O filme começa com os irmãos se juntando à expedição Roncador-Xingu, na década de 1940, por espírito de aventura. Em plena Era Vargas e durante a Segunda Guerra Mundial, o Estado queria mapear o território, construir pistas de pouso e criar a infraestrutura que lhe permitisse gerir aquela vasta região, maior do que muitos países europeus. Em muitos aspectos era a continuação do trabalho iniciado pelo marechal Candido Rondon, que havia instalado as linhas de telégrafo no extremo-oeste e começado seu crucial trabalho em prol dos índios. Os irmãos Villas Boas foram chefiados por ele, mas o marechal, infelizmente, só é citado rapidamente no filme.
A primeira parte do enredo trata dos contatos iniciais da expedição com as tribos do Xingu, e seu extremo cuidado para dialogar com eles e estabelecer relações pacíficas. Eles são bem-sucedidos, mas descobrem que sua própria presença por ali traz consequências devastadoras: doenças mortais para os índios, como a gripe, e a abertura da região para pecuaristas e fazendeiros, que começam a matar para se apoderar das terras recém-abertas para a agricultura.
A partir, os irmãos iniciam articulações políticas com o governo federal e as Forças Armadas, negociando apoios para proteger os índios e o território – em troca de ajudar a contruir uma base militar na Serra do Cachimbo, os irmãos conseguem a promessa oficial da criação de um parque indígena. A cena em que Jânio Quadros se compromete com o projeto é antológica.
A parte final do filme é dedicada ao processo de implementação do parque, com as tensões que nascem entre os irmãos, as críticas e ameaças que sofrem dos grupos econômicos contrariados pelo projeto e seu empenho em levar para o território protegido tribos indígenas dispersas pelo Oeste e Norte do Brasil – necessidade acelerada quando o governo resolve construir a rodovia Transamazônica.
Não há menção no filme ao projeto da usina de Belo Monte, a obra pública mais controversa do Brasil de hoje, que ocorre justamente no rio Xingu. Mas este longa faz pensar nos modelos de desenvolvimento e nas abordagens experimentadas para lidar com as populações indígenas e ribeirinhas, e nas dificuldades em que sejam beneficiadas pelos grandes projetos governamentais. Vale ler também a crítica de Ivana Bentes ao filme: ela gostaria que houvesse a incorporação da cultura indígena à narrativa. É um bom ponto.
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Minhas entrevistas dos últimos dias:
Visita da presidente Dilma aos Estados Unidos (New York Times)
Brasil, Estados Unidos e América Latina, às vésperas da Cúpula das Américas (France Presse)
2 comentários:
Parabéns pela análise, foi ontem assistir e gostei muito. A maioria dos jovens desconhece essa parte da história do nosso país, e essa foi uma ótima oportunidade de aprender mais sobre o assunto.
Parabéns pelo blog!
Obrigado, Licca.
Também conheço pouco da história do parque do Xingu, e fiquei com vontade de ler mais sobre o tema.
Abraços
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