Margaret Thatcher, 1982
Este é o dia que nossos pais e avós esperaram por 150 anos. Hoje somos uma nação!
Do filme argentino “Los Chicos de la Guerra”
Hoje é um dia de luto e memória para argentinos e britânicos, com o aniversário de 30 anos da guerra das Malvinas. O impacto do conflito nas relações entre os dois países tem sido tema constante neste blog, como neste post sobre a nova rodada de confrontos entre Buenos Aires e Londres, ou na resenha do melhor livro acadêmico recente acerca do tema, Sal en las Heridas, do sociólogo argentino Vicente Palermo. De modo que este texto trata das consequências da guerra para ambas as nações: a democratização da Argentina e um enorme impulso na popularidade da primeira-ministra Margaret Thatcher, que muito contribuiu para que ela ficasse mais de uma década no poder.
A ditadura militar argentina se destaca entre os regimes autoritários no Cone Sul por uma série de características negativas: foi a mais violenta, a de pior desempenho econômico e, ainda por cima, perdeu a guerra de forma devastadora e humilhante para os britânicos – só se salvou a coragem da Força Aérea no confronto.
Tudo somado, a redemocratização do país foi mais rápida e profunda do que a de seus vizinhos, com presidente civil eleito diretamente já em 1983 e um expressivo julgamento contra suas juntas militares e oficiais envolvidos na repressão, que culminou nas primeiras condenações do tipo na América Latina. Foi o início de um longo processo que, entre avanços e retrocessos, tornou a Argentina um importante exemplo internacional em justiça transicional. É difícil imaginar esse resultado sem as Malvinas, pois as ditaduras no Brasil, Chile e Uruguai negociaram suas saídas em meio a pactos de impunidade e proteção. Thatcher foi uma inesperada madrinha para a democracia argentina – em contraste com seu apoio de toda a vida ao ditador chileno Augusto Pinochet.
As consequências da guerra para o Reino Unido foram bem mais ambíguas. A vitória foi, claro, um momento de exaltação patriótica e autoconfiança, após uma década bastante difícil do ponto de vista econômico. Mas as Malvinas eram então um conjunto de ilhas sem importância comercial, e assim permaneceriam até a década de 1990, quando houve um boom de pesca e a descoberta de petróleo e gás. Mesmo hoje é questionável se elas são lucrativas para o Estado britânico, em função do custo elevado de defendê-las e fornecer serviços públicos.
Mas o impacto principal para os britânicos foi, claro, a permanência de Thatcher como chefe de governo, até a década de 1990. Sem sua reação firme e a vitória na guerra, provavelmente ela teria perdido eleições bem antes, pois enfrentava uma enorme onda de impopularidade, em função de seus cortes no orçamento, do longo conflito com os mineiros em greve e de sua posição controversa inclusive dentro do Partido Conservador.
Enfim, a guerra foi uma tragédia, mas também propicia muitas soluções, pelo menos para alguns grupos. Sempre é.
3 comentários:
Prezado Amigo e Mestre Mauricio
Desculpe-me se vou ser a voz destoante dessa sua analise, mas a meu ver, o Reino Unido sempre esteve bem mais presente no arquipelago das Falkland/Malvinas, do que a Argentina.
Somando-se a esse fato a opcao dos moradores de que as ilhas continuem sob o dominio britanico, nao vejo muito espaco para que a situacao seja revertida.
Ainda pior foi que a invasao das ilhas pelas forcas armadas argentinas, foi muito mais uma artimanha politica do governo militar. Uma tentativa explicita de lancar uma cortina de fumaca sobre os problemas internos elegendo um inimgo externo.
Seria como se a Bolivia invadisse o Chile alegando seu direito natural de recuperar sua saida para o mar.
Abracos Mauricio
Goncalez
Salve, meu caro.
Bom, as ilhas tiveram vários donos: França, Espanha, Reino Unido... O curioso é que até os anos 80 ninguém tinha muito interesse nas Malvinas, mas depois da guerra o custo humano e político ficou muito alto, ninguém as cederia hoje...
abraços
A questao das Falklands eh bem clara: eh obvio que as ilhas sao britanicas. Antes da Argentina existir, as ilhas ja eram britanicas, os habitantes da ilha escolhem ser britanicos - nao existe nenhuma justificativa legal ou historica para a Argentina alegar soberania sobre as Falklands.
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