícil de escrever até agora, mas também a que mais me fez aprender.
Saltar das tabelas de comércio exterior do Ministério do Desenvolvimento para os depoimentos que mencionei acima tem me feito pensar muito, principalmente sobre como a maior parte do debate acadêmico e político brasileiro é tão distante das demandas cotidianas da população. A grande aposta da pesquisa é que seremos capazes de ligar esses dois mundos, ajudando a consolidar as políticas públicas de juventude como uma
questão importante no Mercosul.
3 comentários:
Salve, Igor.
É uma tendência mundial. Os ingleses até inventaram uma palavra para descrever os jovens que ficam mais anos morando com os pais, creio que é "adultescência" ou algo assim.
Abraços
É muito interessante, a tendéncia é que a adolescência crezca de ambos límites, com a maduraçäo sexual mais temprana e a construçäo dum projeto próprio mais tarde.
Saludos!
Meu caro Patricio, são as contradições de nossa época: os corpos se liberam mais cedo, mas conseguir um emprego estável e razoavelmente bem pago tornou-se muito mais difícil do que nos tempos da vovó.
Abraço
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