segunda-feira, 15 de setembro de 2008

A Itália de Berlusconi


Houve um tempo em que a Itália era referência para a esquerda mundial, tanto pela notável qualidade de seus pensadores e artistas quanto pelas gestões municipais bem-sucedidas do Partido Comunista. Naturalmente, esse quadro pertence a um passado distante. A Europa atual é conservadora, de direita ou de centro, e mesmo nesse cenário a vida política italiana como sendo particularmente refratária às mudanças. O símbolo mor desse imobilismo sem dúvida é o primeiro-ministro e magnata da mídia Silvio Berlusconi, alvo do documentário satírico "Viva Zapatero!", dirigido pela humorista Sabina Guzzanti.

Guzzanti é famosa por seu humor mordaz e em pleno reinado de Berlusconi foi convidada pela TV pública, a RAI, para montar um programa cômico sobre a política italiana. Durou apenas uma apresentação. Apesar do sucesso de audiência, a emissora o cancelou quando a metralhadora giratória de Sabina se voltou contra o primeiro-ministro, em particular os riscos da concentração de poder em suas mãos oriundos do controle das emissoras públicas e e de suas próprias empresas privadas.

O caso não foi isolado. Além de Guzzanti, jornalistas de prestígio na Itália, como Enzo Biagi (que narrou a queda do fascimo em 1943!) e Michele Santoro (nenhum parentesco com este blogueiro!) perderam os empregos na RAI por suas críticas a Berlusconi. "Viva Zapatero" é um acerto de contas de Guzzanti com a cultura da censura e do medo que se instalou na Itália, e que levou o país a ser classificado pela Freedom House como "parcialmente livre" no que toca à imprensa, na mesma escala de muitas nações latino-americanas e africanas.



O título faz menção à decisão do primeiro-ministro da Espanha de retirar seu poder de nomear os executivos da TV pública, mas apesar da referência os modelos que Guzzanti cita no filme são o Reino Unido e a França, cujos jornalistas e humoristas comentam horrorizados os rompantes autoritários que observam na Itália. Um exemplo é o editor da revista britânica The Economist, que fala sobre os processos milionários que Berlusconi moveu contra a publicação - aliás, ele perdeu!

Indignação ausente em boa parte da oposição italiana, cujos interesses se misturaram tanto aos de Berlusconi que por vezes é difícil distingir quem é governo e quem o critica. Muitos dos melhores momentos do filme vêm dos depoimentos constrangedores dos líderes oposicionistas.

Os governistas são mais diretos e basicamente afirmam que Guzzanti não fazia "sátira" ou "humor", mas jornalismo, e que portanto tinha a obrigação de ser imparcial. Tanto quanto os jornais de Berlusconi, presume-se, e os retratos da mídia oficial oferecidos no filme são impagáveis, e fazem a Fox News ou a Veja parecerem... Bem, fazem com que eles se pareçam como as versões locais da mediocridade italiana.

2 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Sem dúvidas, o Berlusconi näo é o exemplo a siguer!
Ao menos seu clom argentino, o Mauricio I da Casa de Macri, näo tem inversöes na média. Esperemos que isso siga assim.
Saludos!

Maurício Santoro disse...

Bem, o bom e velho Macri já imitou o Berlusconi ao virar presidente de um time de futebol, espero que ele não resolva também copiá-lo na questão da imprensa, para o bem da Argentina...

Abraços