sexta-feira, 20 de abril de 2007

Mangabeira Unger: no longo prazo, seremos todos governistas



Quando juro que Lula não é mais capaz de me surpreender, eis que ele nomeia Mangabeira Unger para a Secretaria Especial de Assuntos do Longo Prazo, que tem status de ministério. OK, qualquer mesa com carimbo e telefone tem status de ministério neste governo. As pessoas acham que eu implico com o Mangabeira Unger (ao entrar no link, cheque o post no fim da página).

E é verdade.

O novo ministério assume o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, que era vinculado ao Ministério do Planejamento, e é conhecido como o maior viveiro de economistas de direita do país. Os caras adoram reclamar do salário mínimo e da establidade trabalhista - dos outros, porque nunca movem um dedo para acabar com os benefícios dos quais desfrutam sendo funcionários públicos. Não é fácil aguentar essa turma, entendo que tenham resolvido jogá-los adiante para o Mangabeira Unger. Aliás, os economistas do Ipea também adoram falar em inglês, mesmo que seja em eventos oficiais nos quais representem o governo brasileiro. Logo se vê que têm grandes afinidades linguísticas com o novo ministro.

Mangabeira Unger também ficará responsável pelo núcleo de assuntos estratégicos da presidência, cuja principal função é fingir que o atual governo se preocupa com alguma coisa além de voltar ao poder em 2014. Deve ser o tal longo prazo, embora o economista mais brilhante do século XX, Lord Keynes, tenha nos alertado de que "no longo prazo, estaremos todos mortos." Ou governistas, milord.

A trajetória política de Mangabeira Unger é desafiadora mesmo para os padrões brasileiros, nos quais a pessoa muda de partido com mais freqüência do que os serial killers americanos mudam os pentes de munição. Nosso ministro vem de família conservadora, da velha UDN, mas ele mesmo foi guru de Ciro Gomes, depois conquistou Caetano Veloso, candidatou-se sem sucesso a prefeito de São Paulo e atualmente está no Partido da Igreja Universal do Reino de Deus, que tem lá um nome fantasia qualquer falando em república.

As idéias políticas de Mangabeira Unger louvaram o "potencial revolucionário das classes médias", a retomada do nacional-desenvolvimentismo, a necessidade de enfrentar os Estados Unidos e um clamor contra a corrupção. Vale aprofundar o último ponto. Vejamos o que sua excelência escreveu a respeito:

"AFIRMO que o governo Lula é o mais corrupto de nossa história nacional. Corrupção tanto mais nefasta por servir à compra de congressistas, à politização da Polícia Federal e das agências reguladoras, ao achincalhamento dos partidos políticos e à tentativa de dobrar qualquer instituição do Estado capaz de se contrapor a seus desmandos. Afirmo ser obrigação do Congresso Nacional declarar prontamente o impedimento do presidente."

O tom quis imitar Zola, no J´Accuse, mas ficou para mais a UDN sem Carlos Lacerda. O mensalão é uma porcaria, mas não é o caso Dreyfus.

Impedimento? Como assim, ele ultrapassou a linha dos zagueiros e recebeu a bola na cara do gol? Well, Mangabeira deve estar a falar de impeachment... Anyway, esperamos que o novo ministro mantenha-se fiel as suas palavras e execute seu programa, destruindo o governo de dentro. Quiçá em aliança com o augusto Congresso nacional, que conta com parlamentares sem rabo preso, como Clodovil.

Quanto às tarefas que Magabeira Unger irá desempenhar, são um mistério. Deixo a resposta a vocês, na enquete ao lado.

6 comentários:

Anônimo disse...

Secretaria Especial de Assuntos do Longo Prazo é tucanês, como diria o José Simão. Melhor seria batizar logo de Secretaria para Assuntos Aleatórios.

Fiquei de queixo caído quando vi a notícia no Jornal Nacional.

E o seu texto ficou delicioso. Ri à beça aqui.

Daniel disse...

Parabéns pelo Blog.
Estou fascinado.
Mal consigo escrever, não é dom que possuo.
Mas resistir é preciso.
Beijos
Dan

Maurício Santoro disse...

Salve, Marcus.

Acho que se trata de um desses casos de "ridendo castigat mores" (rindo, castigam-se os costumes) se você me permite uma citação de acordo com minha "fase romana".

Daniel, escrever é um vício, uma necessidade. Talvez uma maldição.

Abraços

Anônimo disse...

Cambiando os sobrenomes seria um artigo sobre a Argentina, só que ainda näo temos partidos evangélicos, mas li no journal Clarín que alguns grupos gostariam fazer umo.
Saludos

Maurício Santoro disse...

Meu caro Patricio,

eu tinha a idéia de que na Argentina as identidades partidárias eram mais fortes e que as pessoas eram radicais, peronistas ou socialistas por toda a vida... Apenas uma ilusão. A minha história favorita foi a da professora de um amigo, na UBA, que passou por todas as campanhas políticas. Agora trabalha (adivinhe!) para o Macri!

Deus proteja a Argentina de um partido evangélico. Vocês não merecem isso.

Abraços

Anônimo disse...

Até o 2001 as identidades eram relativamente fortes (sempre aparecia algum partido novo com gentes de outros, como o FREPASO, mas era a excepçäo e näo a regra). Depois disse ano, as alianças entre antigos adversários e até inimigos declarados näo param de me surpreender. Desde que Carrió, que tinha sempre a bandeira de näo fazer alianças se uniu ao Telerman, eu podo esperar uma aliança entre o Polo Obrero e o menemismo.
Näo deixe se extranhar pela professora macrista, com ele estäo peronistas, menemistas, radicáis, democristianos, tal vez até comunistas! E os outros líderes como Carrió, Lavagna, Kirchner e nem falar Telerman também têm partidários um pouco heterogéneos ("pluráis", como todos dizem agora).
Beijos