domingo, 8 de abril de 2007

Um Bairro Global



Nestes dias de feriado, o bairro de Santa Teresa andou bastante movimentado por conta de sua IV Semana Cultural. Foram apresentações de música, teatro, exposições de fotografia e de arte. A foto mostra o tapete de flores em que se transformou minha rua. Os eventos deixaram bem claro as transformações pelas quais passa o bairro.

Nos últimos anos Santa Teresa virou o centro de iniciativas culturais, como o Festival Arte de Portas Abertas. Como escrevi anteriormente, muitos estrangeiros vieram morar por aqui, compraram casas e revitalizam a área. O hotel cinco estrelas deve ser inaugurado em poucos meses e com certeza irá mudar ainda mais as coisas.

Num certo sentido, Santa Teresa está ficando parecida com o bairro em que vive em Buenos Aires, Palermo Viejo – era uma região um tanto esquecida da cidade que virou local de lojas de design, decoração e ponto de encontro de artistas, boêmicos e... turistas. Não está tão diferente em Santa, pelas ruas daqui ouço espanhol, francês, alemão, inglês.

O bairro está ficando mais caro. Um casal amigo quer sair daqui porque acha que o aluguel não compensa mais. De fato, está cada vez mais próximo aos valores da zona sul, e os preços dos imóveis sobem. Outro dia encontrei na rua o corretor que me vendeu o apartamento e ele perguntou se eu não estaria interessado em passá-lo diante. Me sugeriu um valor 30% superior ao que paguei há dois anos.

Mas não saio daqui de jeito nenhum, a qualidade de vida no bairro melhorou muito. E espero que o fluxo de turistas e moradores estrangeiros ajude a resolver os dois problemas mais sérios de Santa: transporte e segurança.

A dificuldade maior é que a prosperidade que tomou conta do bairro é no fundo limitada a poucos moradores e a uma pequena área de Santa. Há mais de 10 favelas na região e nenhuma delas recebeu qualquer benefício das transformações. A paisagem humana do bairro lembra cada vez mais os cartões-postais da zona sul do Rio de Janeiro: meninos e rapazes negros rondando turistas brancos, freqüentemente estrangeiros, e ganhando uns trocados para guardar carros, ou na pura e simples mendicância.

Os pobres do bairro estavam por toda a parte durante a Semana Cultural, mas sempre à margem. Da calçada ou do ponto de ônibus, observavam o movimento dos turistas e as obras de arte montadas nas ruas. Viam tudo distantes, isolados, como a festa para a qual não foram convidados acontecesse em outro planeta.

A cientista política Saskia Sassen escreveu um belo livro sobre as “cidades globais”, como Nova York, Tóquio ou Londres, os elos centrais na economia internacional. Penso que também existem os “bairros globais”, pontos de encontro de redes que atravessam fronteiras e que bem podem estar situados em cidades um tanto periféricas, como é o caso do Rio de Janeiro. O problema é que essa prosperidade glamourosa é sempre uma vitrine distante, atrás de vidros, alarmes e seguranças que sabem muito bem quem não pode entrar na festa.

3 comentários:

Leandro Bulkool disse...

Tenho grande simpatia por Santa Teresa. Por isso eu torço que essa evolução do bairro tenha um pequena freio para que as favelas possam usufruir dela.

Moro em Copa e vejo todos os dias o que acontece quando somamos capital gringo, poder aquisitivo mais alto, terceira idade e comunidades carentes. O resultado disso é apenas maior mendicancia e violência.

Bom, torço por Santa.

Maurício Santoro disse...

Olá, meu caro.

Minha tendência é achar que as mudanças em Santa serão para melhor, mas ao mesmo tempo está bem claro que o bairro vai replicar o mesmo contraste social que está presente em outros pontos turísticos da cidade.

Bem, em todo modo você agora mora no cenário da novela das 20h, não é? :-)

Abraços

PaparazzodaLetra disse...

Tenho um blog que mostra um pouco de Santa Teresa é o acaodevagar.blogspot.com. Se sua paixão pelo bairro continuar podemos fazer uma rede de blogs em torno disso.