quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Dez Anos de Política Externa
Ontem foi meu último dia de breves duas semanas de férias. Aproveitei o tempo nos preparativos da mudança para Brasília, mas também para me atualizar em bons eventos acadêmicos que ocorreram no Rio de Janeiro nesse período. A chave de ouro foi o seminário de comemoração aos dez anos de atividades do Centro Brasileiro de Relações Internacionais. O encontro reuniu no Itamaraty o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e diversos diplomatas que conduziram a política externa ao longo das últimas duas décadas, como os chanceleres Francisco Rezek, Luiz Felipe Lampreia Celso Amorim (além do próprio FHC, que exerceu o cargo no governo Itamar Franco), embaixadores como Samuel Pinheiro Guimarães, Marcos Azambuja, Sebastião do Rego Barros, Roberto Abdenur, José Botafogo Gonçalves e o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia.
A síntese das apresentações é que o Brasil está num momento de transição: deixou de ser apenas uma potência regional e caminha para um status global, que ainda não alcançou. Na ausência de inimigos externos, os principais obstáculos no percurso são as fragilidades internas do país e sua relação por vezes tensa com os vizinhos sul-americanos. Houve uma notável convergência entre pessoas ligadas ao PSDB e PT, eu diria que o consenso abrange uns 80% ou 90% da discussão, que se deu de modo muito cordial, bastante diferente da polarização estúpida que tem dominado o debate sobre política externa no Brasil, em particular no que toca à América do Sul.
Os pontos altos do evento foram as palestras do ex-presidente Fernando Henrique e da minha mentora acadêmica, professora Maria Regina Soares de Lima. A mestra ressaltou que as conquistas econômicas brasileiras - a estabilidade macroeconômica e a expansão internacional das empresas do país - destacaram o Brasil dos vizinhos de continente, o que pode se tornar um foco de tensões. Ao mesmo tempo, esses são exatamente os fatores que impusionam o país para posições de liderança no âmbito internacional. Regina apontou a dificuldade de que a opinião pública brasileira rompa o provincianismo intelectual nacional, típico de nações de tamanho continental, e reflita sobre o papel brasileiro no mundo.
A conferência de Fernando Henrique seguiu linha semelhante - muito parecida ao seu excelente artigo "Um Mundo Supreendente", que abre o livro "Brasil Globalizado", coletânea organizada por Fábio Giambiaggi e Octavio de Barros. O ex-presidente se concentrou na análise da ascensão da China e da Índia e das oportunidades criadas para o país, no sentido de fortalecimento do multilateralismo. O mais interessante foi seu exame do que se passa com os Estados Unidos. Nas palavras de FHC: "O império americano está em declínio, mas permancerá sua influência de soft power", pela via das universidades, do sistema de inovação empresarial, da força institucional.
Muitos diplomatas chamaram a atenção para que o Brasil atual superou deficiências históricas que muito prejudicaram o país no passado. Não apenas a inflação, mas também a dependência das importações de petróleo, o peso da dívida externa e o mau desempenho das exportações.
Algo que também me espantou foi como a comunidade brasileira de política externa está em crescimento. A quantidade de pesquisadores e estudantes do tema tem se multiplicado. Foi fantástico ver a multidão que se encontrou ontem no Itamaraty, um contraste marcante dos pequenos grupos que se reuniam no início do CEBRI. O perfil dos participantes também mudou: mais jovens, claro, e também uma presença feminina muito maior do que o clube do bolinha da diplomacia da velha guarda.
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4 comentários:
Mauricio, vi seu blog na comunidade sobre Sergio Vieira, e adorei.Tenho 17 anos e vou fazer vestibular para
RI,participo de simulações no rio e seu blog será muito útil!!Já está nos meu favoritos.Parabéns pelo blog!
Bacana, suas férias parecem sempre políticas, rs. Que dê pra gente ver o globo, do Brasil. Mas a visão provinciana é arraigada mesmo nas universidades... obrigado pelas boas informações.
Salve, Luísar e Ícaro,
que bom que o blog serve para alguma coisa (risos)! Fiquem à vontade.
Abraços
Participei do Seminário no Itamaraty- RJ, foi meu primeiro contato em eventos deste nível, e ressalto, que evento! Muito bom, me senti privilegiada de estar naquele local, ouvindo pessoas que tanto tem a acrescentar neste âmbito. Bom seria que debates e explanações como tivemos naquele local pudessem ter mais vezes aqui no RJ. Ah... e espero realmente que as mulheres encontre seu devido espaço, neste segmento dominado pelos muito bem alinhados engravatados de ternos pretos...rs!
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