quarta-feira, 13 de junho de 2007
Perdidos
Um dos poucos programas de TV a que assisto regularmente é a série “Lost”, já na terceira temporada. Ela conta a história de pessoas cujo avião cai numa misteriosa ilha do Pacífico. Precisam aprender a sobreviver e a desvendar os enigmas do lugar, ao mesmo tempo em que enfrentam os fantasmas do passado. Estão triplamente perdidos: no espaço, nas charadas da ilha e nas suas próprias trajetórias de vida.
“Lost” virou febre mundial, talvez mais pelos seus aspectos misteriosos, como os números que se repetem a todo tempo, em circunstâncias distintas, a natureza da Iniciativa Dharma (que parece uma mistura de projeto científico fracassado e seita mística) e os fenômenos sobrenaturais que ocorrem na ilha. Mas não é isso que me atrai na série – até perco a paciência com tantos segredos. O que realmente gosto são os dramas de cada personagem e a maneira como as histórias se conectam.
Os roteiristas da série usam de maneira primorosa o recurso do flashback. Primeiro, ele quebra a monotopia. Em vez de ficarmos restritos a uma pequena ilha, passeamos por vidas que se espalham por vários países: EUA, Austrália, Inglaterra, Coréia do Sul, Tailândia, França e Iraque, para ficar nos que me vêm à cabeça neste momento. Segundo, as lembranças dos personagens se encaixam maravilhosamente nas situações que enfrentam no cotidiano. Mergulhando em seu passado, somos capazes de entender seus comportamentos, medos, gestos e até frases que gostam de usar. Também é interessante como parte do elenco aparece de coadjuvante nas memórias alheias, iluminando aos poucos as conexões existentes entre eles.
Os episódios se revezam em torno de um elenco principal de cerca de dez personagens. Meu favorito é Sawyer, o trapaceiro sarcástico que tem as melhores falas da série, e que esforça-se imensamente para mostrar que é um individualista, quando na realidade está em busca de sua redenção pessoal. Mas o melhor ator em cena é Terry O´Quinn, que interpreta Locke, o “homem de fé” a quem a ilha oferece uma segunda chance na vida (sim, gosto das piadas filosóficas com o nome dos personagems: Locke e Hume, os empiristas britânicos; Danielle Rousseau, a “boa selvagem”).
Na segunda temporada o tema que dava unidade aos episódios era a eterna disputa entre a fé e a razão, aquela encarnada em Locke, esta no dr. Jack. Ambos lutavam pela influência entre os sobreviventes e discutiam as estratégias para investigar os mistérios da ilha. Não gostei do giro desta terceira temporada, mais focada na luta contra “Os Outros”, que às vezes escorrega para Rambo – quando dei por mim, Locke explodia um submarino! E alguém consegue me explicar a participação do Rodrigo Santoro? Foi só para introduzir os diamantes na ilha? Ele voltará da tumba, a exemplo de certos políticos brasileiros?
Críticas à parte, “Lost” é um marco de uma época em que a TV americana tem produzido ficções mais interessantes do que o cinema do país, revelando talentos e possibilidades (basta pensar em programas como West Wing ou Roma, muito superiores aos filmes do mesmo gênero). No caso de Lost, um de seus criadores foi contratado para reformular a série cinematográfica de Missão Impossível e os principais atores começam a despontar também na grande tela.
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6 comentários:
Fala, Maurício!
A última pessoa no mundo que eu diria que assiste a Lost era você. Eu também assisto. Será que isso é um sintoma de alguma coisa?
Quanto à série, também acho muito interessante os dramas pessoais e a maneira como eles se desenrolam e se confundem. Alguns personagens acabam mudando de perfil durante a série, alguns que se considerariam de bom caráter acabam revelando facetas menos abonadoras, e os "perdidos" revelam também suas razões. É próprio do ser humano: todos têm suas próprias razões.
Eu gostava mais dos mistérios no início, agora essa repatição me dá nos nervos. Toda vez que aparece um número eu nem confiro mais. Já sei que será 4, 8, 15, 16, 23, 42. Ou um desses.
Já o seu primo Santoro foi uma aparição estranhíssima. Erro da produção.
A propósito de séries, para encerrar, assista "House". O doutor é genial. E depois me diga se ele não lembra nosso amigo Alessandro Ferreira. Hehehe.
Grande abraço.
Aqui também faz furor Lost, mas eu näo vejo (em verdade, näo assisto a nenhum programa da TV). Muitos consiguem os DVD piratas com, obviamente, capítulos mais novos.
Eu li sobre um Santoro que é ator. Em verdade é seu primo como diz o Rodrigo? Pelo aspecto que tinha näo creo! hehe!
Saludos!
Achei o começo da terceira temporada morno, mas a partir do episódio do Rodrigo Santoro (na verdade, até um pouco antes, acho que no episódio da Kombi do Hurley já) a série começa um crescendo fantástico que culmina no melhor final até agora. Mal posso esperar pela quarta temporada.
Salve, rapaziada.
Rodrigo, na verdade eu gosto bastante de Lost (risos). Mas demorei para começar a ver a série, só fui fazer isso na na segunda temporada.
Qualquer dia jogo os números misteriosos na loteria. O problema é que deve haver milhões de pessoas fazendo isso...
Dom Patrício,
Santoro é um dos sobrenomes (apellidos, em espanhol) mais comuns na Itália, de modo que meu eventual parentesco com o ator é matéria para especulação. Provavelmente não há ligação, visto ele ser muito menos favorecido pela natureza.
Vítor,
por coincidência a Nicole também falou do final da temporada no blog dela. Estou começando a ficar curioso.
Abraços
Mauricio
o que me incomoda nessa historia toda do Lost é que ninguem, no meio dessa comoçao toda, parece lembrar do velho
Bioy Casares que imaginou essa trama na Invençao de Morel.
Qunato ao livro de Lobo Antunes (na verdade uma compilaçao de cartas, que adoro ler quando se trata de um grande) chama-se D'este viver aqui nesse papel descripto, ed Don Quixote, Lisboa.
abcs Helio
Salve, Hélio.
Eu não li "A Invenção de Morel", mas pelo (pouco) que conheço do enredo, me parece que você está coberto de razão.
Mas talvez os produtores da série tenham chegado a um resultado parecido por um caminho diferente. Afinal, "Lost" tem várias citações literárias e filosóficas, mas nenhuma ao escritor argentino.
Abraços
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