Desde o princípio da crise na União Européia, os eleitores – ou as instituições internacionais – têm afastado os partidos que estavam no poder, fossem eles de centro-esquerda (Espanha, Portugal, Grécia, Reino Unido) ou de direita (Itália). Contudo, a França pode ser uma exceção. A votação de Le Pen a coloca como uma aliada decisiva para Sarkozy e ela já se anunciou como a única “oposição real” à esquerda. Como seu desempenho foi acima dos 17% que lhes creditavam as pesquisas – o mesmo havia ocorrido com seu pai em 2002 – é preciso olhar com ceticismo as sondagens que davam vitória folgada a Hollande no segundo turno, e aguardar novas investigações.
Desde o início da década de 1980, no governo de François Mitterand, o Partido Socialista da França abandonou seu programa histórico, centrado numa forte ação do Estado na economia e nas políticas redistributivas, e adotou uma ideologia mais centrista, na qual as políticas públicas estão mais presentes como maneira de compensar os desequilíbrios mais intensos do sistema. Mais ou menos na linha dos trabalhistas britânicos ou dos sociais democratas alemães, embora com maior peso ao Estado, como é tradição francesa desde os tempos de Luís XIV. Hollande é um tecnocrata, a quintessência desse programa moderado e um homem tão esforçado em aglutinar consensos que com frequência é considerado tedioso por seus próprios eleitores.
A polarização sócio-econômica na França aumentou com a crise e o país já vivenciou nos últimos anos explosões de ódio e violência na periferia das grandes cidades, onde há tensões raciais com os imigrantes e o índice de desemprego entre os jovens chega a 40%. Acreditava-se que esse seria parte do sucesso do candidato da extrema-esquerda, Jean-Luc Mélenchon, mas ele teve somente 11% dos votos, bem menos do que os 15% que lhe davam as pesquisas. Quem conseguiu canalizar a raiva e a angústia dos franceses foi Le Pen, inclusive entre os jovens, grupo que seu pai nunca conseguiu atrair. Sem dúvida, os recentes atentatos em Toulouse, cometidos por um terrorista muçulmano, contribuíram para isso.
2 comentários:
Tem um detalhe que não tenho visto nem na imprensa francesa, e que me deixa um pouco intrigado: quando JM Le Pen cedeu o pedestal do FN pra filha, pouco depois das eleições de 2007, em que Sarko ganhou com folga no 2o turno e o FN foi meio mal (Bayrou parecia ser a grande promessa política da França então, mas sumiu tão rápido quanto apareceu), ela aglutinou um apoio insano. Eu morava lá nesse tempo e do Figaro ao Monde, do Nouvel Observateur ao Point, o diagnóstico era o mesmo: o FN chegaria ao segundo turno na próxima eleição. Ora, isso não aconteceu, mesmo que ela tenha ido muito melhor que o pai em 2002. E mais: embora Mélenchon não tenha tido a votação que chegaram a dizer que ele teria, os prognósticos há pouco eram que a esquerda desaparecesse (a candidata do PCF teve 2% em 2007, e foi tudo). Há que mitigar um pouco o "susto Marine Le Pen"...
Salve, Diego.
Exato, a FN foi muito bem em 2002, mal em 2007 e bateu o recorde em 2012. Ou seja, sua ascensão eleitoral não é inevitável, ela oscila de acordo com os ciclos econômicos e as crises políticas.
Ainda tenho dúvidas sobre como interpretar Mélenchon. Me parece que muitas pessoas votaram nele sabendo que fechariam com Hollande no 2o turno, nesse sentido foi uma espécie de recado aos socialistas para terem um discurso mais aguerrido diante dos problemas sociais.
Realmente não sei quem irá vencer as presidenciais francesas e meus amigos no país estão bastante divididos em termos de análise. A força de temas como imigração e terrorismo favorece Sarkozy, a economia beneficia Hollande.
Abraços
Postar um comentário