sábado, 8 de dezembro de 2007

Think Tanks e Política Externa dos EUA



Como você muda o mundo? Bem, existem os caminhos óbvios, como tomar o poder, ser absurdamente rico ou trabalhar pesado por meio do processo eleitoral. E existem os atalhos, como o terrorismo ou formar um think tank.
Steve Waters


Minha amiga Tatiana Teixeira acaba de lançar o livro “Os Think Tanks e sua influência na política externa dos EUA” (Editora Revan). O texto recebeu o Prêmio Franklin Roosevelt 2007 da embaixada americana no Brasil como melhor dissertação de mestrado brasileira (defendida no program de Relações Internacionais da UFF) sobre Estados Unidos. Não é para menos: o excelente estudo da Tatiana examina de maneira brilhante a interlocução entre meio acadêmico, consultorias e a política externa americana, concentrando-se na ação dos neoconservadores no governo George W. Bush.

Os thinks tanks são instituições muito importantes em qualquer debate sobre políticas públicas nos Estados Unidos. Contudo, o termo não tem definição clara. Tatiana nos ensina que a expressão nasceu das salas onde se discutiam planos de guerra e foram utilizadas para denominar organizações que se dedicam à pesquisa, estudo e consultoria, visando a influenciar a opinião pública e os líderes políticos americanos. São cerca de 1.500, só nos Estados Unidos. Produzem análises e informações, realizam debates e procuram pautar a imprensa. Empregam acadêmicos, jornalistas, políticos que deixam o governo e funcionam como rede de contatos pessoais entre as elites de determinados setores políticos.

Os primeiros think tanks surgiram após a I Guerra Mundial e Tatiana conta a história de sua expansão, examinando os momentos principais de crescimento e transformação, como a Grande Depressão e os anos 1970. Ela ressalta o papel que as crises políticas tiveram nessas mudanças e mostra os diversos tipos de think tanks e sua vinculação com as principais correntes de opinião dos EUA – conservadores, liberais, centristas - tais como Council on Foreign Relations, Brookings Institution, RAND Corporation.

O governo Bush é um estudo de caso particularmente interessante pela grande influência desempenhada pelos think tanks dos neoconservadores, como Project for the New American Century, Heritage e American Enterprise Institute. Sua influência pode ser medida pelo discurso do presidente num jantar desta última organização: “Vocês fazem um trabalho tão bom que minha administração pegou emprestadas 20 destas mentes.” Na foto do post - Bush cumprimenta membros da organização.

Tatiana analisa as distinções entre os necons e a direita tradicional dos EUA – aprendi muito com seu estudo, ignorava vários dos pontos que ela destaca, sobretudo na área de política econômica. Ela examina com brilhantismo o casamento de conveniência entre neocons e setores como a direita cristã, do governo Reagan em diante e como os necons conquistaram poder após os atentados de 11 de setembro, ao oferecer uma agenda pronta para a diplomacia americana no Oriente Médio.

A autora é uma jornalista experiente com passagens pelo Globo, Agência Efe e atualmente na France Presse. Isso significa, além do texto claro e objetivo, muitas observações pertinentes sobre as relações entre imprensa e think tanks. Como repórteres apressados por prazos curtos freqüentemente recorrem aos “suspeitos de sempre” como entrevistados e como a obsessão de muitos think tanks com presença na mídia os leva a simplificações perigosas, transformando análises em slogans políticos facilmente memorizáveis e empobrecendo o debate democrático. Alerta importante que merece consideração de jornalistas e de acadêmicos.

4 comentários:

Geraldo Zahran disse...

Maurício,

Você sabe se a dissertação dela está disponível online? Tenho interesse pelo tema e queria ver as fontes que ela usou, pois conheço gente tranalhando com o assunto aqui e talvez fosse legal colocá-los em contato. Caso contrário vou tratar de comprar o livro da próxima vez que estiver por ai.

Grande abraço,

obs: sobre sua pergunta sobre políticos britânicos, vou escrever sobre o assunto em breve

Anônimo disse...

Tentei te ligar ainda há pouco: peguei o "The Israel Lobby" do Mearsheimer e do Walt para ler e queria saber se gostaria de uma cópia - consigo um bom preço.

Seu celular ainda é o mesmo?

Abraços,
Júlio

Maurício Santoro disse...

Salve, Geraldo.

O livro ainda não está disponível online, mas enviarei seu contato para a Tatiana e pedirei para ela te escrever. De repente ela pode enviar um exemplar ou mandar o arquivo da dissertação por email.

Grande Júlio,

obrigado pelo oferecimento, mas eu li o artigo dos dois, que deu origem ao livro (ele estava disponível na Internet). É um bom texto e dá para puxar um belo debate a partir dele.

Abraços

Anônimo disse...

Li um texto de Tatiana intitulado "Os thinks tanks norte-americanos e sua fábrica de visões do mundo" (pronome sua? no singular?): o texto é horrível e não apresenta qualquer diálogo entre duas posições. Tenho pena de Tatiana Teixeira e lamento profundamente pelo engano a que essa jornalista foi submetida. Tatiana só demonstra ser uma pessoa totalmente ignorante da história contemporânea dos EUA, das tendências ideológicas dos democratas desde 1930 e das imensas infiltrações de espiões russos nos EUA bem antes da Guerra Fria, sem falar dos descaminhos de muitos republicanos! Tatiana deixa de fazer coisa simples e básicas, que um intelectual intelegente e honesto poderia fazer ao falar da guerra fria no campo ideológico, algumas das quais cito: ela não citou as atividades de inúmeros democratas simpaticos ao socialismo na chamada CFR: todo mundo sabe que esta organização é um verdadeiro centro de encontro de políticos simpatizantes do socialismo! Ora, Tatiana sequer resvalou no assunto! E como ela se autoriza a dizer que thinks thanks e coisa de conservador??? Outra coisa que a autora sequer sonhou em mencionar: o The New York Times é jornal completamente de esquerda e avesso ao conservadorismo americano: é um jornal de grande alcance e, portanto, um tipo de think thank que dissemina justamente o ódio aos norte-americanos; pergunto: isso é coisa de republicano? E ainda: a pobre Tatiana não dissertou que Jimmy Carter, Bill Clinton (e muitos outros), por meio da CFR, e fundações como Ford e Rockefeller, há muito muito tempo vem ditando as regras em "nome" do povo norte-americano e da direita nacional dos EUA por diversos meios! Ah, e FHC deu uma passadinha por lá! É lamentável ver isso. Certamnte as ações de Barack Obama (como a de atacar a Síria por meio da OTAN) na visão de Tatiana é coisa de republicano! Será que Tatiana não é capaz de perceber que até hoje se vem acusando conservadores e republicanos norte-americanso do que a esquerda norte-americana vem praticando há muito e muitos anos?