quinta-feira, 10 de junho de 2010
Quarto Round
O Conselho de Segurança da ONU aprovou com 12 votos favoráveis a quarta rodada de sanções contra o Irã. Pela primeira vez houve países contrários: Brasil e Turquia. O Líbano se absteve. Há muitas divergências entre os vencedores, em particular pela oposição da China a medidas que atinjam duramente a República Islâmica. A Rússia também expressou sérias reservas. O resultado foi um pacote de sanções muito frágeis, sem condições para forçar mudanças de atitudes no governo iraniano.
O cerne da nova iniciativa é a Guarda Revolucionária, o corpo militar de elite que tem ganhado importância política como instrumento da repressão ao movimento democrático no Irã. A Guarda tem ampla rede de atividades econômicas e seu banco foi um dos alvos deste pacote.
O ponto com maior potencial de conflito é a inspeção de navios que sejam suspeitos de carregar material nuclear. Isso cria o risco de um enfrentamento com mortes, como o que ocorreu em Gaza na semana passada.
As sanções da ONU são consideradas o prelúdio para a imposição de novas medidas contrárias ao Irã por parte dos Estados Unidos e da União Européia. De 1979 em diante, Washington acumula longa lista de sanções contra Teerã.
O argumento dos países que apoiaram as sanções é que sua implementação mostraria a determinação da comunidade internacional em fazer com que o Irã cumpra o Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares, e que isso forçaria Teerã a negociar.
Dificilmente isso irá acontecer, uma vez que a economia iraniana não será muito atingida pelas novas medidas acordadas pelo Conselho de Segurança. O mais provável é que o Irã procure se apresentar como vítima da intransigência das grandes potências, talvez tentando algum gesto contra Israel (como enviar navios para tentar furar o bloqueio de Gaza) e levando adiante sua política de diversificação de alianças.
Afinal, em meio à pressão sobre seu programa nuclear, em maio o governo iraniano conseguiu ser eleito para a Comissão da ONU sobre o Status das Mulheres. Nada mal para um país onde elas desfrutam de tão poucos direitos. Em junho se completa um ano da “Revolução Verde”, pró-democracia, e de sua repressão pelas autoridades.
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5 comentários:
E agora, será que o Iran vai ceder? Porque os EUA certamente não irão..., e quando eles querem invadir eles invadem.
Difícil os EUA invadirem o Irã no curto prazo, viu, Angélica, por pelo menos três motivos: 1) a defesa da política de interevenção é uma bandeira da qual os Republicanos se apropriaram muito bem na última década, os Democratas devem evitar seguir essa linha tanto por terem uma ideologia menos belicista (mas não necessariamente passiva, basta lembrar dos Bálcãs) quanto por estratégia eleitoral, para poderem justificar seu espaço no mercado de votos americano (afinal, se é para invadir, por que não votar nos falcões Republicanos que o fazem com muito mais convicção?); 2) A decisão de invadir não se daria no vácuo, mas no esteio de duas ações militares no Oriente Médio que trouxeram mais dificuldades aos EUA do que se poderia prever. A opinião pública americana sabe que o Irã é osso muito mais duro de roer do que o Afeganistão e o Iraque, uma guerra dessas teria um custo alto demais para um presidente que já se desgastou bastante com os déficits orçamentários e com a reforma do sistema de saúde. 3. Israel tem tomado medidas tão reprováveis que está provocando reações não só da opinião pública americana, que já é crítica deste Estado há algum tempo, mas mesmo do Estado americano, que tem sido seu maior aliado nos últimos 60 anos. Isto também aumenta o custo político da guerra EUA x Irã, da qual os israelenses seriam os maiores beneficiários (se os EUA ganharem, é claro).
Isto dito, pode haver sim uma proxy war via Israel propriamente dito ou por alguma aliança militar internacional, que aliviaria o peso das costas dos americanos. O Irã é amplamente reconhecido como um Estado-pária que tem um governo violento e ilegítimo, e seria bem mais fácil aprovar uma resolução militar na ONU contra os iranianos do que foi contra o Iraque. Saddam Hussein nunca dissse que queria varrer Israel do mapa.
Acho uma pena que o Brasil tenha entrado nessa disputa tão claramente a favor das pretensões nucleares daquele governo. Do ponto de vista exclusivo da chancelaria brasileira, o resultado foi positivo: a sinalização americana, à época das negociações, de que as conversas com Brasil/Turquia seriam as últimas chances de o Irã voltar atrás em seu projeto nuclear definitivamente selou o papel do país como um interlocutor de relevo de nível global, não apenas regional. Do ponto de vista da paz, no entanto, que é a que mais interessa, o Brasil atuou (e se isolou, juntamente com a Turquia) como um player leniente com um governo que ameaça bombardear um vizinho. O acordo a que se chegou avançava muito pouco em questões substantivas como o nível de enriquecimento que o Irã poderia fazer e tinha como meta deixar os três países bem na foto: Brasil e Turquia como novos negociadores e o Irã com mais tempo para tocar o projeto para a frente, até que se provasse que o Irã estava descumprindo o acordo e se conseguisse articular novamente os mecanismos de dissuasão. Se a "comunidade internacional" (não me vem um termo melhor) tivesse aceitado aquele acordo, esses três países teriam atingido seus objetivos, mas o Oriente Médio estaria, na minha opinião, mais instável. Infelizmente, a alternativa a que se chegou também não é boa -- sanções econômicas são reconhecidamente ineficazes e costumam atingir mais a população do os governos a quem elas se destinam -- mas realmente é difícil pensar em conclusões satisfatórias quando o assunto é Oriente Médio.
Oi Rafael,
Entendo seu ponto de vista, mas tenho motivos para crer que os Estados Unidos não deixarão de tomar a iniciativa de invadir o Irã caso este não ceda porque:
1 - Qual o significado de deixar Israel tomar a iniciativa de guerra?
2 - A escolha do presidente Obama foi sim uma tentativa de mudar para um governo menos belicista, e sim, a decisão de invadir um país forte como o Irã não dá nenhuma garantia de vitória futura (mas isso creio que eles já devem ter aprendido, não somente após Iraque e Afeganistão, ainda tem o Vietnã), mas se a proposta das sanções veio dos Estados Unidos, porque agora eles iriam passar a "responsabilidade de guerrear contra o Irã" para Israel? Apesar do governo Obama ter uma postura diferente da dos governos Bush pai e filho o país não ficará inerte caso as sanções não surtam o efeito esperado, justamente porque é do Oriente Médio que estamos falando;
Quanto ao acordo assinado (mediado por Brasil e Turquia) seria uma possibilidade de abertura para negiciações que fora descartada pela ONU.
Enfim, resta esperar para ver.
O engraçado do bloqueio é que vai servir apenas para impedir que o etanol (brasileiro) seja misturado a gasolina lá.
O perigoso etanol, quem sabe também proibem doce de leite...
Mas,esse ano está trágico em termos de ordem internacional, o Paraguai "entra" em estado de excessão para combater um crime que nem tipificado estava no seu código penal...
O Irã por causa das sanções diz que vai rever sua relção com a AIEA como se pudessem fugir de compromissos assinados no tratado.
E Israel bem esse é um caso a parte, pelos livros de direito marítimo seria enquadrado como terrorismo, faz um bloqueio que ele diz o que pode passar sem consultar terceiro, não é signitário do tratado de não proliferam de armas nucleares se recusa a discutir, mas exige que outros países o cumpram.
A desordem mundial da era Bush continua, o Obama não mudou nada...democracia e e direitos humanos fogem da pauta de discussão, nesse ano trágico, Irã, paraguai, Israel, EUA (ficaram com guatanamo e agora tem prisões no Iraque e Afeganistão), Honduras, Venezuela, Rússia, China, Arábia Saudita, Sudão pioram e muito.
Os EUA de Obama com essa sanção ao Irã mais se parecem com o de Bush...agora é esperar um novo presidente americano comprometido realmente com a democracia e harmonia internancional, por que Barak fracassou e as sanções demonstram isso.
Salve, Angélica e Rafael,
Não acredito que a crise vá resultar em guerra, neste momento, pelas enormes dificuldades que os EUA enfrentam no Afeganistão e no Iraque, e pelos problemas de Israel com o Hamas na Faixa de Gaza e com o Hezbolá no Líbano.
Me parece que a decisão americana tem um impacto muito maior para o público interno, no sentido de que os democratas precisam demonstrar que são duros contra os inimigos do país, num contexto de uma disputada eleição parlamentar.
Abraços
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