segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Depois da Vitória, os Conflitos

Há dois meses a presidente argentina Cristina Kirchner foi reeleita com 54% dos votos, a maior distância com relação ao 2º colocado desde a redemocratização de seu país e maioria no Congresso. Há dez dias ela tomou posse em seu segundo mandato em meio a uma crise política que culminou no rompimento como principal líder sindical do país, Hugo Moyano (foto) e com medidas controversas e impopulares para conter a compra de dólares pela população. As contradições são menores do que parecem à primeira vista: após a vitória nas eleições, afloraram os problemas latentes que estavam para explodir.

Moyano é o secretário-geral da Confederação-Geral do Trabalho, principal central sindical, e um aliado com diversos usos para o governo – por exemplo, bloquear a circulação do jornal Clarín, arquiinimigo (após 2008) dos Kirchners. Oriundo dos sindicatos dos caminhoneiros, por seus métodos e história de vida Moyano é com frequência comparado ao americano Jimmy Hoffa. Apesar da proximidade política, ele e a presidente vinham se desentendendo por temas econômicos. Para tentar controlar a inflação, Cristina Kirchner tinha vetado vários aumentos significativos conquistados por Moyano para sindicatos sob seu controle.

Há também uma questão política mais ampla. A oposição argentina é fragmentada e geralmente ineficaz, a não ser na cidade de Buenos Aires e em algumas províncias sob forte influência de líderes locais. Isso significa que boa parte da luta política migrou para dentro do governo, que um amigo me descreveu como “peronismo de coalizão”. Os Kirchner eram figuras marginais ao centro de poder peronista, mas ao longo da década de 2000 consolidaram sua posição e depois da vitória de outubro aprofundaram o giro que se afasta dos líderes tradicionais (sindicatos, governadores) e fortalece novos atores, como o movimento juvenil La Campora, liderado pelo filho de Néstor e Cristina. Moyano, evidentemente, não gostou: rompeu com governo e partido, e discursa elogiando Perón em detrimento dos Kirchner.

Os problemas também são graves na economia, como se pode ver pelo gráfico acima. As contas públicas da Argentina estão piorando constantemente e há preocupação no governo com as baixas reservas internacionais e com a fuga de dólares. A decisão oficial foi impor um limite ao que as pessoas podem comprar em moeda estrangeira. A medida é impopular, de regras confusas e afetou muitos cidadãos de classe média que buscam dólares apenas para se proteger das turbulências na economia e que se assustaram com a semelhança do gesto atual com o corralito ocorrido às vésperas do colapso de 2001. O amigo Rodrigo Mallea escreveu ótimo texto comparando como brasileiros e argentinos se relacionam de forma muito diferente com o dólar.

4 comentários:

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Em minha opinião, o Moyano não tem quebrado com o governo. Só marcou posição num típico meeting sindico-peronista, tentando num tempo "dorado" pelo kirchnerismo um pouco de autonomia, que obviamente a mídia menos cercana ao governo presentou como fim da relação.
Deixo um artigo bastante bom de Página/12: http://www.pagina12.com.ar/diario/elpais/1-183671-2011-12-18.html
Abraços! E Feliz Natal!

Patricio Iglesias

Patricio Iglesias disse...

Meu caro:
Em minha opinião, o Moyano não tem quebrado com o governo. Só marcou posição num típico meeting sindico-peronista, tentando num tempo "dorado" pelo kirchnerismo um pouco de autonomia, que obviamente a mídia menos cercana ao governo presentou como fim da relação.
Deixo um artigo bastante bom de Página/12: http://www.pagina12.com.ar/diario/elpais/1-183671-2011-12-18.html
Abraços! E Feliz Natal!

Patricio Iglesias

Patricio Iglesias disse...

PS: Sim, como você dez o grande debate hoje e que va acontecer no interior do governismo ao longo dos 4 anos que ficam. Quem va ganhar a "interna"? O setor "cristinista puro" (La Cámpora, Kolina, Boudou, etc.) ou o aparato peronista tradicional de governadores e intendentes, onde o nome mais óbvio pra 2015 é Daniel Scioli. Tão óbvio é sua postulação que talvez aconteça como no 1989, quando todos pensavam que iva ganhar a interna peronista o Antonio Cafiero mas venceu quem nisse momento era um apenas conhecido governador de La Rioja, Carlos Menem. Nunca se save, e menos na Argentina... http://www.lanacion.com.ar/102940-cuando-menem-derroto-al-aparato-del-pj

Maurício Santoro disse...

Salve, meu caro.

Sei que nada é simples na relação de CFK com os sindicatos, mas me parece que a crise com Moyano é realmente séria. Nesta semana seguirei com mais posts a respeito da Argentina, falando dos conflitos com a imprensa.

abraços