quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A Crise na Bolívia


Nos últimos dois dias, manifestantes contra Evo Morales atacaram o gasoduto Brasil-Bolívia e causaram danos que fizeram o envio de gás cair para 45% do normal (embora a previsão é que o fluxo será reestabelecido ainda hoje). Diabos, onde estão os americanos quando precisamos chamar alguém de terrorista?

Bem, talvez estejam fazendo as malas. O governo boliviano reagiu decretando "persona non grata" o embaixador dos EUA em La Paz, acusando-o de planejar um golpe com a oposição.

Morales foi eleito presidente no primeiro turno, com a maioria dos votos, e há pouco mais de um mês teve o respaldo democrático confirmado num referendo nacional, que venceu por boa margem. Mas grupos oposicionistas na região da Meia Lua continuam a protestar contra o governo, pois contrários à nova Constituição que talvez seja levada a referendo popular no fim do ano (há polêmica jurídica em curso) e exigem maior fatia dos recursos oriundos da exportação de gás.



A oposição atacou o governo com choques de rua, bloqueio de estradas e até impedindo o avião do presidente Morales de pousar em algumas cidades. A política boliviana é com freqüência tensa e instável, mas não costuma resultar em violência de larga escala. Os acontecimentos de ontem e de hoje são de virulência incomum, pela destruição da infra-estrutura econômica mais importante da Bolívia. Naturalmente, o objetivo é arrastar o Brasil para forçar o governo Morales a fazer concessões.

Duvido que isso ocorra, ao menos na escala desejada pela oposição boliviana, porque a Petrobras tem condições de lidar com a diminuição do fornecimento do país vizinho. A Nota Oficial emitida pelo Brasil afirma: "O Governo brasileiro se solidariza com o Governo constitucional da Bolívia e espera que cessem imediatamente as ações dos grupos que lançam mão da violência e da intimidação."



Evo Morales agiu mal expulsando o embaixador americano (os dois estão juntos na foto acima). Philip Goldberg nunca foi bem visto na Bolívia, em função de seu posto anterior como chefe de missão no Kosovo. A avaliação de La Paz é que ele seria agente de projeto de fragmentação semelhante, separando a Meia Lua do resto da nação. É ir longe demais na analogia regional. Duvido que Washignton tenha qualquer simpatia por uma guerra civil na América do Sul, que certamente atiçaria Chávez e radicalizaria o continente.

A expulsão é novo capítulo na turbulenta história do movimento cocalero com os Estados Unidos, uma inimizade que começou na década de 1980 quando os americanos financiaram violento programa de destruição das plantações de coca. A relação tem lances tragicômicos. Nas eleições de 2002, o então embaixador dos EUA, Manuel Rocha, chamou Morales de traficante e recomendou os bolivanos a votarem em outros candidatos. O resultado foi o crescimento impressionante do apoio a Evo, que terminou a disputa em segundo lugar.

Ele venceu em 2005, claro, e a agenda com os Estados Unidos foi tumultuada, pela questão cocaleira, pela aliança entre Morales e Chávez e pela recusa americana em extraditar o ex-presidente Sanchéz de Lozada, que fugiu para Miami (nem sempre os bandidos escolhem o Rio de Janeiro...) depois de ordenar violenta repressão policial aos protestos contra sua política de exploração do gás natural, com dezenas de mortos. Apesar disso, os EUA não desmantelaram os benefícios econômicos à Bolívia, como as preferências tarifárias e a cooperação técnica em desenvolvimento. A principal iniciativa da área, a ATDPA, deve se encerrar em dezembro. No quadro atual, o que aconterá?

6 comentários:

Anônimo disse...

its good to know about it? where did you get that information?

Anônimo disse...

Concentrate to the things that could give information to the people.

Unknown disse...

Paz e bem!

Acho que estás enganado;
uma guerra civil
seria um ótimo álibi
para uma intervenção
dos EE.UU.A.
em nome da OEA
com fins de "pacificar"
a Bolívia.

Maurício Santoro disse...

Olá, Eugênio.

A OEA se encontra num momento de efervescência política e tem tomado posições contrárias aos EUA (como na crise Equador/Colômbia), que foram contra a eleição do secretário-geral José Miguel Insulza.

Além disso, as Forças Armadas americanas não se encontram em condições de realizar nenhum tipo de intervenção militar adicional às que já executam no Iraque e no Afeganistão. Em particular diante da ofensiva dos Talibãs no último verão, que agravou a situação nesse país.

A decisão de Evo de expulsar o embaixador dos EUA, acompanhada da medida igual na Venezuela, é um gesto mais voltado para identificar a oposição com os Estados Unidos, mas que a meu ver complicará ainda mais a relação dos dois países com Washington.

Patricio Iglesias disse...

Caro Maurício:
Concordo com você em que os EUA näo gostariam de uma guerra na América. De todos modos, penso que a fragmentaçäo da Bolívia näo é de seu desagrado; näo sei se ao nível da Yugoslavia, mas sem dúvidas territórios autónomos que façam bons negócios com eles näo estariam mau. Há que lembrar que entre os latifundistas que apoiam as autonomias há norte-americanos.
Mas, sendo humilde, uma coisa que me ensinou a vida é que na política (e ainda mais em nossos paises) todo é impredecível. Você pensa que eu imaginei a situaçäo argentina do 2001 no 1999? Ainda mais, Quem imaginou, meses antes, a escalada camponeses-governo?
Talvez amanhä os norte-americanos retirem as tropas do Iraque e do Afeganistäo, Rússia abandonhe a Geórgia e todos os funcionários virem honestos. Sonhar é bom, näo é? HAHAHAHAHA
Saludos!

Maurício Santoro disse...

Salve, dom Patricio.

De fato, prever a realidade em nossa América é impossível :-)

Tenho apenas palpites e neste momento o que os Estados Unidos querem é um pouco de tranqüilidade ao sul, já que a oriente as dificuldades se acumulam.

Abraços