sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

A Geopolítica de Ormuz

No dia 28 o Irã iniciou uma manobra naval no estreito de Ormuz, por onde passam 17% do petróleo global. O exercício é uma resposta à nova rodada de sanções prestes a ser adotada pelos Estados Unidos e mais um episódio das tensões políticas entre os dois países e Israel. Os mercados reagiram com tranquilidade e o preço do barril chegou até a cair. A serenidade vem do poderio marítimo que os EUA tem na região, pois o Bahrein sedia a V Frota da Marinha americana. Há também a percepção de que as ações iranianas se dão em grande medida para consumo interno, devido aos conflitos entre conservadores e extremistas que disputam o poder em Teerã – os moderados estão na oposição, na prisão, no exílio ou no cemitério.

Ainda assim, o governo do Irã marcou um ponto, relembrando que em caso de guerra a situação no estreito prejudicaria de imediato o abastecimento de petróleo mundial e no mínimo elevaria os preços por conta do medo e da especulação inerente a esse tipo de crise. Os interesses envolvidos são imensos: além do Irã, as exportações da Arábia Saudita, Iraque, Kuwait, Catar e Emirados Árabes passam por Ormuz.

Apesar das diversas rodadas de sanções, a economia iraniana vai bem. Cresceu 5,5% em 2011. O PIB é da ordem de US$400 bilhões e cerca de 25% dele vem do petróleo. Os preços aumentaram 10% neste ano, o que também reforça o caixa do governo, visto que as sanções não afetaram a indústria dos hidrocarbonetos, por pressão de parceiros importantes como China e Rússia.

No início do governo Obama houve uma tímida tentativa de reestabelecer o diálogo com o Irã, descrita como “uma única jogada de dados”. Ela falhou e foi enterrada de vez na oposição dos Estados Unidos ao acordo proposto por Brasil e Turquia com respeito ao programa nuclear iraniano. O cenário no próximo ano é bastante sombrio, com o que promete ser uma campanha presidencial americana bastante agressiva, em meio às dores da crise e os temores do declínio da influência dos EUA no Oriente Médio.

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Este é meu último post do ano - movimentadíssimo, por sinal. Retomo o blog na segunda-feira e que 2012 seja pelo menos tão interessante quanto 2011. Me despeço com minha entrevista para a revista do Valor Econômico, na qual faço a retrospectiva dos últimos 12 meses e arrisco duas ou três previsões. Bom Ano Novo a todos!

2 comentários:

Marcelo L. disse...

Feliz Ano Mauricio,

Mas sobre a economia iraniana acredito que o preço do barril de petróleo esconde muitas das deficiências do regime, tem um escândalo bancário forte lá (algo em torno de 3 bi); o rompimento com os EAU (o terceiro parceiro comercial) que depois teve muitas notas confusas; e mesmo Iraque hoje existe uma certa rejeição a produtos iranianos por que são vistos como de má qualidade.

O PIB vai mal e a população vai mal já ocorreu aqui...é um resultado ruim por que só reforça o lado autoritário do regime como na época do Regime Militar.

Mas, eu espero um ano sem guerras com o Irã, já em Gaza e no Líbano sei não...

Abçs e boas festas.

Marcelo L. disse...

o certo é o PIB vai bem...