quinta-feira, 23 de julho de 2009

Impasse em Honduras


As negociações entre o presidente deposto Manuel Zelaya e o governo golpista de Honduras caíram num impasse perigoso, que pode degenerar facilmente em violência e na disseminação da crise para outros países da América Central, sobretudo Nicarágua.

O isolamento hondurenho se tornou mais intenso nos últimos dias, com a decisão das autoridades do país em se retirar da Organização dos Estados Americanos e a suspensão da ajuda econômica por parte da União Européia. A tática do governo golpista é - para citar reportagem da BBC:

"Tendremos elecciones generales para un nuevo presidente dentro de pocos meses. Y si estamos aislados durante cinco meses, bueno, pues pasaremos por ello. Mejor eso que estar bajo la agenda de Chávez durante los próximos 20 o 15 años", aseguró a la BBC Martha Lorene de Casco, sub-secretaria para asuntos exteriores del gobierno interino.

"Después de que se celebren las elecciones democráticamente, la comunidad internacional tendrá que dar un paso atrás, y reconocer al nuevo gobierno de Honduras", comentó Juan Ramón Martínez [diretor do jornal hondurenho La Tribuna].


O golpe em Honduras teve amplo respaldo das Forças Armadas, do Congresso e dos empresários. A popularidade de Zelaya é baixa – menos de 1/3 da população o apóia – o que torna sua situação bem mais difícil do que, digamos, a de Hugo Chávez em 2002, quando a mobilização social em Carcas conseguiu reverter a deposição do presidente.

A armadilha em que Zelaya caiu é que precisa dos aliados internacionais – em particular Hugo Chávez e Daniel Ortega, o presidente da Nicaragua – para ter esperanças de retornar ao poder. Mas são justamente tais vínculos externos as razões principais de sua rejeição em Honduras.

Zelaya optou por discursos inflamados, que ameaçam com o lançamento de uma insurreição armada no país. É claro que isso contribui para o medo e a incerteza da população, que ainda sofre com a censura e o toque de recolher. Seu comportamento também gera receios e apreensões nos Estados Unidos, que os governos da ALBA continuam a acusar de ter lançado o golpe, não obstante os esforços da administração de Obama em mediar a crise.

O impacto regional mais sério é na Nicaragua, onde o presidente Daniel Ortega lançou proposta para uma reforma constitucional que permita sua reeleição. O anúncio foi feito no aniversário de trinta anos da Revolução Sandinista, e serviu apenas para ilustrar a crise do antigo movimento rebelde. Muitos ex-combatentes romperam com o Ortega, sob acusações que vão da corrupção ao abuso sexual, e incluem temores sobre o futuro da democracia na América Central. Depois de Honduras, não se pode mais tomar como certo esse desfecho feliz.

4 comentários:

carlos disse...

salve, santoro,

caramba. tristes trópicos.

lendo seu post, realista por sinal, me vem aquele desânimo típico dos pessimistas.

para se livrar da herança política dos anos de chumpo, a américa latina irá percorrer um caminho longo demais. se conseguir desvios ou curvas no caminho haverá menos dor. mas que desvios? que curvas?

abçs

Helvécio Jr. disse...

Salve Jogador,

Será que o Chavéz acha mesmo que pode criar um pólo de poder na AL? eu duvido!

Antigamente creditavam os golpes a algum plano da CIA. O fato é que atualmente eu não consigo entender a posição do governo Obama. Sei que ele não vai mandar os Marines, mas não tem se posicionado muito sobre esse tema não é?

abraços.

Helvécio Jr. disse...

Li também que na proposta do governo interino há uma "quase anistia" para Zelaya. Embora não posso concorrer às eleições.
Nos EUA republicanos acham Zelaya uma ameaça e os democratas querem ele de volta ao poder para instalar um plano de monitoramento.

Estranho, acho que não vingará!

Maurício Santoro disse...

Salve, Helvécio.

A reação do governo Obama me parece um tanto confusa, meu palpite é que a administração usa a crise hondurenha para marcar posições com relação à América Latina, deixando claro que o jogo agora é diferente do que era com Bush. Mas que ainda não há definições precisas dos novos rumos da diplomacia americana para a região.

Pegando o gancho do Carlos, acho que o mais provável é uma solução de conciliação na linha "nem Zelaya, nem os golpistas", com a realização de novas eleições em breve.

Isso parte do pressuposto de que Zelaya não conseguirá mobilizar apoio suficiente para lançar uma rebelião ou criar uma crise de grandes proporções para os golpistas.

Abraços