quarta-feira, 22 de julho de 2009

Lieberman na América Latina



A visita à América Latina do ministro das relações exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, é reativa, e procura conter a expansão da influência do Irã na região, sobretudo os projetos de cooperação na área de energia com os países da ALBA. Os objetivos são modestos, mas a viagem despertou enorme controvérsia, em função das posições políticas do chanceler.

Lieberman é a estrela em ascensão em Israel, por sua representação da imensa comunidade de imigrantes da ex-URSS e por suas opiniões nacionalistas intransigentes, contrárias ao processo de paz iniciado na década de 1990 e suspeitosas diante dos cidadãos israelenses de origem árabe.

Plataforma extremista que ganhou força com a insegurança dos eleitores diante do mau desempenho militar na guerra contra o Hezbolá, dos intermináveis conflitos da Segunda Intifada e do desenvolvimento do programa nuclear do Irã. No quadro de descrédito da liderança política tradicional, da fragmentação dos maiores partidos (Likud e Trabalhista), da dificuldade de consolidação da alternativa de centro (Kadima), O “Israel Nosso Lar” de Lieberman se tornou o aliado essencial de qualquer coligação que aspire ao poder.

É um tremendo posto para quem nasceu na Moldávia, uma das mais pobres das ex-repúblicas soviéticas, largou a escola na adolescência, trabalhou como segurança de boate e emigrou para Israel aos vinte anos. Como tantas vezes acontece com imigrantes, adotou uma versão extrema do nacionalismo – algo especialmente sensível para a comunidade oriunda da URSS, que muitos israelenses vêem com desconfiança, receosos de que seus membros tenham ido para o Oriente Médio mais por razões econômicas do que por motivos religiosos ou culturais.

As opiniões mais controversas de Lieberman dizem respeito ao seu tratamento dos árabes que são cidadãos de Israel – uma significativa minoria de 20% da população. Ele propôs a adoção de “juramentos de lealdade” para essas pessoas (e também para religiosos judeus que rejeitam o sionismo) e acusou colegas de parlamento de serem terroristas, em função de sua ascendência árabe.

Israel é bem mais diverso e pluralista do que a imagem que em geral se faz do país e Lieberman representa um segmento importante, mas não único, de sua população. Difícil acreditar que seu rechaço ao processo de paz tenha futuro, uma vez que terá que adotar compromissos com aliados fundamentais como os Estados Unidos e o Egito. Também há uma forte divergência do ministro com Obama, com relação ao futuro das colônias na Cisjordânia.

5 comentários:

carlos disse...

salve, santoro,

pelo menos esse rapaz não é de meias palavras. seus interlocutores sabem exatamente o que ele está falando, né não?

concentra em si a direita mais ortodoxa de israel, se isso quer dizer alguma coisa, e messianicamente prega a cassação da cidadania de árabes-israelenses e a destruição da autoridade palestina. no front externo,pra variar, brada por um ataque preventivo ao irã.

duvi dê ó dó se essa coligação de governo israelense tenha vida longa, dada a conjuntura atual dos eua, europa e américa latina.

a propósito, será que a "república leblon-morumbi" vai protestar contra a visita dessa insígne figura?

abçs

Marcelo L. disse...

Mais estranho da falta de críticas de parte da imprensa ao Ministro do Estado de Israel é que além da força de armas convencional, ele tem armas nucleares, biológicas e químicas e tem um discurso nitidamente expansionista. E o Brasil não tem assim tantos interesses comerciais com Israel ao contrário do Irã, curioso que as críticas a nossa diplomacia sempre são que ela não faz política de resultados comerciais e agora parece que querem o contrário.

Maurício Santoro disse...

Caros,

Há muita hostilidade na imprensa brasileira ao aprofundamento das relações com o Irã - por boas e más razões - e isso tem se traduzido numa cobertura sobre a visita de Lieberman que, digamos, pintou uma imagem bem mais moderada do chanceler. Que é uma figura controversa em seu próprio país.

A questão é que o Brasil tem fortes interesses comerciais tanto com Israel quanto com o Irã. Por exemplo, há um acordo de livre comércio entre o MERCOSUL e Israel, que aguarda apenas a aprovação do Congresso.

Pessoalmente, acho que o governo brasileira deveria ter sido mais cauteloso diante dos conflitos nas eleições no Irã, mas estou plenamente de acordo quanto à riqueza de possibilidades econômicas no Oriente Médio, além dos fortes laços sociais entre o Brasil e o Líbano - há mais descendentes de libaneses aqui do que no próprio país do cedro!

Abraços

Patricio Iglesias disse...

Meu caro amigo:
Concordo totalmente com os laços sociáis entre nossas culturas. Savia que no Líbano conhecem a "yerba mate" pelas relações familiares?
Saludos!

Maurício Santoro disse...

Salve, Patricio.

Não, não sabia, mas conhecia a importância da imigração sírio-libanesa também na Argentina. Ainda que tenha dado coisas como o Menem...

Abraços