Mali e Senegal são – ou eram – bastiões de estabilidade na região e as crises nesses países surgiram como ilustração de uma tendência preocupante: se até eles enfrentam problemas sérios, o que dirá das outras nações. A Guiné-Bissau é um caso extremo de instabilidade. Desde a independência de Portugal, em 1975, nenhum de seus presidentes conseguiu completar o mandato. Nos últimos três anos, houve seis assassinatos de dirigentes políticos, civis e militares. É um Estado muito frágil e que se transformou em um problema de segurança internacional, pois vem sendo usado com frequência por traficantes que levam drogas da América Latina para a Europa.
A Economist publicou um excelente quadro da democracia na África – do qual foi extraído o mapa abaixo - no qual afirma que a situação das liberdades civis e políticas é um “copo meio cheio”, com avanços consideráveis no Cone Sul e em países como Tunísia, Gana e Benin. É uma interpretação válida, mas a meu ver a conjuntura é mais sombria e exige atenção aprofundada pelos desdobramentos internacionais das crises domésticas.
No Mali, o caos político resultante do golpe favoreceu os rebeldes beduínos no norte do país, que proclamaram um Estado independente. A organização sub-regional da África Ocidental, Ecowas, ameaçou com uma intervenção militar contra os golpistas, pressionando por um acordo político, mas o desfecho da crise ainda não está claro.
Os golpistas na Guiné-Bissau também enfrentam resistência da Ecowas, e a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa manifestou-se duramente contra o golpe. O Brasil, aliás, acordou com os Estados Unidos patrulhas navais conjuntas próximas ao litoral do país, para combater a pirataria.
No Egito, os passos iniciais da disputa presidencial estão confusos e turbulentos, como era de se esperar. O ex-chefe da polícia política da ditadura Mubarak, general Osmar Suleiman, lidera as pesquisas e a junta militar que governa o país tem vetado as candidaturas dos principais concorrentes – inclusive a do próprio Suleiman, vista mais como uma ambição pessoal do que como a representação dos interesses das Forças Armadas.
5 comentários:
Maurício,
a África, no geral, parece estar imersa num processo de transição que pode levar à democracia. Ou não. Isso pode levar muitas décadas ainda, considerando a partir das independências nacionais. Veja o que ocorreu na América do Sul depois dos processos de independência no início do século 19. Foi um longo período de instabilidade institucional, principalmente no lado espanhol.
Não sei se nos tempos atuais a aprendizagem democrática pode ser mais rápida. Nós mesmos tivemos retrocessos recentes em todo continente.
Salve, Modesto.
Sem dúvida, mas o que preocupa é que os retrocessos estão sendo muito significativos, mesmo em uma era de prosperidade econômica.
Abraços
A crise no Mali foi efeito colateral da crise na Líbia. O Gaddafi usava muitos tuaregues como mercenários. Quando seu regime ruiu, os tuaregues tiveram que retornar para o Mali.
Sim, e voltaram com armas e dinheiro para levar adiante seu projeto de um Estado próprio no norte do Mali.
abraços
Voce sabia que o pessoal do atual Mali já dominou grande parte da Península Ibérica por varias décadas? Eram os Almoravids. Eu nunca havia entendido porque tantas descrições e ilustrações sobre os mouros mostravam negros, ao invés de árabes.
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