terça-feira, 5 de junho de 2007
A Diplomacia de Sarkozy
A vitória de Nicholas Sarkozy nas eleições presidenciais francesas foi um triunfo pessoal para o ex-ministro do Interior, um azarão dentro de seu partido (UMP) que derrotou rivais do porte do ex-premiê Dominique de Villepin. Mas do ponto de vista da política partidária, a votação mostrou um país com mais inclinação ao centro do que na disputa anterior. Sai Le Pen, entram François Bayrou e um Partido Socialista moderado sob a batuta de Ségolène Royal. Sendo assim, é natural que Sarkozy tenha montado um gabinete que reúne figuras expressivas de vários grupos políticos.
O campo em que tais escolhas ficaram claras foi a diplomacia. O presidente fez uma interessantíssima nomeação para a pasta de relações exteriores: Bernard Kouchner. Um dos fundadores da ONG Médicos sem Fronteiras, Kouchner tem mais de trinta anos de carreira devotada às causas humanitárias. Foi deputado do parlamento europeu e administrou o Kosovo quando a província sérvia foi ocupada por tropas de paz da ONU, gerindo com perícia uma situação de ódios explosivos. É um dos políticos mais respeitados da França, e um socialista de carteirinha, que foi por cinco vezes ministro (da Saúde, de Ação Humanitária e da Inserção Social) em governos desse partido. Um quadro de primeiríssima categoria para qualquer governo.
Outra nomeação de destaque para a área de relações internacionais é a de Jacques Attali, tecnocrata e intelectual que foi dos principais conselheiros do ex-presidente socialista François Mitterand e ocupou diversos cargos no governo e em instituições internacionais. Sarkozy o convidou a reformular a política de ajuda humanitária e cooperação para o desenvolvimento da França e o próprio Attali afirmou que dará ênfase à questão do microcrédito.
O batismo de fogo diplomático de Sarkozy será a cúpula do G-8, entre 6 e 8 de junho, que ocorre na Alemanha. Mas a primeira iniciativa de política externa importante do novo presidente francês já ocorreu. Curiosamente, diz respeito à América Latina.
A França pressionou o governo da Colômbia para soltar uma série de guerrilheiros das FARCs. Especula-se que faz parte de um acordo que culminará na libertação de reféns da guerrilha, em particular a senadora e ex-candidata à presidência Ingrid Betancourt, que é cidadã francesa. Sua situação foi um tema quente da campanha de Sarkozy. Há ceticismo na imprensa e no governo colombianos de que as FARCs fariam isso, mas de qualquer modo, as negociações envolvem pesos-pesados da guerrilha, como Rodrigo Granda, o principal homem das relações internacionais das FARCs, preso em 2005 na Venezuela.
Resta saber como (e se) Sarkozy conciliará o perfil social com o tratamento de questões explosivas como imigração, Oriente Médio e as negociações para a entrada da Turquia na UE. Mas o início é promissor.
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7 comentários:
Efetivamente um início auspicioso para uma campanha eleitoral marcada por posições tão ferozes no campo da diplomacia.
Para Sarkozy, os imigrantes ilegais devem ser todos expulsos, a França deve endurecer as regras para conquista da cidadania, a UE deve incentivar a criação de uma "aliança mediterrânea" com vistas ao desenvolvimento da região (será que a Itália será beneficiada ao lado dos países africanos? Hehehe) e a Turquia que coloque sua violinha asiática no saco. Propostas duras para um filho de imigrantes.
Após o anúncio deste "ministérios de notáveis" (sem trocadilhos com o governo Collor, por favor!), resta saber até onde o jogo partidário irá permitir que ele chegue. Vejamos nas Legislativas!
O estilo de vida de Sarko vem sendo comparado ao da família Kennedy pela imprensa francesa...
Acompanhei o resultado do pleito francês em Nice, na casa de uma amiga que é Sarkozy doente - ela chorou e tudo durante o discurso da vitória do presidente eleito. Foi bem interessante ver a comoção do lado de lá. :)
Pode apostar, companheiro: tudo vai bem até queimarem os primeiros carros em Paris....
Salve!
Atualização:
- O Governo Colombiano soltou o Rodrigo Granda e declarou que o fez a pedidos do Sarkozy.
Bem, Igor e Glauco, também acho que a coisa vai pegar fogo (talvez literalmente) quando os imigrantes entrarem em campo.
Em outras circunstâncias a proposta da Aliança Mediterrânea não seria má (a OTAN tem uma parceria parecida) o problema é que se criaram expectativas altas na Turquia com relação à adesão na UE. Fechar essa porta significa fortalecer a linha dura islâmica.
Nica,
deve ter sido uma experiência e tanto! Eu também choro quando alguns candidatos são eleitos. E mais ainda quando se passam alguns meses de seus governos...
Abraços
Poisé, olhando quem nós andamos elegendo sinto uma vontade quase incontrolável de chorar.
De tudo que você falou, as duas palavras mais importantes foram "Sai Le Pen", nessa ordem. A ultima vez que ouvi sobre pleitos na França ele estava noutra. E a gente também.
Gostei muito do blog, ganhou um leitor.
Forte abraço
Olá, Tomé.
Sem dúvida, a derrota do extremismo de Le Pen foi a melhor noticia da eleição francesa.
Alguns analistas acham que Sarkozy roubou votos dele ao assumir o discurso duro contra os imigrantes. É possível. Mas sou cético quanto a mudanças bruscas nas leis francesas. Vamos aguardar e ver o que vem pela frente.
Abraços
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