sexta-feira, 30 de abril de 2010

Azarão Colombiano



Nesta semana Antanas Mockus, ex-prefeito de Bogotá e candidato do Partido Verde à Presidência da Colômbia, passou para o primeiro lugar nas pesquisas à sucessão de Álvaro Uribe, desbancando o oficialista Juan Manuel Santos - ex-ministro da Defesa, primo do vice-presidente, sobrinho-neto de outro presidente e membro da família que é a maior empresária de mídia do país. Mockus é uma personalidade original e controversa que mostra que a alta popularidade de Uribe não significa a adesão da população à continuidade de seu projeto político.

Conheci Mockus há alguns anos, quando ele visitava o Brasil como consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Na ocasião, conversamos bastante. Entrevistei-o sobre suas experiências como prefeito de Bogotá e fui o mediador num debate entre ele e estudantes brasileiros e colombianos. Saí bem impressionado do encontro e intrigado com vários aspectos de sua personalidade.

Filho de imigrantes da Lituânia, ele é matemático, e havia feito carreira como professor e administrador universitário antes de entrar na política. É um forasteiro na elite colombiana, onde as famílias tradicionais - Vargas Lleras, Restreppo, Uribe, Santos - costumam ocupar os principais cargos do Estado por gerações a fio. Não se encaixa facilmente nas classificações fáceis de esquerda x direita que em geral dominam as disputas eleitorais na Colômbia.

Suas duas gestôes à frente de Bogotá foram inovadoras, com a implementação de medidas inusitadas para combater a violência cotidiana - uso de mímicos para ridicularizar motoristas infratores das leis de trânsito, dias de "vacinação contra a violência", toque de recolher para homens em algumas noites de sexta-feira. Suas iniciativas de marketing pessoal foram mais controversas, como se fantasiar de super-herói e casar num circo - nem sua mãe compareceu à cerimônia. Promoveu uma dura repressão contra vendedores de rua, que também foram bastante criticadas. Mas o resultado geral foi admirável: a taxa de homicídio caiu para menos da metade.



Mockus é um homem de grande habilidade no trato com a mídia e se saiu muito bem nos debates de TV (assim como outro azarão, Nick Clegg, do Partido Liberal-Democrata britânico) e usa com maestria novas tecnologias, como redes sociais - sua página no Facebook tem mais de 400 mil seguidores. Isso ajuda a explicar seu acelerado e surpreendemente crescimento, em poucas semanas. Sua mensagem - continuar a luta com as guerrilhas, mas respeitar os países vizinhos e focar a ação do Estado em educação e cultura - encontrou eco entre os eleitores. Aparentemente, os colombianos admiram a restauração da segurança e do crescimento econômico por Uribe, mas estão cansados da violência oficial, dos escândalos de corrupção, dos vínculos das autoridades com os grupos paramilitares.

6 comentários:

Luiz Rodrigues disse...

Maurício,

Você como sempre tem uma leitura interessante e lúcida da realidade regional. Eu estava esperando por esse post! Queria saber quem era este senhor que desponta nas pesquisas colombianas.

Maurício Santoro disse...

Um sujeito muito interessante, meu caro. Com ele na presidência, vamos ter um período para olhar a Colômbia com bastante atenção.

Abraços

Anônimo disse...

Se eu fosse o Lula, morreria de medo do Mockus ganhar... O colombiano vai imediatamente roubar a posição de darling da imprensa internacional que hoje é do Lula.

Maurício Santoro disse...

É possível... Ou pelo menos, ele é muito mais divertido do que Serra e Dilma. Embora eu possa dizer o mesmo de 90% da população mundial.

Abraços

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Faz uma semana lembrava o Mockus quando vi no Facebook que a coletividade lituanodescendente na Colômbia era muito importante.
Estando com fantasia me faz lembrar ao Jorge Telerman, prefeito de Bs. As. (2006-7), que fazia coisas assim.
Abraços!

Patricio Iglesias

Maurício Santoro disse...

Salve, dom Patricio.

Pois é, mas agora vocês tem o Macri, reabrindo o Teatro Colón e fazendo campanha eleitoral... O Mockus é mais divertido!

Abraço