terça-feira, 16 de setembro de 2008

A Arte da Mediação



A crise na Bolívia resultou em excelente oportunidade para a recém-criada União das Nações Sul-Americanas. Graças ao dinamismo e à habilidade diplomática da dirigente da organização, a presidente chilena, Michelle Bachelet, sete mandatários do continente se reuniram ontem em Santiago e manifestaram o apoio ao governo constitucional boliviano, rejeitando intentos de golpes e simultaneamente forçando Evo Morales a negociar com a oposição.

A situação parece ter se acalmado na Bolívia, com os grupos contrários a Morales suspendendo bloqueios de estrada. No entanto, permanecem tensões sérias no departamento de Pando, na Amazônia boliviana, onde o governo local reprimiu de maneira violenta partidários de Evo, e matou 30 pessoas. Há denúncias de que capangas brasileiros e peruanos participaram do massacre. A área está sob Estado de Sítio e os militares prenderam dez suspeitos.

Outro ponto negativo na crise foi a postura apática do Brasil. O país que criou a Unasul mostrou pouca disposição em ativá-la. Mais do que nisso. Nesta semana, dois destacados membros da elite política brasileira, o embaixador Rubens Ricupero e o deputado e ex-ministro Delfim Netto, publicaram textos cuja tônica era a impossibilidade de mediar o conflito boliviano. Supostamente, os vizinhos não querem ser ajudados...

As declarações são típicas do pior da arrogância e prepotência brasileira com relação à América do Sul e não por acaso vieram de duas pessoas cujas carreiras foram construídas principalmente sob a ditadura. Contudo, esqueceram de mencionar em seus artigos o quanto o regime autoritário do Brasil interveio na Bolívia, conspirando para derrubar governantes progressistas como Juan José Torres e ajudando a instalar a ditadura de Hugo Banzer, que o jornalista Elio Gaspari descreveu como “o xodó da diplomacia militar brasileira”.

Mas os tempos mudaram. Bachelet foi exemplar em sua condução da reunião, esvaziando o espaço para as aventuras de Chávez e para a polarização com os Estados Unidos, coordenando declaração que apóia a democracia na Bolívia, demanda o fim da violência e oferece ajuda regional para a mediação da crise. Em seus pronunciamentos, a presidente chilena lembrou do golpe contra seu antecessor Salvador Allende, triste aniversário que se celebrou há poucos dias.

6 comentários:

P.R. disse...

estava lendo sua tese hoje. preciso de um modelo de padronização para a dissertação, mas cada um faz de um jeito, pelo que parece. ainda nao li seu post, tô com preguiça!
beijos

Maurício Santoro disse...

Querida,

você leu minha tese e tem preguiça de encarar o post? Só você! :-)

Falando sério, peça à Lia uma cópia eletrônica das Normas para Elaboração de Teses e Dissertações. Resolve seu problema.

Segunda tem lançamento de livros no OPSA, um do Marcelo e uma coletânea organizada pela Maria Regina.

beijo

Anônimo disse...

Em matéria do El País, a postura do Brasil antes e durante a reunião da Unasul foi bastante elogiada, com um título que remetia ao fortalecimento da liderança brasileira na américa do sul.

Não sei se concordo com sua avaliação de que houve apatia do governo brasileiro no caso.

Anônimo disse...

Prezado Mauricio,
Apesar de concordar com você em parte, do lado brasileiro vejo que o presidente não tinha muito o que fazer depois que fracassou a idéia dos amigos da Bolívia.
A saída da presidenta do Chile foi boa, mas ainda tenho minhas dúvidas se o Brasil não está por trás do ato dela, por isso escrevi no começo que concordo em partes.
E a Venezuela nunca deixaria nesse momento, o Brasil ser o país que comandasse o entendimento, e isso deve ter feito parte dos cálculos do Itamaraty

Anônimo disse...

Não por acaso, o Chile está dianteira econômica e política da região. A política externa no Brasil está incoerente. Com a postura neutra assumida pelo país diante de tantas solicitações resultará em nada no desejo de ser líder do continente. abs,

Maurício Santoro disse...

Salve, Radical Livre e Marcelo,

Após ter escrito o post li a matéria do El País e também a análise da BBC em Espanhol, ambas muito elogiosas do Brasil e de fato minha posição estava errada.

O presidente Lula teve uma postura bem mais afirmativa do que eu imaginei à primeira vista, fui confundido pelas notícias que diziam que ele resistiu a ir à cúpula da Unasul.

Dhan,

as declarações de Chávez com relação à crise na Bolívia e o que ele havia dito anteriormente no conflito entre Colômbia e Equador o estão deixando isolado na região. Cada vez mais os presidentes sul-americanos buscam soluções que o afastem do centro do palco.

Abraços