quinta-feira, 14 de junho de 2007

Seis Dias e 40 Anos de Guerra



Há poucos dias foi o aniversário de 40 anos da Guerra dos Seis Dias. Simultaneamente, começou outro conflito: a guerra civil palestina, opondo Fatah e Hamas.

Em junho de 1967 Israel derrotou numa guerra-relâmpago as tropas do Egito, da Síria e da Jordânia, conquistando Jerusalém Oriental, Cisjordânia, Faixa de Gaza, a península do Sinai e as colinas de Golã. A estrondosa vitória bélica gerou um problema político que até hoje não foi resolvido: o que fazer com os territórios tomados pelas armas e com os milhões de palestinos que passaram a viver sob ocupação militar israelense?

Muita coisa mudou no Oriente Médio desde então. Os regimes nacionalistas seculares árabes foram enfraquecidos pelo fundamentalismo islâmico. Egito e Israel firmaram a paz em 1979 e os israelenses se retiraram do Sinai e, mais recentemente (2005), da Faixa de Gaza. Desde os acordos de Oslo (1994) a Autoridade Nacional Palestina recebeu poderes limitados para administrar territórios na Cisjordânia e em Gaza.

A Organização para a Libertação da Palestina foi fundadada em 1964 e cresceu à sombra da derrota árabe de 1967. Era um guarda-chuva que abrigava diversos grupos (a Fatah é o mais importante). O fundamentalismo religioso ascendeu atacando a liderança da OLP com argumentos parecidos aos que a organização utilizara contra os governantes árabes do passado. A vitória do Hamas nas eleições de 2006 mostrou o tamanho da insatisfação da população palestina.

O governo de coalizão de um presidente nacionalista com um primeiro-ministro islâmico estava fadado ao fracasso - o estopim foi a disputa pelo controle do aparato de segurança e dos cargos públicos, fundamentais numa economia arrasada. Nos últimos meses, EUA e Israel deram armas e dinheiro à Fatah, fortalecendo a guarda presidencial e esperando que ela fosse capaz de conter os militantes do Hamas. Até agora, o grupo tem levado a melhor e praticamente tomou a Faixa de Gaza.

Diante de um quadro tão terrível com relação às perspectivas de paz, é natural que as pessoas olhem para o passado e se perguntem como as coisas poderiam ter sido diferentes. O jornalista israelense Tom Segev faz isso num interessante artigo para o New York Times, no qual questiona a sabedoria de Israel ter ocupado territórios árabes em 1967:

“Os planejadores políticos mais importantes de Israel tinham determinado seis meses antes da Guerra dos Seis Dias que capturar a Cisjordânia seria mau para o país. Documentos governamentais israelenses recentemente liberados mostram que, de acordo com esses analistas, tomar a Cisjordânia enfraqueceria a força relativa da maioria judaica em Israel, encorajaria o nacionalismo palestino e levaria à resistência violenta.”


Recentemente, Shimon Peres - o ex-negociador de Oslo eleito esta semana presidente de Israel (seu antecessor no cargo está sob investigação por estupros) - disse algo parecido em entrevista à GloboNews. E o premiê Ehud Olmert agora fala numa força de paz internacional em Gaza. O enviado da ONU ao Oriente Médio acabou de se aposentar, e redigiu um relatório no qual ataca Israel e EUA, afirmando que a política adotada pelos dois países contribuiu para a escalada do conflito na Palestina.

Segev diz que sua geração era idealista e acreditava na paz, ao passo que a atual seria mais cética e desencantada, ainda que por isso mesmo mais capaz para a tarefa urgente: encontrar meios de administrar o conflito, dada a impossibilidade de resolvê-lo. Acho que mesmo essa ambição modesta é otimista demais.

2 comentários:

Anônimo disse...

Qué difícil é pra americanos da nossa generaçäo, compreender guerras basadas na religiäo e na raza! Näo cree, Maurício? Pra mim já é complicado compreender por qué existem as guerras, e ainda mais se säo pela diversidade, origem da identidade do nosso continente!
Um abraço, meu amigo

Maurício Santoro disse...

Pois é, Patricio, e nós reclamamos dos nossos países...

No sábado eu dava aula na universidade e discutíamos a questão da mistura de culturas, e das reações fundamentalistas que às vezes ocorrem nesses processos. Por aqui, felizmente, predomina o diálogo.

Abraços