segunda-feira, 14 de junho de 2010
Ventos do Mundo
No início do ano eu lecionava na Academia Militar sobre os conflitos envolvendo a comunidade de brasileiros no Suriname e comentei a respeito da grave crise que houve no país no início da década de 1980, quando um golpe colocou no poder uma ditadura pró-Cuba, e os Estados Unidos ameaçaram invadir o Suriname, e pediram a colaboração do Brasil. Quem desarmou a situação foi um jovem embaixador, Luiz Felipe Lampreia, que negociou um programa de ajuda e cooperação que esvaziou a influência dos cubanos. Os bastidores desta história – e de outras crises diplomáticas, sobretudo na América do Sul – são narrados em “O Brasil e os Ventos do Mundo”, as memórias de Lampreia.
Diplomata de carreira desde a década de 1960, Lampreia se destacou como colaborador próximo do chanceler do presidente Ernesto Geisel, Antônio Azeredo da Silveira, e foi ele mesmo ministro das Relações Exteriores no governo de Fernando Henrique Cardoso. Exerceu diversos postos no Itamaraty, com ênfase em temas ligados à economia internacional e ao comércio exterior. Exerceu funções de liderança em situações delicadas, como a rivalidade nuclear com a Argentina, as negociações para a exploração do gás na Bolívia e os conflitos envolvendo dentistas brasileiros em Portugal. A negociação no Suriname foi seu primeiro posto como embaixador, quando tinha pouco mais de 40 anos – extremamente jovem para os padrões de promoções lentas do serviço diplomático brasileiro.
Embora a maior parte da carreira de Lampreia tenha transcorrido na Europa e nos Estados Unidos, sua atuação como chanceler (1995-2001) foi marcada por uma grande atenção aos assuntos da América do Sul. Ele narra em detalhes a bem-sucedida mediação brasileira que encerrou o longo conflito entre Peru e Equador, os esforços para evitar golpes militares no Paraguai, as expectativas e decepções da formação do Mercosul, os desentendimentos com a Argentina de Carlos Menem (abaixo, Lampreia com Menem e Fernando Henrique) e sua perplexidade diante da ascensão de Hugo Chávez na Venezuela.
A análise acadêmica sobre a política externa de Fernando Henrique costuma destacar a estratégia da “autonomia pela integração”, baseada na adesão a regimes internacionais e acordos da ONU como um modo de amenizar os efeitos mais nocivos da ordem global no pós-Guerra Fria. Contudo, o enfoque das memórias de Lampreia é outro. O ex-chanceler mostra ceticismo diante da inoperância das Nações Unidas e reitera sua admiração pela doutrina do “pragmatismo ecumênico e responsável” de Azeredo da Silveira, que tradicionalmente é associada a um maior ativismo no Terceiro Mundo.
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7 comentários:
Mauricio,
Queria ser seu vizinho, que biblioteca! E ao contrário de muitos ratos por ai eu devolvo os livros..rs..
Voltando ao assunto. Gosto muito do estilo de comunicação e de discurso do Lampreia. Algo mais sereno que temos hj em dia.
Foi um bom chanceler dado os níveis de poder do Brasil no seu periodo, por que quem gostaria de ser negociador economico do Brasil nesse periodo?
Mas, sempre aparecerão aqueles mais empolgados partidariamente que vão o chamar pejorativamente (como se isso fosse pejorativo) de "aposentado" do Itamaraty, para desqualificar suas críticas e não terem o trabalho de refutar.
Abraços,
E novamente que biblioteca!
Salve, Mário.
Eu te diria que minha biblioteca é meio nômade, porque os livros estão sempre indo e vindo, entre alunos, amigos e colegas. Nem todos tem seu bom hábito de devolvê-los! :-)
O Lampreia também comenta bastante sobre as negociações econômicas, mas o tema que predomina nas memórias, sem dúvida, são as crises na América do Sul.
Há muito eu esperava por esse livro, e gostei bastante do lançamento.
Abraços
Dr,
Eu lhe digo que se procurar direitinho tem livro meu na estação orbital internacional, ou na base Comandante Ferraz. Isso se não tiver em algum camelo de alguma persistente tribo de beduínos. Se bobear já foram até abduzidos por algum ET, talvez o de Varginha...rs...
Excelente dica Mauricio, comecei a ler e estou adorando. Debora Muniz (MBARI2010)
Salve, Deborah.
Que bom! Vamos falar de vários destes temas no módulo sobre América Latina, que começa na segunda-feira.
Abraços
... é isso aí!, está sendo muito proveitosa a leitura, e enquanto não chegamos ao módulo, ando por terras vietnamitas por conta do trabalho. Aliás agradeço as dicas, pois comecei a ler "Bao Chi Bao Chi" (você se transfere aos fatos..) e ainda neste final de semana assistirei o Americano Tranquilo que é inclusive citado no livro e Sob a Névoa da Guerra.
Saludos y hasta lunes!
Salve, Deborah
Que ótimo! Você já está mergulhadíssima no clima do Vietnã!
Abraços
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