Há cerca de 200 conflitos em curso no Peru envolvendo organizações populares, grupos indígenas, organizações não-governamentais e grandes empresas, sobretudo nos setores de mineração, petróleo e infraestrutura. As disputas em Cajamarca ocorrem em torno de um projeto minerador de US$5 bilhões e são as mais importantes neste momento.
Humala sempre foi visto com hostilidade e desconfiança pelas grandes empresas e pelo mercado financeiro - o dia de sua vitória foi a queda mais acentuada na bolsa de valores de Lima em toda sua história. Os empresários o vêem como um nacionalista de esquerda com projetos de maior controle do Estado sobre os recursos naturais, e como um crítico das reformas liberais implementadas no Peru ao longo das décadas de 1990-2000.
Humala começou sua carreira política como emulador de Hugo Chávez, mas na campanha presidencial de 2011 apresentou-se como alguém inspirado por Lula, prometendo moderação na economia e nomeando uma equipe conservadora para cuidar dos ministérios e órgãos governamentais ligados às finanças, e que foi mantida na reforma. Mas aumentou os impostos cobrados das empresas mineradoras e afirma ser necessário uma nova Constituição, que dê mais poderes econômicos ao Estado - ao tomar posse, ele sequer jurou sobre a atual Carta Magna, usando em seu lugar um exemplar da Constituição de 1979!
O sistema partidário do Peru é um dos mais fragmentados da América Latina. O Congresso é fracionado em muitas siglas, a maior parte delas frágil e com pouca coesão ideológica. Conflitos com movimentos sociais são custosos e resultarão em dificuldades para Humala em manter sua coalizão - o ex-presidente Alejandro Toledo retirou seus dois aliados que serviam como ministros da Defesa e do Trabalho em desacordo com o que chamou de "militarização do governo", mas afirmou que partido Peru Possível continuará a apoiar Humala no parlamento.
As mudanças no ministério deixaram a esquerda peruana desconcertada. Nem Chávez, nem Lula: Humala segue uma trajetória própria, que aponta para um quadro de extrema instabilidade no país, pela dificuldade de equilibrar nacionalismo, grandes empresas e movimentos sociais, em meio a um frágil presidencialismo de coalizão.
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